Homem com máscara se deita na rampa do Palácio do Planalto, durante invasão de radicais bolsonaristas

O Palácio do Planalto foi invadido e depredado no domingo por radicais bolsonaristas

Sergio Lima / AFP


Os atos terroristas praticados em Brasília no último domingo (8/1) por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro tiveram grande repercussão entre a classe artística e intelectuais. Desde a invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF, instituições e artistas de diversas áreas têm manifestado, pelas redes sociais, repúdio aos ataques.

Na noite do próprio domingo, a UFMG, representada pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida e pelo vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, divulgou nota dirigida à comunidade acadêmica em que diz repudiar com veemência o ataque de vândalos terroristas às sedes dos três poderes da República, em Brasília.

“Os terroristas e seus financiadores, que atentam contra a nação brasileira e a República, devem ser urgentemente identificados, integralmente responsabilizados e punidos com o rigor da lei. É inconcebível e inaceitável que a nossa democracia, que vem sendo construída com grande empenho nas últimas décadas por cidadãos e cidadãs brasileiras, seja alvo de um atentado tão torpe”, diz o texto.
Ontem, foi a vez de a Academia Mineira de Letras se manifestar, por meio de seu presidente, Rogério Faria Tavares. “Fiel à sua história em favor dos valores civilizatórios, a Academia Mineira de Letras manifesta sua mais veemente repulsa aos atos terroristas praticados em Brasília contra o Estado democrático de direito, na firme expectativa de que seus instigadores, autores e financiadores sejam punidos com os rigores da Lei”, diz o comunicado.

“Saliento o horror de ver patrimônio histórico da nossa pátria, patrimônio mundial tombado, peças que contam a história do país, vandalizados por atos de destruição. Diversos vasos, peças e elementos artísticos destruídos. Liberdade pressupõe respeito”, escreveu o secretário estadual de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira.

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, anunciou ontem o início dos trabalhos, junto aos técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para contabilizar os prejuízos e começar o processo de restauração do que for possível.

“O patrimônio histórico material e imaterial do Brasil foi barbaramente atacado e em parte destruído neste dia 8 de janeiro, em Brasília, como é de amplo conhecimento público”, escreveu, abrindo uma sequência de textos no Twitter.
Ela afirmou, ainda, que atos terroristas não serão tolerados e que haverá punição aos envolvidos. “O mundo assiste, estarrecido, à violência do terrorismo de extrema-direita contra o Estado democrático brasileiro. A dilapidação do patrimônio público e da consciência livre do nosso povo não será tolerada. Os culpados serão identificados e rigorosamente punidos na forma da lei”, concluiu.

Alvorada

Representantes da cena artística de Belo Horizonte expressaram, por meio das redes sociais, sua indignação com a barbárie instaurada na capital federal, no domingo. “Depois desse dia triste em nossa história, esperamos uma alvorada mais bonita, logo que possível”, escreveu a cantora Fernanda Takai em seu Instagram.

Na mesma rede, o rapper Flávio Renegado inicia um texto lembrando que durante a adolescência assistiu aos amigos e parentes sofrendo duramente com as ações policiais nas comunidades economicamente pobres, e dizendo que dói muito ver como os privilégios no Brasil “têm nome, cor e CEP, e como os ‘patriotas’ esfregaram isso na cara do mundo”.

Janelas quebradas no Supremo Tribunal Federal

As marcas do ataque ao Supremo Tribunal Federal

Carl DE SOUZA / AFP


“Espero que a democracia não se curve e que as devidas punições alcancem os responsáveis, para que nossa população possa ver que a justiça não é feita somente para o encarceramento em massa de pretos e pobres. Sem anistia”, conclui.

O rapper Roger Deff também escancarou sua indignação no Facebook: “Tenho evitado fazer qualquer menção ao (felizmente) ex-ocupante da cadeira presidencial, para não contribuir para a relevância de alguém que é medíocre, reflete e inspira um jeito medíocre, pequeno, ressentido, atrasado de ser e estar no mundo. Mas é preciso dizer: o bolsonarismo é uma doença e sempre foi destrutivo; primeiro no discurso, e, cada vez mais, nos atos”.


Capitólio à brasileira

O cantor e compositor Makely Ka escreveu, no próprio domingo, sobre a “invasão do Capitólio à brasileira”, falando da necessidade de se decretar intervenção no Distrito Federal, exonerar o secretário de Segurança Pública e afastar o governador. “A leniência da polícia é inaceitável”, postou o músico.

Em âmbito nacional, também foram muitas as manifestações de repúdio às ações golpistas em Brasília por parte de artistas e personalidades em geral. Em seu perfil no Instagram, a cantora Mônica Salmaso acusou o crime, a ignorância e a “doença coletiva” dos bandidos que arquitetaram, alimentaram e financiaram os ataques.

“E a horda, o exército de surtados enganados e insuflados, agora também criminosos. Tudo deixando mais claro: ignorância, destruição e covardia – o único e verdadeiro lema do governo Bolsonaro do início ao fim. Sem anistia”, escreveu.

Zélia Duncan também não hesitou em responsabilizar diretamente o ex-presidente pelo ocorrido. “Bolsonaro incitou tortura, ditadura, desconfiança sobre instituições e liberou mais armas. Ele é o maior culpado do que estamos vivendo. Bolsonaro abriu esse alçapão e botou a escada. Os terroristas que ele alimentou vieram e ele está longe, provavelmente rindo do Brasil”, escreveu a cantora.

Disney

Esse foi um ponto também enfatizado pelo apresentador Danilo Gentili: “Enquanto isso, o mito está na Disney curtindo adoidado. Conseguiram a invasão ao Capitólio. Agora é aguardar todo mundo preso, igual na invasão ao Capitólio”. “Depois do que aconteceu hoje, se voltar ao Brasil, Bolsonaro precisa ser preso ainda na pista do aeroporto”, escreveu o humorista Antonio Tabet no domingo.

No dia dos ataques em Brasília, a atriz Dadá Coelho se mostrou abalada em suas redes sociais. “É inadmissível. Revoltante. Inacreditável. Vontade de chorar. Não sei como vamos conseguir dormir esta noite. É de uma violência indescritível”, escreveu.

A apresentadora Fátima Bernardes disse que a situação é “revoltante” e pediu “punição exemplar” para os envolvidos. “Que revoltante esses ataques terroristas em Brasília. A punição exemplar é fundamental para o restabelecimento da ordem. Esse número de presos ainda é muito pequeno. E o mais importante: quem financiou esses atos?. Todos que repudiam esses ataques precisam se manifestar. Inaceitável”, escreveu.

Prints

O influenciador e produtor de conteúdo Felipe Neto seguiu na mesma toada: “Não há outra solução para terroristas. É cadeia. Guardem o máximo de prints que vocês puderem que mostrem o rosto dos envolvidos nesse ato terrorista no Congresso”. Para a jornalista Bárbara Gancia, “autoridade que defender o ato terrorista de 8 de janeiro publicamente deve ser convocada imediatamente para depor perante o juiz”.

A também jornalista Miriam Leitão escreveu no Twitter, se dirigindo ao ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres, oficialmente exonerado ontem. “Vandalismo, golpismo, invasão do Congresso e tudo o que o secretário @andersongtorres diz é que são ‘cenas lamentáveis’ e, de longe, viajando. Tem que responder pelo que está acontecendo”, cobrou.

Filha de Glória Pires, Cleo escreveu no Twitter: “A gente quer paz, amor e respeito, mas recebe guerra e destruição da parte de pessoas que não aceitam o presidente eleito, pessoas essas que estão tentando um golpe de Estado. Terrorismo, é isso que está acontecendo em Brasília”.

Zezé Polessa publicou no Instagram uma foto do noticiário na TV e escreveu: “Terrorismo, não! Golpistas não passarão. Atos contra a democracia não passarão”. Já Leandra Leal considerou “uma tragédia” a destruição do patrimônio, da arte e da memória, aludindo ao acervo que foi vandalizado. “Os culpados e responsáveis devem ser punidos exemplarmente. Nada disso pode ser esquecido ou ficar impune. Sem anistia”, escreveu.

O ator e diretor Lázaro Ramos postou em sua conta no Twitter a mensagem: “Terroristas, vândalos, extremistas, golpistas. Tudo, menos patriotas”.

O escritor Lira Neto citou o modernista Oswald de Andrade: “'Há um momento em que a burguesia abandona a velha máscara liberal. Declara-se cansada de carregar nos ombros ideais de justiça da humanidade, conquistas da civilização e outras besteiras! Organiza-se como classe. Policialmente'. Oswald de Andrade, profético, em 'O rei da vela'”.

O humorista Marcelo Adnet escreveu: “No fim das contas, o bolsonarismo é sobre isto: defecar no Portinari, esfaquear Di Cavalcanti, rezar pra pneu, pedir ajuda a ETs, bater em jornalista, oferecer cloroquina pra ema, boicotar vacinação e idolatrar torturador. Tudo isso, claro, em nome de Deus”.