De fraque preto, o maestro André Brant rege a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais no palco

O maestro André Brant regerá a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e conduzirá o bate-papo com a plateia sobre as obras do programa

Paulo Lacerda/Divulgação

Edvard Grieg é aquele típico compositor que pouca gente conhece, mas basta tocar alguma de suas composições – sobretudo “Peer Gynt” – que grande parte das pessoas vai se lembrar de ter ouvido as melodias em algum momento da vida. 

“In the hall of the mountain king” (traduzida no Brasil como “Na mansão do rei das montanhas”) talvez seja o trecho mais conhecido de sua obra. Além de ter sido tema de abertura da série de desenho animado “Inspetor Bugiganga”, na década de 1980, a composição integra a trilha sonora dos filmes “A rede social” (2010), de David Fincher, e “O retorno de Johnny English” (2011), de Oliver Parker.
 
 
É com “Peer Gynt” que a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais abre a temporada deste ano do projeto Sinfônica ao Meio-Dia, nesta quarta (8/2) e quinta-feira, no Grande Teatro do Palácio das Artes.

“A gente queria começar o ano com uma obra mais leve e que tivesse boa receptividade do público”, afirma o maestro André Brant. “Apesar de o nome, tanto do compositor quanto da peça, serem desconhecidos, as melodias, logo em suas primeiras notas, já são populares entre as pessoas. É como se já estivessem dentro do ouvido do espectador”, diz.

O programa será dividido em duas partes. Na primeira, a orquestra toca a suíte nº 1 de “Peer Gynt”, na qual estão os movimentos “Atmosfera matinal”, “A morte de Ase”, “Dança de Anitra” e “Na mansão do rei das montanhas”.

Na segunda parte do programa, as sopranos Melina Peixoto e Daiana Melo cantam árias de óperas de Giacomo Puccini (1858-1924), Georges Bizet (1838-1875), Gaetano Donizetti (1797-1848) e Leo Delibes (1836-1891).

Música incidental

Grieg (1843-1907) compôs “Peer Gynt” entre 1875 e 1876. À época, recebeu a proposta de criar uma música incidental – espécie de trilha sonora – para peça homônima de Henrik Ibsen (1828-1906). Na história, um camponês se apaixona por uma mulher comprometida, sequestra-a no dia do casamento e, no final, acaba abandonando-a para viajar pelo mundo.

Para fazer a música incidental, Grieg criou duas suítes. Contudo, foi a primeira que se tornou mais conhecida e reproduzida até hoje. Apresentar uma obra tão popular, no entanto, tem seus riscos, admite Brant. Justamente por serem bem conhecidas do público, as comparações se tornam inevitáveis. 

“A grande dificuldade é não pecar na repetição. Nossa proposta, então, é fazer algo que tenha nossa identidade, de modo que o público, ainda que conheça a obra, pense: 'Eu escutei algo diferente nessa apresentação'", ressalta o maestro.

Se a primeira parte do programa recorre às composições mais populares de Grieg, a segunda parte não traça o mesmo caminho. Melina Peixoto, por exemplo, vai interpretar as árias “Chi il bel sogno di Doretta”, da ópera “La Rondine”, de Puccini; e “Je dis, que rien ne m'épouvante”, da ópera “Carmen”, de Bizet, cuja ária mais conhecida é “Habanera”.

Daiana Melo interpreta “Regnava nel silenzio”, da ópera “Lucia di Lammermoor”, de Donizetti, e “Où va la jeune hindoue”, da ópera “Lakmé”, de Delibes.

“Elas vão cantar cada ária com um figurino diferente, justamente para ter uma diversificação da personalidade das personagens”, explica Brant.

Isso foi pensado para que o público não perdesse o contexto no qual a ária está inserida originalmente. A primeira personagem de Melina, por exemplo, é a protagonista Magda, uma cortesã que, ao contrário dos demais personagens da trama, acredita no amor verdadeiro. “Chi il bel sogno di Doretta” é um poema que ela compõe para expressar essa sua ideia.

A segunda personagem da soprano, por sua vez, é Micaela, uma coadjuvante que vê seu relacionamento ameaçado pela sedutora cigana que dá título à ópera de Bizet. “Je dis, que rien ne m'épouvante", especificamente, é a súplica desesperada que Micaela faz aos céus para que Carmen não roube seu noivo.

Shakespeare

O mesmo ocorre com as personagens de Daiana. Em “Lucia di Lammermoor”, ela interpreta a personagem-título, uma espécie de Julieta, que, tal como a personagem de Shakespeare, se apaixona por um inimigo da família e pretende abandonar tudo e todos para viver seu amor. “Regnava nel silenzio”, portanto, é uma declaração de amor à persona non grata na família de Lucia.

“Lakmé” também trata de um amor proibido. Na ópera, a sacerdotisa indiana Lakmé, interpretada por Daiana, se apaixona por um oficial inglês, que estava em seu país somente para explorar o território. A ária “Où va la jeune hindoue”, no entanto, encontra-se num contexto bem específico da obra, quando o pai de Lakmé, achando que o oficial inglês havia violado sua filha, tenta matá-lo com uma facada no ombro. A ária, no entanto, expressa o alívio da sacerdotisa ao saber que seu amor está vivo.

“Todos esses contextos são explicados para o público antes da apresentação de cada ária”, comenta Brant. “Nós fazemos um bate-papo mesmo com a plateia para que ninguém fique perdido.”

SINFÔNICA AO MEIO-DIA

Orquestra Sinfônica de Minas Gerais interpreta obras de Edvard Grieg, Giacomo Puccini, Georges Bizet, Gaetano Donizetti e Leo Delibes. Nesta quarta (8/2) e quinta (9/2), às 12h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca. Mais informações: (31) 3236-7400 ou no 
site da Fundação Clóvis Salgado