"Eu estava com o Manifesto no Maracanãzinho quando 'Margarida' venceu o FIC. Até brincava dizendo: esta aí, a gente tem de pedir desculpas por ter ganhado de 'Travessia', que ficou em segundo lugar"
Fernando Leporace, músico
Fernando Leporace, de 75 anos, fez de tudo um pouco na MPB. Participante do Grupo Manifesto, ele “ajudou” a música “Margarida” derrotar “Travessia”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, no Festival Internacional da Canção, em 1967. Tempos depois, gravaria o baixo em “Norwegian Wood”, na versão de Milton para o clássico dos Beatles. Compôs a melodia de “Embriagador”, que deu a Leny Andrade o prêmio de melhor cantora no festival MPB Shell em 1980. Em 1973, participou do disco cult de Toninho Horta, Novelli, Beto Guedes e Danilo Caymmi.
O carioca não chegou a fazer parte do Clube da Esquina, mas quase... Com tamanho currículo, ele lança agora o disco “Fernando Leporace”, com 11 faixas – 10 dele e a outra do pai, Sebastião. Fernando, aliás, faz parte do respeitado clã musical no qual surgiram também as cantoras Marianna e Gracinha Leporace, essa última mulher de Sérgio Mendes.
“O novo álbum traz músicas que eu vinha juntando. Tem coisas que fiz já há algum tempo e outras mais recentes. Há parcerias com Joyce Moreno, Abel Silva, Nelson Wellington, Alberto Chimelli e meu filho Antonio Leporace”, conta Fernando.
Samba e bolero
“Nem telefonei” é o nome do samba composto pelo patriarca. “Tarde dos sabiás”, com letra de Abel Silva, havia sido lançada no disco de Fernando com Maurício Gueiros, de 1986. “Regravei agora, com piano e voz. O resto das canções é inédita”, diz Fernando. “A primeira faixa é um bolero, 'Acontece com quem ama', outra parceria com Abel.”
Na verdade, o bolero está acompanhado da nova versão de “Embriagador”, que, além de premiar Leny Andrade no MPB Shell, deu o troféu de melhor arranjo para Dori Caymmi.
“O novo álbum está nas plataformas e espero fazê-lo também no formato físico. Vou arrecadar algum dinheiro com parte da venda do disco virtual para mandar fazer o CD”, diz.
O álbum traz a participação de Délcio Carvalho, destaca Leporace, citando também “Foi fantasia”, letra dele para a melodia composta pelo pianista Alberto Chimelli. “Um misto de temas inéditos” – é assim que Fernando define seu novo projeto.
Pianista, compositor e arranjador, o carioca participou de discos de muita gente como contrabaixista. “Álbuns solos meus não foram tantos”, comenta.
A carreira dele começou nos anos 1960 com o Grupo Manifesto, com o qual gravou dois elepês. A banda reunia, entre outros, os jovens Gracinha Leporace, Gutemberg Guarabyra, Lucina, Guto Graça Melo e Mariozinho Rocha, que depois se tornaria diretor musical da TV Globo.
“Eu estava com o Manifesto no Maracanãzinho quando ‘Margarida’ venceu o FIC. Até brincava dizendo: esta aí, a gente tem de pedir desculpas por ter ganhado de ‘Travessia’, que ficou em segundo lugar. Mas o povo gostou muito da música e ela acabou vencendo”, diz. A terceira colocada foi “Carolina”, de Chico Buarque.
Leporace integrou o Manifesto de 1967 até meados de 1968, quando o grupo acabou. Em 1969, foi para o México com a banda Vox Populi. “Foi um dos meus primeiros trabalhos como baixista”, relembra.
Quando a banda chegou ao fim, Leporace passou a morar em Los Angeles, onde se apresentava com Chico Batera – instrumentista respeitado, atualmente percussionista de Chico Buarque na turnê “Que tal um samba?”.
No Manifesto, Fernando compunha ao violão e tocava piano. “Nunca havia tocado baixo profissionalmente. Quando voltei de Los Angeles, comecei a trabalhar bastante como baixista. O primeiro disco que fiz tocando o instrumento foi o 'Passado, presente e futuro', de Sá, Rodrix e Guarabyra, lançado em 1972.”
Foi Gutemberg Guarabyra – aliás, o autor da “Margarida” que derrotou “Travessia” – quem convidou Leporace para participar do álbum do trio pioneiro do rock rural.
“Depois, comecei a trabalhar com Edu Lobo, Nana Caymmi, Gal Costa, Joyce Moreno, Caetano Veloso, Fátima Guedes e Ivan Lins, entre tantos outros. O Edu até gravou uma instrumental minha chamada ‘Camaleão’”, diz ele, orgulhoso. Esta faixa, aliás, batizou o disco de Edu lançado em 1978.
Amigo dos mineiros
Na década de 1970, Fernando se enturmou com os mineiros do Clube da Esquina, sobretudo Nelson Angelo e Toninho Horta, que viviam no Rio de Janeiro.
“Chegamos até a formar um grupo. Não um grupo fixo, a gente se encontrava para tocar. Resolvemos fazer apresentações ao vivo – éramos eu, Toninho Horta, Nelson Angelo, Danilo Caymmi e o baterista Rubinho, de BH.”
A partir dali, Fernando fez participações em discos de Milton Nascimento, entre outros “clubistas”. “Às vezes, eu aparecia nas gravações da turma do Clube e acabava gravando algumas coisas. Há uma gravação do Toninho Horta de ‘Manuel, o audaz’ só com ele na guitarra. Fiz vocal lá, algo improvisado.”
No disco lançado por Beto Guedes, Toninho Horta, Novelli e Danilo Caymmi em 1973, pela Odeon, Leporace só não tocou nas músicas de Beto.
“Quem produziu foi o Nelson Angelo. Era legal, porque a turma se encontrava nas casas para tocar. Conheci muita coisa do Clube que ainda estava sendo feita, inclusive pelo próprio Bituca”, revela Fernando Leporace.
“FERNANDO LEPORACE”
Álbum de Fernando Leporace
11 faixas
Zênitha
Disponível nas plataformas digitais
REPERTÓRIO
» “ACONTECE COM QUEM AMA”
De Fernando Leporace e Abel Silva
» “EMBRIAGADOR”
De Fernando Leporace e
Nelson Wellington
» “EN LA CALLE”
De Antonio Leporace e Fernando Leporace
» “WANTING MORE”
De Fernando Leporace e Tracy Mann
» “TARDE DOS SABIÁS”
Fernando Leporace e Abel Silva
» “SEUS OLHOS”
De Fernando Leporace e Joyce Moreno
» “DEIXA O AMOR SE DAR”
De Fernando Leporace e Délcio Carvalho
» “FOI FANTASIA”
De Alberto Chimelli e Fernando Leporace
» “NEM TELEFONEI”
De Sebastião Leporace
» “SIN PENA”
De Fernando Leporace
» “CACAREJO”
De Fernando Leporace
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