Vestida de preto e com o cabelo em tranças suspensas, Gaby Amarantos olha de perfil para a câmera

Em turnê de "Tecnoshow vol.1", álbum que reúne os maiores sucessos do início de sua carreira, Gaby Amarantos já pensa em gravar o volume 2

Rodolfo Magalhães/Divulgação

A cantora Gaby Amarantos não recebeu o título de “musa do tecnobrega” à toa. A paraense começou sua trajetória na música brasileira com a banda TecnoShow, em 2002, e os maiores sucessos de sua carreira solo são músicas que pertencem a esse subgênero musical, como “Ex mai love”, que foi tema da abertura da novela “Cheias de charme” (2012).

Em dezembro passado, para marcar os 20 anos da banda que a tornou conhecida nacionalmente, Gaby Amarantos lançou o álbum “Tecnoshow vol.1”. O disco traz a regravação de oito músicas, incluindo “Nova chama” e “Príncipe negro”, ambas de autoria de Gaby, que fizeram muito sucesso no Norte do país desde seu lançamento original. 

Em entrevista ao Estado de Minas, a artista afirmou que considera cumprido seu objetivo com esse projeto, que é o de fazer o tecnobrega ser valorizado e respeitado em todo o país. “A gente quer legalizar esse movimento da periferia de Belém, do Norte, da Amazônia. Queremos trazer esse selo de qualidade para mostrar que agora as músicas são autorizadas”, diz ela. 

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Frequentemente, as canções do tecnobrega são versões de hits já lançados, com modificações na letra e na melodia, acentuando riffs de guitarras e batidas eletrônicas que lhe são um som característico. 

O problema é que, na maioria dos casos, as versões de tecnobrega não têm autorização do artista detentor dos direitos da canção original. “A gente fazia as coisas com pouco recurso, sem grana. Nós conseguimos entregar o melhor que a gente podia”, afirma Gaby Amarantos em relação ao início de sua carreira no tecnomelody, como também é conhecida essa produção. 



Com “Tecnoshow de 2023”, a história foi outra. A artista conseguiu a aprovação para lançar sua versão das músicas gravadas. “Mandamos lenha na fogueira”, comenta, em tom de comemoração.

Ela conta que os detentores dos direitos originais de algumas das músicas incluídas em “Tecnoshow vol. 1” aprovaram as versões “brega” sem pedir mudanças. “Às vezes, a letra está um pouco distante da original, mas o artista aceita.”

No entanto, o contrário também acontece: quando o autor da canção não gosta das mudanças para o brega e é necessária uma readaptação. Esse foi o caso de “Sentimentos”, baseada em canção dos Bee Gees, na qual Gaby precisou fazer uma série de alterações. “A gente teve que fazer a música mais próxima da deles para eles aprovarem.”

No final do processo, chegaram a um acordo. “Os Bee Gees adoraram o resultado e amaram saber que tem uma versão de ‘Emotions’ em brega, que virou ‘Sentimentos’.” 

Ela afirma que esse processo de modificar a canção, que é mediado por gravadoras, gera um crescimento profissional e artístico. “Rola uma conexão e a gente consegue trocar uma bola para fazer uma canção que fique legal para o dono da música e a galera também.”

Após a autorização do artista original, Gaby é creditada como ‘versionista’ nas canções que são versões de músicas internacionais. “As letras em português são minhas”, explica. “Eu brinco que as versionistas são meio compositoras, porque elas pegam a melodia de outra pessoa e vão botando letra.”

O álbum teve um toque mineiro. O produtor Baka, que fazia parte da hoje extinta banda Rosa Neon, trabalhou na mixagem das faixas e no tratamento vocal. Atualmente, Baka integra a banda de Gaby Amarantos.

Inglês

A cantora defende as versões brasileiras de músicas estrangeiras que se tornaram sucesso no Brasil. “Menos de 5% da população brasileira fala inglês. E a galera quer cantar e ter a sua versão em português para cantar”, afirma. 

Ela conta que algumas pessoas conhecem primeiro os hits na versão brega e apenas depois passam a conhecer a canção em inglês que os originou. Ela exemplifica com “Reacender a chama”, que é a versão tecnobrega para “True colors”, da norte-americana Cindy Lauper.

Os fãs, especialmente os do Norte do país, pediam há tempos por um álbum com hits do tecnobrega, segundo ela conta. “Foi o primeiro público que me acolheu. É uma loucura, porque, na frente do palco, o povo estava sempre chorando, gritando e cantando. E tem várias histórias de casais (formados ao som do tecnobrega).”

Como  “Tecnoshow vol.1” celebra o período da carreira de Gaby Amarantos com a banda homônima, a capa do disco é composta por foto dessa época. 

“Nosso trabalho é sempre pensado com cuidado do visual. Não vai ter ensaio fotográfico que reproduza o que foi a identidade do tecnobrega. Então, pegamos uma foto desta época e colocamos como capa”, diz. Na avaliação da cantora, o resultado ficou “muito único, porque tem uma cara de brega, mas tem uma cara de música de periferia”. 

O sucesso do álbum, segundo ela comenta, foi além do esperado. “Deu tão certo que eu estou com vontade de fazer mais. Quando sai alguma música internacional, eu já fico (pensando): ‘Daria uma ótima versão em tecnobrega’”, afirma, empolgada. 

No entanto, como o processo de autorização de músicas é lento, esse segundo álbum pode demorar. “Mas vai sair, se Deus quiser”, diz.  

Em turnê com o disco, a paraense espera fazer shows em BH, embora ainda não tenha uma data agendada na capital mineira.

“Tecnoshow vol.1”
• Gaby Amarantos
• Deck (8 faixas)
• Disponível nas plataformas digitais