Com as férias escolares e muita gente viajando, os primeiros dias do ano são uma época de rarefação da agenda cultural – o que não significa total estagnação. Nesta primeira semana de 2023, diversos espaços em Belo Horizonte oferecem atrações, como peças teatrais, shows, cinema e, principalmente, exposições, para não deixar em estado de inanição quem se alimenta de arte.
Principal equipamento cultural da cidade, o Palácio das Artes abriga, ao longo de todo est1e mês, uma grande mostra, que pode ser visitada de terça-feira à sábado, das 9h30 às 21h, e aos domingos, das 17h às 21h. Trata-se da exposição “A afirmação modernista: a paisagem e o popular na Coleção Banerj”, que reúne 135 obras de diversos artistas brasileiros distribuídas pelas galerias Alberto da Veiga Guignard, Genesco Murta e Arlinda Corrêa Lima.
Realizada em parceria com a Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro, ela traz pinturas, desenhos e gravuras de nomes referenciais, como Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Anita Malfatti, Alfredo Volpi, Lasar Segall, Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Burle Marx e Guignard, entre outros.
Além de celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, a mostra retrata clássicas paisagens da cultura brasileira, da natureza exuberante às festas de rua, o samba, o candomblé, a boemia, dentre diversos ícones do imaginário nacional. O escopo da exposição foi construído a partir do acervo do extinto Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj), que começou a ser formado no início dos anos 1960.
Fotografia
A Fundação Clóvis Salgado também promove outras duas mostras, em distintos espaços externos ao Palácio das Artes. Na CâmeraSete – Casa de Fotografia de Minas Gerais, o público pode conferir a exposição “Retratos de Limercy Forlin”, com aproximadamente 7,5 mil imagens em preto e branco tiradas pelo fotógrafo ao longo de sua carreira em Poços de Caldas (MG).Limercy Forlin (1921-1986) comandou seu estúdio fotográfico na cidade – cuja prefeitura é parceira na montagem da exposição, juntamente com o Instituto Moreira Salles – entre 1958 e 1982. Passaram por suas lentes desde políticos e figuras conhecidas da região até profissionais liberais, operários e imigrantes. A maior parte dos retratos foi tirada para ilustrar documentos da população local, como RG e carteira de trabalho.
Já no Palácio da Liberdade, a atração é a mostra “Uma noite sagrada – Presépios de Minas Gerais”, que segue em cartaz somente até a próxima sexta-feira (6/1). Realizada em parceria com o Centro de Artesanato Mineiro (Ceart) e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sede), ela reúne presépios concebidos por artesãos de cidades do Norte de Minas Gerais, confeccionados com diferentes materiais e suportes.
Cada presépio expressa o simbolismo da fé católica, com suas próprias características, refletindo personagens presentes no cotidiano de cada artista: o pescador, o violeiro, o lavrador, o barqueiro, os bichos, dentre outros. O acervo conta com cerca de 40 peças, elaboradas com exclusividade para o evento. Após o período expositivo, todas as peças estarão disponíveis para venda, que será realizada por meio do Ceart.
Também por ali pertinho, outros três espaços abrigam exposições de artes visuais – o Memorial Vale, o Museu das Minas e do Metal e o CCBB-BH. No primeiro, o público pode conferir quatro diferentes mostras. São elas “Rainhas Negras”, do fotógrafo Márcio Silva, “Mundo vasto Acaba Mundo – A cidade invade a vila ou a vila invade a cidade?”, de Rogério Passos, a coletiva “Para além das margens”, e a coleção de fotografias de Rafael Freire.
Circuito liberdade
Em cartaz somente até o próximo domingo (8/1), “Para além das margens” traz obra de Cao Guimarães, Christian Knepper, Elza Lima, Marcel Gautherot, Maureen Bisilliat, Pierre Verger, Ronney Alano e Walter Firmo, focadas nos sujeitos que habitam o Brasil. Já “Mundo vasto Acaba Mundo” e o trabalho de Rafael Freire focam duas favelas de Belo Horizonte: a vila Acaba Mundo e o Aglomerado da Serra, respectivamente.“Rainhas negras”, por sua vez, conta com imagens que retratam a beleza e a força das mulheres negras, celebrando sua história, ancestralidade, diversidade e contribuindo para sua visibilidade na sociedade. Integrando o projeto Diversidade Periférica, a mostra traz 20 obras fotográficas artísticas e conceituais produzidas por Márcio Silva.
No Museu das Minas e do Metal, segue em cartaz, até o fim deste mês, a mostra “Ponto de Fuga”, de Marcus Paschoalin. Ela conta com uma série de obras produzidas ao longo dos últimos 28 anos de trajetória do artista, representando suas diferentes fases e estilos. A exposição é a primeira mostra individual realizada por Paschoalin em um Museu.
Chagall e Nuk
No CCBB-BH, o público pode conferir duas exposições. Ocupando as salas expositivas do Centro Cultural até o próximo dia 16, a mostra “Marc Chagall: sonho de amor” reúne mais de 180 obras do artista russo que marcou o século 20. Temas como as origens e tradições russas, o amor e o exílio na representação do mundo sagrado, o lirismo e a poesia emergem do conjunto de obras.No próximo fim de semana, sábado e domingo, o CCBB-BH recebe a bailarina Jacqueline Gimenes e convidados para apresentações de dança com a obra “Air foutain”, de Daniel Wurtzel, integrada à mostra “Marc Chagall: sonho de amor”. As performances, sempre às 11h e 18h, trazem novas versões de interação e de interpretação da música e da dança, misturando os movimentos dos bailarinos com o movimento dos tecidos que flutuam pelo pátio.
A outra mostra em cartaz no Centro Cultural é “A forma não cumpre a função”, que reúne esculturas em madeira de Francisco Nuk. Ele desafia as formas convencionais de móveis, como cristaleiras e cômodas, com curvas inusitadas, conferindo a esse mobiliário ares de surrealismo. O trabalho pode ser visto nas galerias do térreo.
Artes cênicas
Além das artes visuais, o CCBB-BH abre espaço, também, para as artes cênicas, a partir da próxima quinta-feira (5/1), quando entram em cartaz, pela 48º Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de Belo Horizonte, as peças “O sonho das pérolas”, no Teatro 1, e “Citações”, no Teatro 2, com apresentações às 17h e 19h, respectivamente.Com direção de Leonardo Fernandes e texto de Sérgio Roveri, a primeira busca mostrar o valor dos sonhos e a importância de se acreditar neles, através de uma atmosfera de fantasia e de aventura. Já “Citações” é um solo da atriz Bruna Chiaradia, apresentado como um ritual de despedida, na qual ela reencena momentos difíceis e prazerosos que viveu em sua profissão e relata fatos de bastidores que o público geralmente não conhece.
A 48º Campanha de Popularização do Teatro e da Dança também vai ocupar os palcos do Cine Theatro Brasil Vallourec. Por lá serão apresentados o solo “Vida de telemarketing”, de Fernando Cunha, na sexta (6/1) e no sábado (7/1), e a montagem “Suspeitos – Um crime improvisado”, a partir de domingo (8/1) – ambos no Teatro de Câmara –, além da veterana peça “Acredite, um espírito baixou em mim”, a partir de sexta-feira, no Grande Teatro.
Música
A música também pede passagem nesta primeira semana do ano. A casa de shows A Autêntica abre as portas, na sexta-feira, para a festa da produtora Intactoz, com shows do rapper Zemaru convidando Sidoka, Chris MC, MC Anjim, MC Laranjinha e Dogor; de Dogdu, com BProblemx e Daan MC; e discotecagem dos DJs/produtores Kingdom e 1berto.No mesmo local, no sábado (7/1), é a vez de o gaúcho Esteban Tavares ocupar o palco com o show da turnê “Adiós, Esteban!”. Conhecido por sua trajetória na banda Fresno, o cantor, compositor e instrumentista vai mostrar, na íntegra, o álbum que dá nome à turnê, que marcou sua estreia em carreira solo e completa 10 anos de lançamento. Quem também se apresenta na mesma noite, fazendo o show de abertura, é a banda Devise
Na casa Matriz, o DJ Robinho, que faz história na cena da música eletrônica de Belo Horizonte desde a década de 1990, marca presença na tradicional festa “Get the balance high!”, no sábado (7/1), celebrando a cultura dos anos 1980, com uma discotecagem que vai do pop ao pós punk e o gótico.
Cinema
Existe, ainda, a opção do cinema. O hit da temporada é “Avatar: o caminho da água”, de James Cameron. O arrasa-quarteirão, orçado em U$ 250 milhões – o que faz dele um dos filmes mais caros da história – estreou, em meados de dezembro, ocupando, somente na Grande Belo Horizonte, 55 salas de cinema.Com R$ 14,82 milhões arrecadados entre a última quinta-feira (29) e o domingo, o longa (e põe longa nisso; são 3h12 de projeção) manteve com folga, pela terceira semana seguida, a liderança da bilheteria nacional. “Avatar: o caminho da água” também ocupa o topo do pódio na bilheteria mundial, já tendo ultrapassado U$ 1 bilhão em arrecadação.
Voltando à seara das artes visuais, outros espaços que abrigam exposições nesta semana são o BDMG Cultural (“Bordados do céu e da terra”, com trabalhos de artesãs do Vale do Jequitinhonha) e o Centro Cultural UFMG (“Memoriam”, coletiva dos formandos em Artes Visuais da Escola de Belas Artes).
O público também pode fruir as mostras em cartaz na DotArt Galeria (“Fluido”, de Heleno Bernardi, e “Pierre Verger”, com fotografias do famoso artista franco-brasileiro), no Museu de Artes e Ofícios e no Viaduto das Artes (“Botar fé”, com o resultado do processo de pesquisa dos artistas contemplados na oitava edição do Bolsa Pampulha, dividida nos dois espaços).