Foram 12 canções em apenas 13 minutos, com direito a remix de funk feito por um DJ brasileiro, anúncio de nova gravidez e um "merchan" de sua marca de cosméticos.
Longe dos palcos há sete anos, a cantora Rihanna marcou seu retorno com uma apresentação ao vivo durante o show de intervalo do Super Bowl, a final da Liga de Futebol Americana (NFL, na sigla em inglês) e o evento esportivo mais importante dos Estados Unidos, no último domingo (12/02).
Mas se a cantora natural de Barbados encantou — e desencantou — fãs ansiosos ao redor do mundo — as críticas foram de muito positivas a muito negativas, não paira dúvida sobre quão acertada foi sua decisão de se apresentar no Super Bowl, pela qual, assim como outros artistas, não recebeu um único centavo de cachê.
É o conhecido "efeito Super Bowl".
A cantora voltou a ser a mais ouvida do mundo. Seu show foi visto por quase 120 milhões de expectadores, 5 milhões a mais do que a apresentação conjunta dos rappers Dr. Dre, Snoop Dogg, Eminem, Mary J. Blige e Kendrick Lamar no ano passado. Além disso, 17 de suas canções ficaram no Top 40 no aplicativo Spotify.
Rihanna também ganhou 3 milhões de seguidores no Instagram e as buscas por sua marca de cosméticos, a Fenty Beauty, cresceram 833% após ela exibir um espelho compacto para retocar a maquiagem durante o show.
Também aproveitou para expor a nova coleção de sua recém-lançada linha de lingeries, a Savage X Fenty.
A ação de marketing, que acabou gerando mais repercussão nas redes sociais do que qualquer outro produto dos anunciantes presentes, deve aumentar ainda mais a fortuna da cantora, hoje estimada em US$ 1,7 bilhão.
Rihanna é a mulher mais jovem a ter se tornado bilionária nas Américas e segue sendo uma das artistas mais ricas do mundo, não tanto por sua habilidade vocal, mas em grande parte devido à sua empresa de maquiagem, da qual é dona junto com a gigante de beleza francesa LVMH.
'Efeito Super Bowl'
O talento de Rihanna para negócios muito possivelmente pesou em sua decisão de se apresentar no show de intervalo do Super Bowl.
Em coletiva de imprensa do principal patrocinador do evento, a Apple Music, no entanto, ela deu outra justificativa: representatividade.
"Essa é uma grande parte do motivo pelo qual é importante para fazer esse show: representatividade", disse Rihanna na ocasião.
"Representatividade os imigrantes. Representatividade para as mulheres negras em todos os lugares. Isso é fundamental para que as pessoas vejam as possibilidades. (…) Nunca poderia imaginar que chegaria aqui, então é uma celebração disso. Estou muito animada por ter Barbados no palco do Super Bowl."
A cantora também afirmou que a maternidade a fez se sentir ainda mais forte e querer fazer algo grande e significativo, especialmente para mostrar essa representatividade ao filho.
Rihanna é mãe de um menino de oito meses com o rapper americano A$AP Rocky e agora está grávida do segundo.
"Há algo que simplesmente acontece quando você sente que pode conquistar o mundo. Você pode fazer qualquer coisa", disse.
"O Super Bowl é um dos maiores palcos do mundo, então, por mais assustador que seja, porque eu não subo no palco há sete anos, há algo emocionante sobre o desafio de tudo isso. É importante para eu fazer isso este ano. É importante para a representatividade. É importante que meu filho veja isso."
Na prática, artistas geralmente gastam milhões de dólares de seu próprio dinheiro para bancar os custos de produção do evento, mas nenhum deles é remunerado.
Exposição
Por quê?
A resposta é: exposição.
O Super Bowl é assistido por 200 milhões de pessoas em todo o mundo, a maior parte nos Estados Unidos.
Não por menos, custa caro — e muito — anunciar no evento. Um intervalo de apenas 30 segundos durante o jogo deste ano custava US$ 7 milhões (cerca de R$ 36 milhões).
Mas o "sacrifício" de trabalhar de graça compensa.
O cantor Justin Timberlake viu um aumento de 534% nas vendas de música após se apresentar no Super Bowl em 2004 como artista convidado pela cantora Janet Jackson.
Já o cachê do rapper Travis Scott passou de US$ 500 mil para US$ 1 milhão depois do show de intervalo de 2019, em que se apresentou como artista convidado com o também rapper Big Boi em show comandado pelo grupo Maroon 5.
As cantoras Jennifer Lopez e Shakira ganharam 3 milhões de seguidores depois de sua apresentação em 2020.
Em 1993, a apresentação do cantor Michael Jackson, morto em 2009, bateu recordes de audiência e levou o álbum "Dangerous", lançado em 1991, ao topo das paradas de sucesso.
Os benefícios financeiros são ainda maiores quando os artistas fazem coincidir esses shows com turnês.
O cantor The Weeknd vendeu 1 milhão de ingressos para shows uma semana após se apresentar no Super Bowl em 2021.
Já os Rolling Stones estabeleceram um recorde de US$ 558 milhões em receita para sua turnê após o show do intervalo de 2006.
Segundo a empresa de compra e venda de ingressos StubHub, os artistas geralmente veem um aumento de 50% nas pesquisas por ingressos após se apresentarem no Super Bowl.
No caso de Rihanna, a cantora não lança um álbum desde 2016 e não tem turnê prevista, mas vai ganhar milhões em dólares da Apple Music por um documentário que fará sobre seu show no Super Bowl.
Além disso, deve faturar ainda mais com suas marcas.
Protesto
Mas se para os artistas os benefícios são claramente tangíveis, nem todos têm a mesma sorte.
Rihanna, exibindo um traje vermelho que a identificava facilmente no palco, se apresentou com centenas de dançarinos profissionais vestidos de branco.
Porém, anteriormente, a NFL pedia aos dançarinos profissionais que se apresentassem sem remuneração no show do intervalo do Super Bowl.
Eles eram obrigados a fazer 72 horas de ensaios durante os nove dias antes do jogo.
Mas, em meio à controvérsia depois de um contrato ter viralizado no ano passado, a NFL agora paga os dançarinos cerca de US$ 15 por hora.