O monólogo “Bolo republicano”, de Gabriela Luque, que estreia nesta sexta-feira (27/1) na programação da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, com sessão única no Grande Teatro do Palácio das Artes, foi desenvolvido durante o mestrado da atriz em artes cênicas. Ela define o trabalho, que traça um paralelo entres as vidas de uma avó e sua neta, como “autoficção”. 





“G, que vive nos tempos atuais, encontra um caderno de receitas de sua avó, Z. Lá, vê o tal ‘bolo republicano’. Interessada por aquilo, ela decide prepará-lo. No entanto, conforme vai avançando no preparo, memórias de eventos ocorridos em sua vida e na política do Brasil a partir das Jornadas de Junho de 2013, de que ela participou, começam vir à tona.”

A vida da garota, no entanto, só vai se entrelaçar com a da avó ao relembrar a votação do processo de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, quando parlamentares dedicaram seus votos à família.

“Quando o então deputado Jair Bolsonaro dedica seu voto à família e em seguida homenageia um torturador, G. pensa: ‘Que família é essa? Não é a minha, porque tenho um tio que foi torturado na ditadura militar’’’, conta Gabriela. 





É a partir dessa observação da personagem que as histórias de G. e Z. vão se cruzando. 

Diferentemente da neta, Z. vive em um estado autoritário. Após o golpe de 1964, o marido de Z., que era político, ficou desempregado; a família passou por dificuldades financeiras e recebeu a notícia de que o filho mais velho é acusado de ter participado de um ato terrorista.

“A peça fala de gênero, de como as mulheres se colocam nessas duas épocas diferentes. Enquanto uma é mãe de família, com seis filhos, a outra não tem nenhum filho, sofre um aborto e é estuprada por um conhecido”, afirma a atriz. “Ao mesmo tempo em que há um espaço de quase 60 anos entre a vida das duas, o contexto político e social do Brasil ainda é muito semelhante”, acrescenta.

Tendo apresentado “Bolo republicano” somente como conclusão do mestrado, Gabriela não tinha pretensão de estrear a peça para o grande público. Só mudou de ideia quando constatou que, no teatro, pouco se fala sobre a ditadura militar.





“Ainda é um assunto delicado e espinhoso. No teatro, falou-se muito pouco. Temos mais registros cinematográficos. E justamente por falar pouco que a gente está onde está, tendo esse desconforto diante do tema”, conclui.

Campanha supera expectativa

Havia certa apreensão entre integrantes do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc), ao lançar a 48ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, no último dia 5. “Se vendermos 50 mil ingressos, já podemos considerar que a campanha foi um sucesso”, afirmou Dilson Mayron, coordenador-geral da Campanha, em entrevista ao Estado de Minas, dois dias depois do início da promoção.

Em 20 dias com espetáculos em cartaz, as expectativas de Mayron foram superadas. Na última quarta-feira (25/1), o número de bilhetes vendidos já ultrapassava os 60 mil. “Pelo andar da carruagem, acredito que a gente consiga chegar a 80 mil até o final”, avalia.





Em cartaz até 12 de fevereiro, a edição deste ano conta com 112 atrações, entre peças para adultos, crianças, stand-up comedy, dança e musicais. 

Os espetáculos que já foram apresentados até agora tiveram sucesso de público. Muitos, inclusive, abriram sessão extra porque, mesmo depois de ter os ingressos esgotados, a demanda do público continuava alta.

“É muito difícil que peças infantis tenham sessões esgotadas. Mas, neste ano, conseguimos isso. Tivemos que abrir sessão extra em mais de um espetáculo infantil. Ficamos enlouquecidos, no bom sentido”, conta Mayron, emendando uma longa gargalhada.

No riso, ele deixa evidente o alívio com o sucesso da Campanha e a sensação de recompensa depois da frustração com os últimos anos. Afinal, em 2020 e 2021 o evento foi suspenso por causa da pandemia. 





No ano seguinte, teve seu retorno anunciado com programação reduzida. Contudo, um desacordo entre as normas sanitárias no âmbito municipal e no federal para ingresso nas salas de espetáculos provocou uma crise de difícil solução para o Sinparc, prejudicando a temporada de diversos espetáculos e mantendo a Campanha num clima de incerteza e mudanças constantes.

Este ano, sem imbróglios com o poder público, a Campanha chegou com programação mais ampla, comparada com a do ano passado. Mas, mesmo assim, sem pretensões de atingir a quantidade de público que costumava alcançar antes da pandemia. Dos 112 espetáculos, 40 farão sua estreia no evento. 
 

Marcelo Ricco leva para o palco os apertos que passou durante a pandemia

(foto: Alyson Jardim/Divulgacao)
 

Stand-up autobiográfico

Entre eles está “Aceita que dói menos”, de Marcelo Ricco, que será apresentado em sessão única nesta sexta (27/1), no Sesc Palladium.





Transitando entre o tradicional formato do monólogo e o stand-up comedy, o espetáculo aborda perrengues que Ricco enfrentou ao longo da vida e mais especificamente durante a pandemia, quando, impossibilitado de se apresentar em teatros e casas de shows, precisou procurar alternativas para ganhar seu sustento.

“Eu tive filho durante a pandemia. Então me vi sem meios para sustentar minha família”, lembra o ator. Para não ficar sem trabalhar, ele se cadastrou como motorista de aplicativo. “Aí você pode imaginar a quantidade de histórias que eu ouvi e que acabaram servindo de inspiração para o meu show”, conta.

Além de trabalhar como motorista, Ricco também se dedicou à marcenaria, ao comércio e a consertos de aparelhos elétricos. Até marido de aluguel ele foi, realizando serviços de instalação e manutenção hidráulica e elétrica.





“Se todo mundo parar para analisar a própria vida, garanto que a conclusão de todos será: aceita que dói menos. Porque, até a gente chegar onde realmente deseja e alcançar aquilo que quer, tem que passar por experiências das quais não gosta. E, se precisamos passar por isso, aceitar é melhor do que ficar reclamando e lamentando”, afirma.

No palco, Ricco procura fazer um stand-up com características do teatro tradicional. “Nós não perdemos a essência do teatro, mas nos demos a liberdade de nos relacionar com a plateia de forma um pouco mais dinâmica, que é uma característica mais forte do stand-up. Assim, conseguimos passar a mensagem para o nosso público e fazer com que ele receba essa mensagem de maneira mais rápida”, diz. 

“BOLO REPUBLICANO”

Texto e performance: Gabriela Luque. Grande Teatro do Palácio das Artes. Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. (31) 3236-7400. Ingressos a R$ 20 (preço único), nos postos de venda do Sinparc (shoppings Cidade e Pátio Savassi) e no site da Campanha

“ACEITA QUE DÓI MENOS”

Texto e performance: Marcelo Ricco. No Sesc Palladium. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. (31) 3270-8100. Nesta sexta (27/1), às 20h30. Ingressos a R$ 20 (preço único), nos postos de venda do Sinparc (shoppings Cidade e Pátio Savassi) e no site da Campanha.





EM CARTAZ

Confira a programação deste fim de semana (27 a 29/1)

Peças infantis

“Três Porquinhos – A clássica história”, Teatro da Assembleia, sexta-feira, às 16h30; sábado e domingo, às 15h e 16h30
“A Liga da Justiça vs Coringa”, Teatro Pátio Savassi, sábado e domingo, às 16h
“A vaquinha Lelé”, Cineart do Shopping Cidade, sábado e domingo, às 11h
“As aventuras de Dom Quixote”, Teatro Francisco Nunes, sábado e domingo, às 16h30
“Chapeuzinho Vermelho”, Teatro Sesiminas, sábado e domingo, às 16h
“João e o pé de feijão”, Teatro pátio Savassi, sexta-feira, às 16h30 (esgotado)
“Jojô e Palito em: As cigarras e as formigas”, Espaço Cultural Luchini, sábado, às 17h; domingo, às 11h
“Mogli, o menino lobo”, Teatro Marília, sábado e domingo, às 16h
“O show das princesas”, Teatro Padre Machado, domingo, 16h
“Os 3 porquinhos – O clássico”, Cine Theatro Brasil Vallourec, domingo, às 16h
“Os saltimbancos”, Teatro José Aparecido de Oliveira da Biblioteca Pública Estadual, sábado e domingo, às 16h
“Os Vingadores”, Teatro Pátio Savassi, domingo, às 17h15
“Rapunzel”, Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, domingo, 16h

Peças adultas

“A empregada quase perfeita”, Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas, sábado, 20h30
“A noite perfeita”, Teatro Estação BH, sábado, às 20h30; e domingo, às 19h
“A obscena senhora H – Paixão e obra de Hilda Hilst”, Teatro João Ceschiatti, no Palácio das Artes, sexta-feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h
“Aceita que dói menos”, Sesc Palladium, sexta-feira, 20h30
“Acredite, um espírito baixou em mim”, Cine Theatro Brasil Vallourec, sexta-feira, 21h; sábado, 18h e 21h; domingo, 19h
“Bolo republicano”, Grande Teatro do Palácio das Artes, sexta-feira, às 20h
“Cabaré Lidô”, Galpão de Ideias, sexta-feira e sábado, às 20h30; domingo, às 19h30 
“Café com Jandira”, Teatro Sesiminas, sexta e sábado, às 20h30; domingo, às 19h
“Como desencalhar depois dos 30”, Teatro Padre Machado, sexta e sábado, às 20h30 (esgotados); e domingo, às 19h30
“Como se livrar das dívidas em 12 hilárias prestações”, Teatro Pátio Savassi, sexta, às 20h30; sábado, às 19h e 21h; e domingo, às 19h
“Como vencer a burocracia sem ter um infarto”, Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes, sexta e sábado, 19h; domingo, 18h
“Cuidado pro meu pai não descobrir!”, Teatro Francisco Nunes, sexta e sábado, às 20h30; domingo, às 19h
“Death Lay – Na vida tem jeito pra tudo”, CCBB, sexta a domingo, às 19h
“Deus da carnificina”, Teatro José Aparecido de Oliveira da Biblioteca Pública Estadual, sexta e sábado, às 20h; domingo, às 19h

"E ainda assim se levantar" ficará em cartaz no Teatro Marília

(foto: Kika Antunes/Divulgação)
 
“E ainda assim se levantar”, Teatro Marília, sexta e sábado, às 20h; domingo, às 19h
“Elis - 40 anos de legado”, Teatro Padre Machado, sexta e sábado, 20h30; e domingo, às 19h
“Família pão com ovo”, Teatro Nossa Senhora das Dores, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h30
“Francisco de Assis – Do rio ao riso”, Cine Theatro Brasil Vallourec, sexta e sábado, às 21h
“Meu tio é tia”, Teatro do Colégio Santo Agostinho, sexta e sábado, às 20h30; domingo, às 19h30
“O belo indiferente”, Teatro Feluma, sábado, às 21h, e domingo, às 20h
“Ópera massacre”, Teatro Sesiminas, sexta, às 20h; domingo, às 19h
“Pequena coleção de frases em tempos de fundos pensamentos”, CCBB, sexta a domingo, 20h
“Por caminhos de Brás Cubas”, Funarte, sexta a domingo, 20h
“Rirvotril – Porque rir é melhor que remédio”, Teatro da Assembleia, sexta e sábado, às 20h (esgotadas); domingo, às 19h
“Show Avoar”, Funarte, sábado e domingo, às 16h30

STAND-UP COMEDY

“Stand-up com Thiago Souza, José Wallison e Everton Lima”, Cineart do Shopping Cidade, sexta-feira, 20h

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