Em seu novo livro, o escritor norte-americano Paul Auster analisa a violência provocada pelas armas de fogo nos Estados Unidos, que a cada ano provoca a morte de 40 mil pessoas.

“Bloodbath Nation” retrata como essa situação afeta a vida de milhões de cidadãos diariamente, mas sem apresentar soluções.





O ensaio do romancista, lançado na terça-feira (10/1), passa da esfera pessoal para o cenário geral ao longo de 100 páginas. Além disso, traz fotografias de locais que foram palco de ataques nos Estados Unidos.

Segredo de família

Uma das explicações para o trabalho, publicado em uma coletânea de ciência política, aparece logo nas primeiras páginas: o segredo de família que o escritor só descobriu na adolescência.

“Em 23 de janeiro de 1919 (...) minha avó atirou em meu avô e o matou”, ele revela no livro. Na ocasião, o pai de Auster tinha apenas 6 anos e seu tio, que presenciou o assassinato, 9.

A avó de Auster foi julgada no estado de Wisconsin e absolvida por “demência temporária”. Depois, estabeleceu-se em Nova Jersey com os filhos.





“Uma arma provocou isso; não só os filhos ficaram sem pai, mas viveram sabendo que sua própria mãe o matou”, escreveu Auster.

O autor retrata a situação do país que conta com mais armas (400 milhões) do que habitantes (338 milhões). Metade das 40 mil pessoas que morrem anualmente vítimas das armas de fogo se suicidam.

“Nos Estados Unidos, balas matam centenas de pessoas todos os dias, devastando famílias, amigos e comunidades inteiras”, afirma o escritor.
 

Mercearia kosher em Jersey City, palco de tiroteio há três anos

(foto: Spencer Ostrander/reprodução)
 

Retratos da violência

O livro conta com dezenas de imagens impactantes em preto e branco do fotógrafo norte-americano Spencer Ostrander. Ele capturou cenários de ataques a tiros, como a boate LGBTQIA+ Pulse, em Orlando, onde 50 pessoas perderam a vida em 2016.

Alguns desses locais são supermercados, igrejas, boates, estacionamentos e rodovias, todos em estado de desolação absoluta.

“Escolhi  me concentrar em locais de ataques a tiros, como um simbolismo. Embora tenha sido reconstruído, destruído, abandonado, é o símbolo da importância que os norte-americanos atribuem a esse problema”, explicou o fotógrafo à revista Publishers Weekly.

“As divisões na sociedade americana estão se alargando continuamente para se tornarem grandes buracos de espaço vazio”, afirma o romancista Paul Auster no livro “Bloodbath Nation”.

Desde que o americano finalizou seu livro, 21 pessoas (a maioria crianças) foram mortas no ataque a tiros contra uma escola na cidade de Uvalde, no Texas; 10 em um supermercado em Buffalo, Nova York; e sete em Highland Park, no estado de Illinois. 

“Em que tipo de sociedade queremos viver?”, questiona Paul Auster, a respeito de seu país.

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