Exultantes talvez seja um bom termo para definir como se sentem atores, diretores e produtores de Belo Horizonte em relação à 48ª edição da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, que chegou ao fim no início de fevereiro. Os mais de 100 mil ingressos vendidos durante seu período de realização superaram as expectativas mais otimistas dos agentes da cena teatral da cidade.





Por causa da pandemia, o Sindicado dos Produtores de Artes Cênicas de Minas Gerais (Sinparc) realizou apenas uma pequena edição on-line em 2021. No ano passado, a Campanha voltou ao formato presencial, mas, ainda acossada por um cenário epidemiológico desfavorável, correu aos trancos e barrancos, com uma interrupção de uma semana e vários espetáculos desembarcando da programação.

Iniciada em 5 de janeiro passado e contando com um total de 113 espetáculos, entre adultos, infantis e de dança, além de comédia stand up, a 48ª edição foi palco de uma expressiva retomada dos teatros por parte do público, segundo o coordenador geral da Campanha, Dilson Mayron. Ele diz que vários espetáculos tiveram que abrir sessões extras.

“A campanha foi grandiosa, foi excepcional, foi muito acima das nossas expectativas, porque estávamos com muito receio”, diz. Nos primeiros dias do ano, antes do início da Campanha, em entrevista ao Estado de Minas, ele considerou um “ato de coragem” dos produtores integrarem a programação.





Terra arrasada 

O representante do Sinparc aludia a um cenário de terra arrasada, com toda a cadeia produtiva das artes cênicas descapitalizada; a cultura, de modo geral, esfacelada durante o governo Bolsonaro; e o público, mais aderido à Netflix, à TV a cabo e ao celular, ausente há muito tempo dos teatros e casas de espetáculo.

O Grupo Galpão apresenta "Nós"

(foto: Guto Muniz/Divulgação)


“Com o arrefecimento da pandemia, pensamos que este ano podia ser melhor, mas ainda estávamos com muito medo. Ninguém imaginava que pudesse acontecer o que aconteceu, com espetáculos esgotando ingressos já nas primeiras duas semanas”, comenta.

Ele observa que, se não foram registradas grandes filas nos postos de venda de ingresso do Sinparc, é porque a comercialização se deu 80% pela internet. “Agora, nas entradas dos teatros , a gente viu muitas filas. Na semana passada, tivemos muitos espetáculos fazendo sessões extras e, neste fim de semana de encerramento, está acontecendo o mesmo”, aponta.





Um indicativo do sucesso da 48ª edição foi o desempenho surpreendente dos espetáculos infantis, segundo Mayron. “Nunca aconteceu de espetáculos infantis esgotarem ingressos, nem nos tempos áureos da Campanha, e este ano, sim, vários tiveram lotação esgotada. Alguns abriram sessões extras. Historicamente, os infantis sempre ficavam bem abaixo dos adultos em termos de público”, diz.

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Público infantil Ele pondera que o fato de janeiro ser mês de férias escolares e o período ter sido de muitas chuvas contribuiu para que os pais vissem no teatro uma boa alternativa para entreter os filhos. Ainda assim, considera que os números relativos aos espetáculos infantis foram além de qualquer prognóstico.

Os resultados da 48ª Campanha representam uma injeção de ânimo para toda a cena teatral de Belo Horizonte, segundo Mayron. “Quando, logo no início, os produtores viram que a coisa estava engrenando, todo mundo correu atrás, fez a sua parte para atrair o público, investiu em divulgação, o que, casado com os preços promocionais dos ingressos, surtiu efeito.”





O produtor considera que um outro trunfo desta edição, num contexto de retomada mais sistemática das atividades, foi a realização de um ciclo de debates entre os profissionais da área, para que fossem discutidos e compartilhados seus processos de trabalho, de criação, de formação e as experiências de cada um. Na última quarta-feira (8/2), foi realizada mesa-redonda que fechou o ciclo, com o tema “Mercado e produtores”.

Ílvio Amaral e Maurício Canguçu estão em "Maio, antes que você me esqueça"

(foto: Raquel Guerra / divulgação)


“Acho fundamental se pensar em como os produtores podem investir em espetáculos. A maioria não conta com leis de incentivo. É necessário que se profissionalizem, no sentido da elaboração de projetos, para aprovação e captação de recursos, de forma que consigam realizar temporadas maiores de suas montagens, porque é assim que se forma público”, diz.

Há mais de duas décadas participando da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança – com a peça “Acredite, um espírito baixou em mim” e com diversas outras produções –, Maurício Canguçu diz que esta edição foi “impressionantemente maravilhosa”. Ao lado de Ílvio Amaral, ele está em cartaz neste fim de semana com “Maio, antes que você me esqueça”.





Sessões esgotadas 

“Esgotamos absolutamente todas as sessões da Campanha”, diz o ator, diretor e produtor, que, além de “Maio, antes que você me esqueça” e “Acredite, um espírito baixou em mim”, também marcou presença com “Velório à brasileira”, dirigido por Ílvio Amaral – que também exerceu a função em “Como vencer a burocracia” e “Pinóquio”.

“Eu e Ílvio não estávamos trabalhando com essa perspectiva, mas resolvemos apostar, no sentido de, por exemplo, reservar o mês de janeiro praticamente todo para ‘Acredite, um espírito baixou em mim’ no Cine Theatro Brasil Vallourec, que tem capacidade para mil pessoas. Tivemos lotação de público em todas as apresentações, abrimos sessões extras e elas esgotaram também”, afirma.

Ele ressalta que, para a classe teatral de Belo Horizonte, que sofreu tanto com as restrições impostas pela pandemia, essa 48ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança foi uma “lavada de alma”. Canguçu salienta o acolhimento do público. “Para além da questão da bilheteria, tem essa satisfação de você se sentir querido, incluído na vida das pessoas. Elas não nos esqueceram”, comemora.





Incremento de produção 

Todos os atores e produtores com quem convive estão muito felizes, conforme aponta. “Agora está todo mundo muito animado, muito ouriçado. Eu e Ílvio já fomos convidados para dirigir espetáculos que vão estrear em breve, o que já é reflexo de um incremento de produção, por causa da Campanha, que deu esse gás em todo mundo do meio.”

Sobre o espetáculo que apresenta ao lado de seu parceiro neste fim de semana, ele observa que foi desenvolvido durante a pandemia, com direção de Jair Raso – também autor do texto, escrito especialmente para a dupla há 12 anos. A estreia ocorreu em Fortaleza (CE), em novembro de 2020, quando houve uma flexibilização que permitiu a abertura dos teatros com 30% da capacidade de ocupação.

“Depois voltamos para Belo Horizonte, fizemos duas apresentações e, com a piora dos índices da pandemia, fechou tudo de novo”, recorda Canguçu. A partir de quando o cenário epidemiológico permitiu, “Maio, antes que você me esqueça” passou a circular por várias cidades do interior de Minas, como Diamantina, Tiradentes e Ouro Preto.





A montagem, que aborda a doença de Alzheimer, também cumpriu temporadas em Belo Horizonte, em diferentes teatros, antes de estrear na Campanha. Canguçu diz que o retorno tem sido o melhor possível. “É um espetáculo muito impactante, que tem muita força junto ao público. Na semana passada, um cara chegou a passar mal na plateia. Depois ele veio nos dizer que foi de emoção, porque ele viu em cena a história de vida dele com o pai”, conta.

Quando resolveram montar a peça, segundo diz, nem imaginavam que pudesse ter um alcance de público tão grande, porque não é uma comédia – gênero com o qual ele e Ílvio são mais identificados pelo público. “Mas as pessoas riem também”, pontua. “É uma peça dramaticamente cômica, mas com tudo feito, obviamente, sem desrespeitar as pessoas, as famílias que enfrentam esse problema do Alzheimer”, acrescenta.

48ª CAMPANHA DE POPULARIZAÇÃO DO TEATRO E DA DANÇA

Até domingo (12/2). Os ingressos para todos os espetáculos custam R$ 20 no site da Campanha e nos Postos Sinparc (Shopping Cidade e Pátio Savassi). Nas bilheterias dos teatros, o preço varia

ÚLTIMOS DIAS DA PROMOÇÃO

Confira os espetáculos que encerram a 48ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança 


Dança

“Flores de coragem – Mimulus 30 anos”, domingo, às 19h, no Grande Teatro do Palácio das Artes

Teatro infantil

“A vaquinha Lelé”, sábado, às 16h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas

“As botas do gato”, sábado, às 16h30, e domingo, às 11h e às 16h30, no Teatro Francisco Nunes

“Três porquinhos – A clássica história”, sábado e domingo, às 16h30, no Teatro da Assembleia

“A Liga da Justiça vs. Coringa”, sábado e domingo, às 16h, no Teatro Pátio Savassi

“Os três porquinhos – O clássico”, sábado e domingo, às 16h, no Teatro Marília

“O livro encantado”, sábado e domingo, às 16h, no Teatro da Biblioteca Pública Estadual

“Os Saltimbancos”, sábado e domingo, às 11h, no Espaço Alternativo Shopping Cidade

“Os Vingadores”, sábado, às 14h e 17h15, e domingo, às 17h15, no Teatro Pátio Savassi

“Aquarela – um show cênico”, domingo, às 17h, no Grande Teatro do Sesc Palladium

“Rapunzel”, domingo, às 16h, no Grande Teatro do Cine Theatro Brasil Vallourec

“Peter Pan”, domingo, às 16h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas

“O gato de Botas”, domingo, às 16h, no Teatro Estação BH

“As aventuras de Buzz, Wood e Jessi”, domingo, às 14h, no Teatro Pátio Savassi


Teatro adulto

“Defunto bom é defunto morto”, sexta, sábado e domingo, às 20h, no Teatro da Assembleia

“Santinhas do pau oco em nunca fui santa”, sexta, às 20h, e domingo, às 19h, no Teatro João Ceschiatti, do Palácio das Artes

“O homem do caminho”, sexta e sábado, às 20h, no Teatro Estação BH

“Arrivederci, Ítalo”, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h, na Funarte MG

“Nós”, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h, no Galpão Cine Horto 

“Dois casais em maus lençóis”, sexta, às 21h, no Teatro Padre Machado

“Flow – A dança do mundo”, sexta e sábado, às 20h, no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil Vallourec

“Macbeth 22”, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h, na Funarte MG

“Café com Jandira”, sexta e sábado, às 20h30, e domingo, às 19h, no Teatro Francisco Nunes
 
“Como desencalhar depois dos 30”, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h, no Teatro Pátio Savassi

“Deus da carnificina”, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h, no Teatro Marília

“Família pão com ovo”, sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h, no Teatro Raul Belém Machado

“Luzia, entre o mangue e o mar”, sexta, sábado e domingo, às 20h, no Teatro de Bolso do Sesiminas

“Maio, antes que você me esqueça”, sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h, no Teatro Feluma 

“Como sobreviver em festas e recepções com buffet escasso”, sábado, às 21h, no Grande Teatro do Cine Theatro Brasil Vallourec

“Nas ondas do rádio”, sábado, às 20h30, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas

“Cuidado pro meu pai não descobrir”, sábado, às 21h, no Teatro Padre Machado

“A sogra que eu pedi a Deus!”, domingo, às 19h, no Teatro Padre Machado

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