Conhecido por heróis icônicos como Indiana Jones e Han Solo, Harrison Ford, de 80 anos, diz que nada o preparou para viver um fazendeiro no Velho Oeste americano. "Não dá para transferir nada de um personagem para outro", afirma. "A única semelhança é que são interpretados pelo mesmo pedaço de carne."
Pois é assim, com um personagem que em nada quer lembrar os anteriores, que o veterano faz sua estreia em um papel mais longo na TV. Ele encabeça o elenco do faroeste "1923", que chegou ao Brasil nesta semana pelo serviço de streaming Paramount+.
Trata-se de uma "prequel" (história que se passa antes) de "Yellowstone", série mais assistida da TV americana e que vem gerando derivados devido ao sucesso que faz por lá. Em 2021, outro título ("1883") já havia explorado os antepassados da família Dutton, central em todas essas tramas.
Agora, a história avança até a geração dos bisavós de John Dutton 3º, interpretado por Kevin Costner na trama original - papel pelo qual o ator ganhou o Globo de Ouro neste ano. Todo esse enredo familiar foi criado por Taylor Sheridan, que acabou se tornando o queridinho dos astros de Hollywood por reabilitar carreiras que, se não estavam em franca decadência, também já não pareciam mais estar em ascensão.
No caso de Ford, o envolvimento de Sheridan foi um dos fatores decisivos para que ele aceitasse o papel. "A escrita dele ajuda a construir o personagem cena a cena", elogia. "É um processo muito único e, às vezes, desafiador, mas sempre frutífero."
Casal
Na série, ele interpreta Jacob Dutton e divide a cena com Helen Mirren, de 77, que vive a esposa de Jacob, Cara. O casal não teve filhos biológicos, mas cuidou como se assim o fossem dos sobrinhos Spencer (Brandon Sklenar) e John (James Badge Dale).
A vida pacata no enorme rancho em que vivem acaba quando Jacob se opõe a um grupo de criadores de ovelhas recém-chegados à região, liderados pelo escocês Banner Creighton (Jerome Flynn). Eles desejam invadir as terras de Yellowstone para alimentar os animais, mas o patriarca não gosta da ideia, já que o pasto deverá alimentar o gado que ele mesmo cria. A partir daí, disputas, ataques e emboscadas começam a agitar a trama.
Para Harrison Ford, trata-se de um pano de fundo que poderá interessar mesmo a quem não tem tanto gosto pelo faroeste. "As pessoas têm interesse em conhecer as diferenças entre o mito e a realidade da história americana, e isso é algo em que a série não tem medo de mergulhar", diz.
Além disso, apesar de se tratar de uma trama focada em algo eminentemente local, ela tem paralelos que podem ser feitos por qualquer um, em qualquer lugar. "É uma história tão americana quanto é sobre imigração, e todo mundo veio de algum lugar", diz. "O roteiro foi muito perspicaz em introduzir esses personagens vindos de fora."
O ator também destaca a trama paralela da garota indígena Teonna Rainwater (Aminah Nieves), que é forçada a estudar em um internato católico. "A história dela tem uma grande participação em mostrar como se formou o tecido social daquele período, com toda a tensão da modernidade chegando para desmantelar o modo de vida que meu personagem conhecia até então", adianta.
"É palpável a pressão sobre ele quando monta seu cavalo em uma rua cheia de carros", compara. "Assim como quando descobre que os bancos não vão mais emprestar dinheiro, quando a natureza o presenteia com uma seca e quando há competição até pela pastagem que vai alimentar o gado. Estamos falando de personagens que estão batalhando para resolver problemas em diversas frentes, o que me interessa bastante."
Televisão x cinema
O astro do cinema, que já trabalhou com diretores como Francis Ford Coppola, Steven Spielberg e Ridley Scott, parece ter criado gosto pelas narrativas voltadas para a telinha. Atualmente, ele também está no ar como um psiquiatra com Parkinson em "Falando a real", da Apple TV , que estreou no final de janeiro tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
"Acho que a divisão entre filmes e televisão desapareceu", avalia. "A única diferença é que a TV você assiste de casa. Tem muitas vantagens em sair de casa para ir ao cinema, ficar em uma sala escura com estranhos e ter uma experiência coletiva, mas também tem muitas vantagens em não precisar sair."
No caso de "1923", ele diz que a série tem a "ambição de ser um filme durante aquela uma hora que você está assistindo da sua casa". "Não estou querendo diminuir a televisão ao dizer isso", explica. "Digo por causa das lindas imagens e pela narrativa visual fantástica."
Ford elogia o diretor estreante Ben Richardson, que já havia participado das outras séries de "Yellowstone", sobretudo comandando a direção de fotografia. "Ele escolhe belos planos, e eu fico realmente impressionado com a forma como ele filma coisas que não são fáceis de capturar nesse tamanho e escala", afirma o ator.
"Ele conseguiu, de alguma forma, fazer com que as vastas paisagens de Montana caibam dentro da televisão. Para mim, isso é um feito."
"1923"
• Série disponível no Paramount