Militares julgados por crimes praticados durante a ditadura, cena do filme 'Argentina, 1985'

(foto: Prime Video)
 

Brasil e Argentina abordam de maneira distinta, por meio do cinema, o trauma da ditadura civil-militar imposta às respectivas sociedades nos anos 1960/1970.





Enquanto a Argentina julgou militares responsáveis por tortura, assassinato, sequestro ilegal de crianças, o Brasil optou por não passar a limpo sua história recente.


Produções dos dois países sobre os chamados “anos de chumbo” estão disponíveis nas plataformas de streaming, com exceção de “Kamchatka”, que aborda o tema sob o olhar de uma criança. É um filme importante, que merece entrar para o catálogo brasileiro.

ARGENTINA

“Argentina, 1985” (Prime Video)

Um dos favoritos ao Oscar 2023, “Argentina, 1985”, de Santiago Mitre, mostra o empenho do promotor Julio Strassera (Ricardo Darín) em condenar militares responsáveis pela ditadura no país (1976-1983). Sem contar com os veteranos de sua equipe, que evitam lidar com julgamento tão espinhoso, Strassera, com ajuda do advogado Luis Moreno Ocampo (Juan Pedro Lanzani), monta um grupo de jovens recém-formados em direito para levar as investigações adiante.





 

 

“A história oficial” (Netflix)

Lançado em 1985, quando vários militares foram condenados por atos praticados durante a ditadura, o longa de Luiz Puenzo acompanha Alicia (Norma Aleandro) e Roberto (Héctor Alterio). O casal de classe média aparentemente alheio à política adota menina sem se preocupar com a origem dela. Quando Alice descobre que o governo do país é responsável pela morte e exílio de opositores, passa a desconfiar que os pais biológicos da menina são desaparecidos políticos e que seu próprio marido contribui com a ditadura.

 

'A história oficial' aborda o sequestro de crianças filhas de militantes de esquerda

(foto: Netflix)

 

“O segredo dos seus olhos” (Prime Video)

Lançado em 2009, com direção de Juan José Campanella e Ricardo Darín no papel principal, “O segredo dos seus olhos” ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. O consultor jurídico recém-aposentado Benjamín Espósito (Darín), sem esposa e filhos, decide enfrentar a solidão se dedicando à escrita de um livro sobre o caso de estupro seguido por homicídio que não conseguiu solucionar. Quanto mais Benjamín mergulha nessa jornada, mais obstinado fica em resolver o crime. Aos poucos, percebe o quanto forças ligadas à ditadura influenciaram sua trajetória.

 

Ricardo Darín (à direita) em 'O segredo dos seus olhos', vencedor do Oscar de filme estrangeiro em 2010

(foto: Prime Video)

 

“Kamchatka” (indisponível)

Filmado sob a perspectiva de Harry (Matías del Pozo), de 10 anos, o filme de Marcelo Piñeyro mostra que a vida do menino, filho de opositores do regime, vira de ponta-cabeça quando há golpe de Estado articulado por militares para tirar a presidente Isabelita Perón do poder. Ricardo Darín e Cecilia Roth interpretam os pais de Henry.





 

Golpe de Estado transforma dramaticamente a vida de garoto filho de militantes de esquerda em 'Kamchatka'

(foto: Alquimia Cinema)

 

BRASIL

“O que é isso, companheiro?” (Looke e Globoplay)

Baseado no livro homônimo do jornalista Fernando Gabeira e estrelado por Pedro Cardoso (no papel de Gabeira), o longa de Bruno Barreto acompanha o sequestro do então embaixador norte-americano no Brasil, Charles Elbrick (1908-1983), por militantes da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), em 1969. Em troca da libertação do diplomata, presos políticos são extraditados do país. A polícia prende os sequestradores, submetidos à tortura e posteriormente ao exílio.

 

Alan Arkin vive o embaixador Charles Elbrick em 'O que é isso, companheiro?'

(foto: Luis Carlos Barreto Produções)

 

“Olga” (Globoplay)

De Jayme Monjardim e com Camila Morgado no papel de Olga Benário (1908-1942), o filme é baseado na biografia homônima escrita por Fernando Morais. Acompanha a trajetória da militante comunista de origem judaica que fugiu da Alemanha Nazista para Moscou. Na Rússia, fez treinamento militar e foi encarregada de acompanhar Luís Carlos Prestes em suas investidas no Brasil, sobretudo a Intentona Comunista. Com o fracasso do movimento, Olga foi presa e, mesmo grávida de Prestes, deportada para a Alemanha, onde nasceu a filha Anita Leocádia. A valente comunista passou os últimos dias de sua vida no campo de concentração. 

 

Camila Morgado como a militante comunista de 'Olga'

(foto: Jaq Joner)
 

“Ação entre amigos” (Apple TV+)

Lançado em 1998 e com direção de Beto Brant, “Ação entre amigos” acompanha Miguel (Zecarlos Machado), Paulo (Carlos Meceni), Elói (Cacá Amaral) e Osvaldo (Genésio de Barros) na tentativa de sequestrar o militar que torturou os quatro 25 anos atrás, sendo, inclusive, responsável pela morte da namorada de Miguel. A ação, no entanto, se torna extremamente delicada, por colocar em risco a amizade do quarteto.





 

Tortura, amizade e traição se entrelaçam em 'Ação entre amigos'

(foto: Apple TV+)

 

“Quase dois irmãos” (Looke)

Dirigido por Lúcia Murat, ex-integrante da luta armada contra a ditadura, “Quase dois irmãos” (2005) acompanha a improvável amizade de Miguel (Caco Ciocler) e Jorginho (Flavio Bauraqui) em três momentos: nos anos 1950, quando eram crianças; na década de 1970, ao serem presos por diferentes motivos (Miguel por questões políticas, Jorginho por “crimes comuns”); e depois da redemocratização, quando Miguel se torna senador e vai ao morro onde Jorginho comanda o tráfico para negociar a implantação de um projeto social. A trama se concentra mais no segundo momento, tendo a ditadura militar como pano de fundo, para tratar da relação entre a classe média branca e o negro favelado.

 

Caco Ciocler e Flavio Bauraqui em 'Quase dois irmãos'

(foto: Taiga Filmes )

“Marighella” (Globoplay)

Estreia do ator Wagner Moura como diretor, “Marighella” (2019) é a cinebiografia de Carlos Marighella (1911-1969), que foi deputado constituinte em 1946 pelo Partido Comunista, fundador do grupo de esquerda Aliança Libertadora Nacional (ALN) e guerrilheiro considerado o inimigo nº 1 da ditadura militar. Seu Jorge faz o papel do revolucionário baiano.

 

Seu Jorge interpreta o mito da esquerda brasileira em 'Marighella'

(foto: O2 Filmes)
 

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