A estreia do “Big Brother Brasil 23”, ocorrida na noite da última segunda-feira (16/1), movimenta as redes sociais desde o anúncio dos participantes pela Globo, feito na semana passada. Contudo, muitos se esquecem de um aspecto que já foi pauta diante de crises no programa nos últimos anos: como fica a saúde mental dos participantes?
Nas duas últimas edições, participantes do reality desistiram devido a questões relacionadas à saúde mental. Lucas Penteado, na edição de 2021, e Tiago Abravanel, em 2022.
Os dois casos chamaram a atenção e desencadearam discussões sobre o estresse que a experiência pode trazer.
Segundo Rodrigo Leite, psiquiatra coordenador do Programa de Psiquiatria Social e Cultural do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (IPq), o ambiente criado pelo programa é psicologicamente agressivo.
"O ‘BBB’ basicamente se trata de uma competição social bastante acirrada", afirma o especialista.
Além da combinação do confinamento com exposição constante ao público, o espaço é pequeno para a quantidade de participantes, com excesso de estímulos visuais. "É uma conjuntura para que os participantes mostrem seu lado mais agressivo."
Para Leite, o programa é um ambiente de alto risco para a saúde mental. Apesar de ser vendido como uma experiência real, é uma representação exagerada da realidade, com situações extremas e carga anômala de estímulos.
Personalidade "fake"
Para lidar com a exposição constante, ligada ao ambiente de competição, os participantes tendem a criar um "personagem" a ser interpretado durante esse período. É o mesmo mecanismo que usamos para lidar com a alternância de ambientes em situações diárias, mas levado ao extremo. "Não necessariamente o que aparece ali é o que as pessoas de fato são", diz Leite.
Essa estratégia, mais do que um meio de tentar conseguir a aprovação do público, é um mecanismo de proteção psicológica, que ajuda a mente a entender esse contexto como algo artificial. Ela também é um meio dos participantes preservarem sua intimidade real, para lidar melhor com os efeitos da exposição pública.
"É um experimento perigoso para a saúde mental, com uma carga tóxica de estresse psicológico", avalia Leite. "Caso se buscasse menos o hedonismo, e as discussões sociais fossem mais estimuladas, seria mais interessante."
O psiquiatra destaca que a exposição ligada ao programa não é apenas temporária, mas muitas vezes se estende pelo restante da vida. Tanto devido aos registros, que tendem a circular na internet, quanto pelo fato de que muitos participantes se tornam figuras públicas.
"Algo muito decisivo acontece ali que acaba modificando a personalidade daquela pessoa, e pode desencadear problemas de depressão e ansiedade, por exemplo", diz Leite.
O especialista lembra que as pessoas focam na expectativa de fama ou no prêmio, mas não levam em conta o estresse psicológico ao qual vão se submeter no programa. "Só seria recomendado para pessoas que têm extrema consciência do nível de pressão psicológica e capacidade de lidar com ela", alerta. "Pessoas mais fragilizadas ou com alguma tendência a desenvolverem transtornos psicológicos deveriam ser desestimuladas a participar."