Com as duas últimas edições comprometidas pela pandemia, a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança chega em 2023 com a missão de reaquecer o panorama das artes cênicas nesta época do ano, mantendo viva uma história de quase 50 anos.
A partir desta quinta-feira (5/1), um total de 112 espetáculos ocupam diversos teatros e centros culturais da cidade, numa maratona que se estende até 12 de fevereiro.
A programação da 48ª Campanha traz cinco espetáculos de dança estreantes – incluindo da Mimulus Cia. de Dança e de Dudude Herrmann – e outros três que já estiveram em edições passadas.
Na seara do teatro infantil, são oito as estreias e mais 18 reapresentações, de montagens como “Pinóquio”, “Os Saltimbancos” (em duas versões distintas) e “Aquarela – Um show cênico”, do grupo Maria Cutia, entre outras.
Na seara do teatro infantil, são oito as estreias e mais 18 reapresentações, de montagens como “Pinóquio”, “Os Saltimbancos” (em duas versões distintas) e “Aquarela – Um show cênico”, do grupo Maria Cutia, entre outras.
No âmbito do teatro adulto, peças que integram a Campanha pela primeira vez, como “E ainda assim se levantar”, da Cia. Luna Lunera; “Bolo republicano”, de Gabriela Luque; e “Desmonte”, do Grupo Girino, dividem a atenção com velhas conhecidas do público, como “Acredite, um espírito baixou em mim”, com Ílvio Amaral e Maurício Canguçu, e “Defunto bom é defunto morto”, com Ricardo Batista.
Integrada à programação na 47ª edição, a comédia stand up está mantida neste ano, com a presença de nomes como Joel de Carvalho, Caíque Dumont, João Basílio e Thiago Souza, entre outros, se apresentando no Espaço Alternativo do Shopping Cidade. “É algo que chegou para ficar. É uma nova linguagem cênica que encontrou seu lugar e reforça a programação”, destaca Dilson Mayron, coordenador-geral da Campanha.
Ele confia em que essa 48ª edição transcorra sem sobressaltos. Em 2021, o Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc) realizou uma pequena edição on-line da campanha, com apenas oito espetáculos, no mês de setembro. Retomada no formato presencial em 2022, ela ficou suspensa por uma semana. O motivo foi um imbróglio envolvendo a cobrança do cartão de vacinação contra a COVID-19 em espaços culturais.
Processo lento
O período de quase dois anos em que os teatros ficaram fechados por causa da pandemia e o percurso errático da Campanha ao longo das últimas edições fragilizaram toda a cadeia produtiva das artes cênicas em Belo Horizonte, segundo Mayron. Ele considera que a retomada será um processo lento, e que a Campanha funciona como uma ferramenta para impulsionar esse movimento.“Não tem como voltar às atividades normais rapidamente. Em 2022 começamos a caminhar, e hoje seguimos caminhando, a passos lentos, tentando descobrir novas formas de levar o público ao teatro. O Sinparc está investindo em redes sociais este ano, para ver se atinge um público mais amplo, com anúncios no Instagram, por exemplo. É um caminhar lento, mas constante”, aponta.
A classe artística, de modo geral, está confiante no êxito desta 48ª edição da Campanha. Eduardo Moreira, do Grupo Galpão, que cumpre temporada de 9 a 12 de fevereiro no Cine Horto, com o espetáculo “Nós”, dirigido por Márcio Abreu, diz que a presença na programação fecha as comemorações pelos 40 anos de atividade da trupe.
“A Campanha, para nós, é algo da maior importância, e fazer parte de um evento tão marcante no cenário teatral de Belo Horizonte é uma honra para o Galpão. Estarmos integrados à classe teatral da cidade é muito relevante. Estamos sempre conectados com a importância do movimento teatral, no sentido de que ele seja permanentemente estimulado”, destaca.
Uma das integrantes da Zula Cia. de Teatro, que faz única apresentação do espetáculo “Banho de sol” no dia 2 de fevereiro, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas Tênis Clube, a atriz Kelly Crifer se diz muito contente em fazer parte da grade de espetáculos da 48ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, sobretudo “em um ano de renovação”.
“As pessoas estão sedentas por arte, por encontros, e ‘Banho de sol’ é um encontro muito potente, é um abrir a roda com a força do teatro, olhar no olho de todos que passam por você e ocupar espaços”, diz. Ela observa que o teatro proporciona tanto o olhar para dentro, no sentido da reflexão e da expansão de ideias, quanto o distanciamento e o exercício do senso crítico.
“É algo que nos permite questionar macro e micropolíticas, os comportamentos e atitudes através do jogo, do lúdico. Iniciar este ano fazendo teatro, dialogando em cena com a plateia reunida, é muito bom”, diz, ressaltando sua confiança numa temporada de êxito para as artes cênicas na cidade. “Espero casa cheia, abrir a roda, respirar junto, latejar questões, fermentar a troca, renovar os olhares”, acrescenta.
O ator, produtor e diretor Thiago Comédia, que na 47ª edição cogitou desembarcar da Campanha por causa do impasse que levou à suspensão das apresentações por uma semana, acredita que, neste ano, a temporada será bem-sucedida.
Ele chega a esta 48º edição marcando presença em dois espetáculos: no monólogo “Como se livrar das dívidas em 12 hilárias prestações”, que estreia no dia 12 janeiro, no Teatro do Pátio Savassi, e posteriormente cumpre outras três temporadas em diferentes espaços; e dividindo o palco com Kayete em “Deboche – A comédia”, que também será apresentada no Teatro do Pátio Savassi, a partir do próximo dia 10, e no Teatro do Colégio Pio XII, a partir do dia 20.
Volta ao trabalho
“A minha expectativa é a melhor possível. Nada como iniciar o ano nos palcos, levando sorrisos para as pessoas. Acredito que o público esteja com saudades do teatro, de onde ficou afastado por causa da pandemia. Estou ansioso com esse reencontro e muito animado em poder voltar a fazer meu trabalho”, diz.Sobre “Deboche – A comédia”, que estreia na Campanha, ele diz que está sendo muito prazeroso trabalhar com Kayete. “Juntos em cena, apresentamos personagens cômicos em situações engraçadas, no formato de diálogos, levando muito humor, improviso e interação com o público”, diz.
Membro da diretoria do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado de Minas Gerais (Sated), Magdalena Rodrigues, autora e diretora do espetáculo “Pouso forçado: uma história de amor” – que a partir da abertura da Campanha, nesta quinta-feira, quando entra em cartaz no Teatro Marília, cumpre temporada em cinco diferentes espaços da cidade –, sublinha a importância da adesão das pessoas.
“Os artistas da cena teatral de Belo Horizonte não vivem de dinheiro público, ao contrário do que costumam dizer por aí; vivem é dos ingressos que conseguem vender. É o produto que a gente tem, é disso que vivemos. Espero que o público nos prestigie nessa Campanha e que tenha isso em mente, que precisamos dele para seguir em frente”, salienta.
Presidente do Sinparc, Rômulo Duque se diz muito satisfeito em poder realizar uma edição da Campanha em um cenário epidemiológico que possibilita uma maior tranquilidade, retomando com mais segurança um lugar no calendário cultural de Belo Horizonte que outrora já ocupou com largueza.
“Para nós é uma honra saber que nesses 48 anos de realização do projeto conseguimos conquistar os corações dos belo-horizontinos e transformar a Campanha num dos principais eventos da cidade. Nosso objetivo é seguir proporcionando ao público a oportunidade de ter acesso à cultura, de forma democrática e com ingressos a preços populares”.
Público fiel
Dilson Mayron acredita que essa edição será especialmente significativa. “A Campanha é um dos principais eventos da cidade. Muitos belo-horizontinos a aguardam como um compromisso do calendário em todo início de ano. O evento reúne um público fiel habituado a acompanhar todas as edições, além de sempre conquistar novos espectadores”, pontua.Além das apresentações dos espetáculos nos teatros, a 48º edição da Campanha vai promover diversas outras ações, que têm como objetivo ampliar o raio de seu alcance. Ribeirão das Neves, Betim e Contagem também terão programação, com atrações gratuitas apresentadas em espaços públicos.
Entre os dias 10 de janeiro e 10 de fevereiro, será realizado, na Funarte, o 3º Fórum Formação em Tecnologias da Cena, com o intuito de se pensar, propor e discutir a formação nas áreas associadas aos projetos e linguagens artísticas da montagem teatral, com foco em sonoplastia, cenografia, figurino e iluminação.
Trata-se de uma parceria do Sinparc com a Escola de Tecnologia da Cena do Cefart, da Fundação Clóvis Salgado, e com o programa institucional Direitos à Produção e ao Acesso à Arte e à Cultural, da Pró-Reitoria de Extensão da UEMG.
Outra ação conexa são as mesas redondas reunindo profissionais do setor selecionados para falar a respeito de seus processos de trabalho e de criação, suas formações e suas experiências no mercado. Também serão contempladas as áreas da iluminação, da cenografia, da sonoplastia e do figurino, além de um bate-papo sobre mercado e produtores.
48ª CAMPANHA DE POPULARIZAÇÃO DO TEATRO E DA DANÇA
A partir desta quinta-feira (5/1) até o dia 12 de fevereiro, em diversos espaços da cidade. A programação completa pode ser conferida no site da Campanha. Os valores dos ingressos vendidos nos postos da Sinparc ou pelo site variam de R$ 15 a R$ 20; nas bilheterias dos teatros, os valores são diferentes, determinados pela direção de cada espaço. Postos de venda no Shopping Cidade (Estacionamento G5), na Rua Tupis, 337, Centro, de segunda a sábado, das 10h às 19h, e domingos, das 10h às 18h; e no Shopping Pátio Savassi (Piso L3), Av. do Contorno, 6.061, Funcionários, de segunda a sábado, das 12h às 19h, e domingos, das 14h às 18h.