Uma parede inteira da Funarte com trabalhos tipográficos de mineiros de diferentes gerações contam um pouco da história da tipografia do estado e dá as boas-vindas a quem for à Feira Urucum. A quarta edição de um dos principais eventos que reúnem editoras independentes, autores, autoras e artistas visuais que trabalham com arte impressa em Belo Horizonte será realizada pela primeira vez no Verão de Arte Contemporânea, neste sábado (4/2) e domingo (5/2).





Ao todo, 91 editoras e autores independentes de diferentes estados brasileiros participam do evento. “De todas as edições que a gente já fez, essa vai ser a maior”, garante Wallison Gontijo, sócio-fundador da editora Impressões de Minas, responsável pela realização da Urucum.

Além da participação dos expositores, também serão realizadas mesas redondas, lançamentos de livros e a já citada exposição “Tipografia transversal em Belo Horizonte”, que reúne, em ordem cronológica, trabalhos de tipógrafos desde a década de 1960 até os dias de hoje.

“A feira permite um diálogo muito próximo entre o vendedor e o público, fugindo um pouco desse capitalismo mainstream que nós temos hoje”, ressalta Gontijo.

Essa fuga é justamente o que ele pretende com o projeto. Contudo, ela não se dá somente pelo modelo de comercialização dos produtos, mas por colocar em evidência profissionais e produções que estão à margem do que é predominante no mercado editorial.





Logo, diferentes tipos de artes gráficas (impressão, tipografia, serigrafia, xilogravura) e edições independentes ganham destaque.

“As editoras independentes, que eu gosto de chamar de editoras alternativas, têm um olhar especial para o projeto gráfico, a impressão e os recursos gráficos diferenciados. Ao contrário das grandes editoras, que na maioria das vezes não têm tempo para se dedicar a essas questões, as editoras alternativas procuram explorar a materialidade do livro”, afirma.

Como nos anos anteriores, a quarta edição do evento literário também quer permitir um diálogo entre vendedor e público

(foto: Elena Fragoso/Divulgação)

ANCESTRALIDADE 

Esses temas, portanto, serão debatidos na mesa “Processos de edição”, com Elza Silveira (sócia-fundadora da editora Impressões de Minas), Alice Bicalho (Curva Editorial), Lizandra Magon (Jandaíra Editora) e a finalista do Prêmio Jabuti de 2022, Ana Elisa Ribeiro (Entretantas).

O bate-papo, que será realizado neste sábado, também tem como objetivo mostrar que o cenário editorial no Brasil – e principalmente em Belo Horizonte –, que era majoritariamente masculino, mudou.





No domingo, será a vez da mesa "Literatura, memória e oralidade", com com Isabel Casimira Belinha (Rainha Conga de Minas Gerais e Rainha Conga do Reino Treze de maio, Natália Alves (Lira Lab), Ricardo Aleixo (Lira Lab) e Rildo César (Minascidades).

“A gente pensou em promover uma mesa que tivesse essa questão da memória, literatura e ancestralidade a fim de mostrar um pouco o quanto esses elementos ajudaram a construir a literatura que a gente tem hoje”, afirma Gontijo. “Conseguimos juntar pessoas que há muitos anos estudam, pesquisam e praticam a literatura ligada à questão da oralidade”, emenda.

POESIA TRANS

Outra preocupação da Feira Urucum é fomentar debates há muito ofuscados, como visibilidade trans e protagonismo negro. Não à toa, o evento contará com a participação da editora Mazza, uma das primeiras a discutir a literatura afro-brasileira, e com o lançamento do livro de poesias “desejo de me expor, desejo desaparecer” (assim mesmo, com todas as letras minúsculas), estreia da artista trans belo-horizontina Bramma Bremmer na literatura.





“desejo de me expor, desejo desaparecer”, por sua vez, além de trazer a realidade LGBTQIA+ da autora, faz uma espécie de ode à memória. “aqui retorno às memórias / as primeiras da infância / nossas primeiras viagens / aquelas dos sonhos à lua / lá onde somos estrelas”, escreve Bramma no poema “desejo de me expôr”.

“É um livro mais artesanal, todo costurado à mão, mas que é pensado como um objeto artístico”, define a artista. A costura é para dar uma ideia de que os poemas estão todos interligados, de modo que, para reforçar a ideia, ela escreveu todos os 70 textos sem utilizar nenhuma letra maiúscula  nem pontuação.

A participação da artista na feira é uma extensão de seu livro, conforme ela diz. “Eu não estou indo lá somente para vender o meu livro. Estou indo viver uma performance mesmo, porque é uma experiência que eu nunca vivenciei (participar de uma feira literária)”, ressalta Bramma, que garante desdobrar o livro em obras audiovisuais e até em dramaturgia.




IMPULSO 

Se depender da animação dos realizadores e expositores, esta edição da Urucum será sucesso garantido. Gontijo, o sócio-fundador da editora responsável pela realização do evento, prevê receber, pelo menos, mil pessoas nos dois dias de feira, o dobro do que foi na última edição.

“Nós não queremos reinventar a roda, afinal, existem diversas feiras de livros. No entanto, queremos potencializar o comércio e produção das artes gráficas diferenciadas e das edições independentes”, conclui. 

• MESAS REDONDAS

>> Sábado, às 15h
“Processos de edição”, com Elza Silveira (Impressões de Minas), Alice Bicalho (Curva Editorial), Lizandra Magon (Jandaíra Editora) e a finalista do Prêmio Jabuti de 2022, Ana Elisa Ribeiro (Entretantas)

>> Domingo, às 15h
"Literatura, memória e oralidade", com com Isabel Casimira Belinha (Rainha conga de Minas Gerais e Rainha Conga do Reino Treze de maio, Natália Alves (Lira lab), Ricardo Aleixo (Lira Lab) e Rildo César (Minascidades).





FEIRA URUCUM

Neste sábado (4/2), de 11h às 19h; e domingo (5/2), de 11h às 17h. Na Funarte (Rua Januária, 68 – Centro). Gratuito. Informações pelo instagram (@feiraurucum) ou (31) 3213-3084



LANÇAMENTO 
“desejo de me expor, desejo desaparecer”
• De Bramma Bremmer
• Independente
•  96 páginas
• Preço: R$ 40

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