Oscar Niemeyer considerava a arquitetura um ambiente propício para a invenção, uma forma de arte e um meio de impactar as pessoas. Com essa mentalidade, desenvolveu estilo próprio, no qual eliminou o tradicional concreto armado e deu lugar às formas onduladas que remetem ao relevo brasileiro.
O amigo e colega francês Le Corbusier (1887-1965) chegou a afirmar em certa ocasião que “Oscar tem as montanhas do Rio dentro dos olhos”. Contudo, mais do que as serras cariocas, Niemeyer (1907-2012) tinha como inspiração o curso sinuoso dos rios, as curvas dos corpos das mulheres que admirava e, sobretudo, as igrejas de Minas Gerais.
“Procurei uma arquitetura que fosse um pouco mais leve e que lembrasse um pouco o país, as igrejas de Minas Gerais. A arquitetura que eu faço nasceu na Pampulha. Brasília é uma continuação da Pampulha”, afirmou o arquiteto no documentário "Niemeyer – O traço e o tempo" (2006), de Roberto Stefanelli.
Detalhes das obras que marcam o início do legado que Niemeyer sacramentou em Brasília foram registrados pelo fotógrafo mineiro Jomar Bragança e estão expostos na mostra “Niemeyer”, no Parque do Palácio – que, inclusive, foi projetado por Niemeyer.
Ao todo, são nove registros que abordam o conjunto arquitetônico da Pampulha (Casa do Baile, Museu de Arte da Pampulha, Iate Tênis Clube e Igreja São Francisco de Assis), a Cidade Administrativa, a Escola Estadual Governador Milton Campos (popularmente conhecida como Estadual Central), a Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais e o Edifício Niemeyer, na Praça da Liberdade.
'A própria presença das obras dele na cidade, principalmente o complexo da Pampulha, já é um chamado para fotografar'
Jomar Bragança, fotógrafo
Exposição intimista
“Como (o Parque do Palácio) é um espaço pequeno, optamos por fazer uma exposição com fotos menores que criem uma relação mais intimista na visita. Não estamos expondo aquelas fotos grandes que você consegue ver a distância”, explica Bragança.
A proposta do fotógrafo é fazer com que os visitantes se aproximem dos registros para que possam experimentar uma espécie de fruição com os projetos arquitetônicos do arquiteto. Não fosse o tamanho reduzido, os registros selecionados de “Niemeyer” já pediriam um olhar mais cuidadoso dos visitantes. Cada foto foi feita em escala cinza, tendo como foco ângulos que muitas vezes fogem da percepção de quem não está habituado com a arquitetura. Em alguns registros, há até mesmo certa aura melancólica.
Tudo isso, no entanto, é proposital. “Para essa exposição, procurei criar visualmente uma narrativa que fugisse de uma visão mais óbvia a respeito das obras de Niemeyer”, comenta Bragança.
“A procura desses ângulos, com essa luz que, em alguns momentos, é até mais dramática, é uma opção, um exercício de procurar alguma leitura daquele objeto arquitetônico que pudesse – não intencionalmente – trazer uma forma diferente de olhar. Esse é o propósito. É um exercício que eu me propus a fazer para desenvolver tanto o meu olhar de fotógrafo quanto o de arquiteto”, emenda, lembrando sua formação em arquitetura.
Arquitetura e urbanismo
Natural de Itabira, ele chegou a Belo Horizonte ainda adolescente para cursar o ensino médio. Com a etapa concluída, decidiu ficar na cidade para cursar engenharia civil na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas acabou se frustrando com o curso. A Escola de Belas Artes, com suas disciplinas, alunos e professores, parecia mais interessante.
Assim, nas matérias eletivas da graduação, decidiu se matricular em disciplinas relacionadas à fotografia. Com a câmera, fazia registros de construções e obras arquitetônicas, o que, de certo modo, acabou influenciando na escolha de Bragança em migrar da engenharia para a arquitetura e urbanismo.
“Minha atuação como arquiteto, na verdade, não aconteceu”, brinca o fotógrafo. “Contudo, acho que a decisão de fotografar produções arquitetônicas é quase uma consequência disso.”
Logo, fotografar as obras de Niemeyer foi um caminho natural para Bragança. “A própria presença das obras dele na cidade, principalmente o complexo da Pampulha, já é um chamado para fotografar”, afirma.
Bragança começou a planejar “Niemeyer” há algumas décadas, mas sem pretensões de um dia realizá-la. Entretanto, em uma conversa com João Grilo, diretor da CasaCor Minas Gerais, e responsável pela administração do Parque do Palácio, ambos chegaram à conclusão de que seria oportuna a exposição de um número pequeno de fotos dos projetos de Niemeyer em ambiente que foi concebido pelo arquiteto carioca.
“É uma construção que vem acontecendo. Então, há imagens que são revisitadas, vistas de outra forma, refeitas. É um trabalho que não surgiu de um projeto curatorial. São observações e anotações fotográficas que, ao longo desse período, eu venho fazendo”, diz.
Conjunto JK
Em Belo Horizonte, Niemeyer foi responsável pelos projetos – além do conjunto arquitetônico da Pampulha, da Cidade Administrativa, do Estadual Central e dos prédios da Biblioteca Pública e do Edifício que leva o nome do arquiteto – do Museu Casa Kubitschek, na região da Pampulha; do Conjunto JK e do edifício do antigo Banco Mineiro da Produção, no Centro da cidade; da Catedral Cristo Rei, na Região Norte; e por mais dois projetos de casas unifamiliares de pessoas que contrataram o arquiteto carioca: a residência de João Lima de Pádua, no Bairro Santo Agostinho; e a residência Alberto Dalva Simão, no Bairro São Luiz.
Ele também desenvolveu os projetos da casa do ex-presidente do Brasil Pedro Aleixo (1901-1975), do Parque de Exposição da Gameleira e de um grupo escolar no Bairro São Francisco. Todos demolidos.
Ainda há uma série de projetos para a capital mineira que nunca chegaram a sair do papel, como a Escola Profissional de Belo Horizonte, o Hotel da Pampulha, o Museu do Homem, o Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, a Associação dos Cavaleiros da Cultura, entre outros.
“A exposição, no entanto, não é uma documentação do trabalho do Niemeyer”, avisa Bragança. “Ali é um recorte de momentos e olhares desse exercício de arquitetura”, conclui o fotógrafo.
“NIEMEYER”
Exposição fotográfica de Jomar Bragança. No Palácio dos Mangabeiras (Rua Djalma Guimarães, 161, Portaria 2, Mangabeiras). De quarta a sexta-feira, das 10h às 18h; sábados e domingos, das 9h às 18h. Ingressos à venda no local por R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Nas quartas-feiras, entrada franca mediante retirada de ingresso no site Sympla
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