Quem estava assistindo ao "Big brother Brasil" foi pego de surpresa pela intervenção feita pelo apresentador Tadeu Schmidt, na noite do domingo (22/1). Antes da tradicional votação para a formação do primeiro paredão da temporada, Tadeu alertou o casal formado pela atriz Bruna Griphao e pelo modelo Gabriel "Fop" sobre os limites aos quais o relacionamento dos dois poderiam escalar.
Schmidt fazia referência a uma conversa entre os participantes, na qual Bruna brincou ser "o homem da relação", no que "Fop" respondeu que logo ela levaria umas "cotoveladas na boca". Ao usar frases dos também participantes Antônio "Cara de Sapato" e Tina, que já haviam alertado para o potencial tóxico do relacionamento, o apresentador fez questão de lembrar que, num relacionamento afetivo, comentários assim não devem ser feitos nem de brincadeira, e frisou: "nem de brincadeira".
A intervenção marca a consolidação da mudança de comportamento da emissora em relação a intervenções do tipo no programa. Se anteriormente a orientação era deixar o jogo seguir para ver o "fogo no parquinho", a série de episódios em que o Ministério Público ou a Polícia Civil tiveram de bater à porta da casa mais vigiada do Brasil, fez com que a Vênus Platinada repensasse o seu posicionamento.
Para o jornalista Ciro Hamen, da página "O Brasil que deu certo", o novo protocolo da emissora mostra que a Globo aprendeu com os episódios passados. Em 2021, o então apresentador Tiago Leifert teve de se manifestar ao vivo sobre comentários de cunho racistas proferidos pelo cantor sertanejo Rodolffo contra o professor João Pedrosa, mas isso só ocorreu após muita pressão por parte das redes sociais.
Na edição de 2017, a campeã da edição, Emilly Araújo, não teve a mesma sorte. Os recorrentes episódios de agressão verbal e psicológica por parte do médico Marcos Harter, com quem ela se relacionava no programa, acabaram evoluindo para uma agressão física e expulsão do participante na reta final do jogo.
Emily se manifestou pelo Twitter após a intervenção de Tadeu na noite de domingo. Em tom irônico, a gaúcha elogiou a Globo por fazer o que devia ter sido feito já em sua edição e evitar que Bruna Griphao precisasse passar por quatro anos de terapia psicológica, como ela.
Parabéns globo por fazerem o que deveriam ter feito em 2017... Assim a Bruna não precisa passar por mais de 4 anos de terapia pra tentar superar agressões psicológicas e físicas como eu %uD83D%uDE4F%uD83C%uDFFB pic.twitter.com/IXhaUM17uC
%u2014 Emilly Araújo (@emillyaraujoof) January 23, 2023
Quem também se manifestou foi o médico psiquiatra Manoel Vicente. O cuiabano esteve na casa de vidro do "BBB" antes do início oficial do programa. Também pelo Twitter, ele alfinetou o antigo apresentador, Tiago Leifert, que fizera campanha pela entrada de Gabriel "Fop". Leifert tem um histórico de ser a favor de pessoas que, segundo ele, "têm a coragem de serem imperfeitas", como definiu a vencedora do "BBB 19", a advogada mineira Paula Von Sperling, que ao longo da edição teve um comportamento reiteradamente racista apontado pelo público.
Aguardando a opinião do Thiago Leifert
%u2014 Manoel Vicente %uD83E%uDD8A (@OManoelvicente) January 23, 2023
Para Ciro Hamen, todos saem ganhando com a intervenção de Tadeu, tanto o público, quanto os participantes dentro da casa e até mesmos os patrocinadores do programa que, muitas vezes, pressionam a produção para solução de episódios controversos, pois não gostam de ter suas marcas relacionadas a situações de racismo, machismo ou homofobia.
"É um elenco em que todo mundo erra muito, mas erra de uma maneira divertida, de uma maneira leve. Para a gente que comenta na internet, no YouTube, é legal, porque podemos comentar sobre o jogo, sobre as estratégias e é sempre chato quando acontece algo que não tem a ver com o jogo. Uma situação de abuso, mesmo que não tenha chegado a isso, poderia chegar," avalia Hamen. Para ele, o ponto forte da edição é que todos os participantes estão, em certa medida, equivocados, o que dificulta a identificação com o público e a formação de torcidas gigantes, como nas edições mais recentes, deixando o jogo mais aberto.
Ciro Hamen considera que "cortar o mal pela raiz" deixa o jogo mais leve a médio e a longo prazos, pois evita que haja reincidência do assunto. Ele lembra os recentes acontecimentos da última edição de "A fazenda", reality rural da Record, principal produto da emissora paulista na concorrência com o "BBB". O comportamento extremamente agressivo da advogada Deolane Bezerra fez com que, em certo ponto, boa parte das pessoas que comentam realities na web perdessem o prazer em fazê-lo.
Se para parte do público, Tadeu foi o "craque do jogo", outra parte, entretanto, foi contra a interferência do apresentador por poder dar aos participantes certo vislumbre da opinião pública sobre os rumos do jogo. Hamen, porém, acha que a maneira como tudo foi abordado foi correta, pois não apenas Bruna e Gabriel foram alertados, o que aí sim causaria beneficiamento a apenas uma parte dos jogadores, mas os demais também foram avisados.
A única concordância é quanto à reverberação do tema a curto prazo. Nesta segunda (23/1), aconteceu o jogo da discórdia e desde domingo os demais participantes já vinham prometendo se manifestar sobre o comportamento de Gabriel "Fop", o emparedado Dr. Fred Nicácio foi um deles. Já na formação do paredão, ele fez questão de criticar a frieza com que "Fop" age com os demais e a rudeza com a companheira.
Já pela manhã desta segunda, o participante se desculpou com sua família e de Bruna e com o público do programa. Após muitas lágrimas ao longo da madrugada e do início do dia, em comum acordo, ele e Bruna resolveram se afastar no jogo, sem a possibilidade de desistirem da competição, entretanto.
* Estagiário sob a supervisão da subeditora Tetê Monteiro
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