O britânico Kit Parfitt não tem ilusões sobre a qualidade de alguns dos lançamentos recentes da Marvel Studios da Disney: as minisséries She-Hulk e Moon Knight foram fracas, diz ele. O filme Thor: Amor e Trovão foi ainda pior. "Não é para ser visto de novo."
Mas o jovem de 27 anos, que se diz um "gigantesco" fã da Disney, afirma que essas decepções não o impedirão de ir aos cinemas este mês para conferir a estreia de Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania.
"Quando se trata de Marvel, Guerra nas Estrelas, eu assisto a qualquer coisa", diz ele.
Esse comprometimento dos fãs com a Disney é crucial para a empresa vencer a concorrência em um mundo de queda nas bilheterias de cinema, cancelamentos de TV paga e plataformas deficitárias de streaming.
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Este ano, serão lançados novos filmes da Pequena Sereia, do Indiana Jones e dos Guardiões da Galáxia. Em seguida, virão Toy Story 5, Frozen 3 e uma continuação de Zootopia.
A estratégia é a mesma que Iger implantou em sua primeira gestão como executivo-chefe da Disney, entre 2005 a 2020, quando o conglomerado adquiriu a Marvel, a Pixar e a Lucasfilm. Nesse período, o preço das ações da empresa aumentou mais de seis vezes.
Ele disse que a empresa recuará um pouco em sua estratégia de streaming, focando mais em cinema e televisão tradicional.
Mas esta estratégia será suficiente?
Jessica Reif Ehrlich, analista do Bank of America, diz que a força das marcas do grupo Disney são uma vantagem, mas os investidores ainda não estão totalmente convencidos.
O preço das ações da Disney caiu quase pela metade desde março de 2021 — e não subiu muito desde que Iger apresentou seus planos.
"Todo mundo sabe que há muitos desafios", diz Ehrlich. "Há muito trabalho duro pela frente."
Cansaço?
As vendas de ingressos de cinema estão em um patamar cerca de 30% abaixo do de 2019, o último ano antes da pandemia.
E a ascensão do streaming dividiu o público em nichos. Agora é mais difícil gerar o burburinho que costuma levar as pessoas a pagarem por entretenimento.
A britânica Jackie Allen diz que não quis assinar o serviço de streaming Disney+ para seus dois filhos, pois não está convencida do valor do produto
"Parece que eles estão sempre refazendo a mesma coisa apenas para ganhar dinheiro, em vez de fazer algo porque deve ser feito", diz ela.
Mesmo fãs leais como Kit confessam sentir um certo cansaço.
Conversei com ele e sua esposa Andrea na loja da Disney na Times Square, em Nova York. Ele me disse que os recentes filmes de ação da Disney, como o novo Avatar, são bons o suficiente para que ele queira ver no cinema.
Mas Andrea, que se casou ao som de uma música do filme Up da Disney/Pixar de 2009, teme que as tramas complicadas típicas de filmes com muitas continuações, como é o caso de filmes da Marvel, acabam desanimando espectadores mais novos.
E ambos dizem que sentem pouca urgência em ver algo como um Toy Story 5.
O casal diz que está cada vez mais propenso a ficar em casa devido ao aumento do custo de vida. Mas também estão da história — depois de quatro filmes e um spin-off.
"Espremer ainda mais só para ter um quinto filme é um pouco demais", diz Kit.
A acusação de que a Disney depende demais da reciclagem de seus clássicos não é novidade.
Afinal, a empresa vai lançar em breve a nona versão de Branca de Neve e os Sete Anões — a primeira estreou em 1937.
Mas nos últimos anos essa estratégia, que foi bem-sucedida por décadas, se envolveu nas guerras culturais cada vez mais acirradas dos Estados Unidos. Algumas reciclagens de clássicos geraram acusações de conservadores de que a empresa está se tornando "woke" demais.
Por exemplo, o filme Lightyear, um spin-off de Toy Story, gerou uma polêmica no ano passado sobre um beijo entre pessoas do mesmo sexo. A cena havia ficado de fora do filme inicialmente, mas a empresa voltou atrás, depois que funcionários acusaram censura.
Banido em alguns países, o filme foi criticado por políticos de direita, como o senador republicano Ted Cruz, por tratar de temas homossexuais.
Apesar dos riscos de desagradar alguns fãs, a estratégia de lançar mais filmes de franquias segue sendo bem-sucedida, diz Janet Wasko, professora de estudos de mídia na Universidade de Oregon e autora de Understanding Disney: The Manufacture of Fantasy.
"É um pouco arriscado, mas trabalhar bem a base de fãs e consumidores já existentes e expandir as suas possibilidades de consumo — se isso for bem-sucedido, pode gerar lucros enormes. Eu não imagino que eles parem de fazer isso."
A fã da Disney, Amanda Welch, de 29 anos, é assinante da plataforma de streaming da empresa. Ela já esteve no parque Disneyworld mais de dez vezes. A estratégia da Disney de continuar lançando filmes mesmas franquias de grande sucesso não a incomoda.
Ela e o noivo Brandon Dumont, de 31 anos, cancelaram a assinatura do Disney+ algumas vezes para conter gastos. Mas eles sempre acabam voltando. Às vezes, eles ligam o Disney+ simplesmente para ajudar a dormir.
"Não há realmente nenhum filme da Disney que eu tenha enjoado", diz Brandon. "Eu posso revê-los sempre."
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