Quinto volume da série protagonizada pelo detetive Cormoron Strike, “Sangue revolto” veio a público em setembro de 2020 e logo envolveu J. K. Rowling em nova polêmica – na trama para adultos, a escritora britânica assina com o pseudônimo Robert Galbraith.
A narrativa tem um assassino que se disfarçava de mulher para sequestrar suas vítimas. Rowling, que já somava acusações anteriores de transfobia, se viu em meio a nova polêmica junto à comunidade transgênero.
A adaptação televisiva do romance tenta abster-se da questão. A subtrama aparece muito discretamente na narrativa principal, aquela que forma a terceira temporada de “Strike”. Recém-chegada à HBO Max, com novos episódios a cada segunda-feira, “Sangue revolto” parte de um arquivo morto.
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Strike (Tom Burke) está ainda mais melancólico e monossilábico. Sua tia, que o criou enquanto a mãe corria o mundo vivendo novas paixões, está com câncer terminal. É na Cornualha, onde vai visitá-la, que o detetive é apresentado ao seu novo caso. Anne Phipps (Sophie Ward) quer saber do paradeiro da mãe, que nunca conheceu.
Madrasta
Margot Bamborough (Abigail Lawrie) era uma clínica geral em Londres quando deixou seu consultório numa noite de 1974 para ir ao pub. Nunca mais foi vista, e Anne, um bebê na época, só veio a descobrir mais tarde que a mulher que acreditava ser sua mãe era sua madrasta. Quase 50 anos depois, Strike deixa claro que a possibilidade de saber o que ocorreu com Margot é quase nula.Mas a filha quer uma conclusão para a história, já que houve muitas teorias sobre o desaparecimento. A maior delas é que Margot teria sido mais uma das vítimas de Dennis Creed, um célebre assassino de mulheres daquela época. Mais do que Strike, é Robin Ellacott (Holliday Grainger), sua antiga estagiária e hoje sócia, quem embarca de cabeça na investigação.
Por meio de antigos registros, acompanhamos a trajetória de Margot, uma feminista corajosa que ajudava mulheres em apuros – tanto as vítimas de violência doméstica quanto aquelas que necessitavam de um aborto clandestino. Ela não era bem-vista por todos, e o casamento arruinado seguido por uma paixão pelo homem errado não a ajudaram muito.
No final do primeiro episódio, Robin descobre um filme Super-8 que a deixa estarrecida. Ela mesma uma sobrevivente de estupro, acaba revivendo seu próprio trauma. Revirando o passado alheio, Strike também tem que lidar com os próprios fantasmas. Afinal, teria sua vida sido outra se seus verdadeiros pais (ele, um roqueiro que nunca deu a menor bola para o filho tido depois do relacionamento com uma groupie) o tivessem criado?
Menos interessante do que as tramas anteriores, a de “Sangue revolto” enfatiza uma questão que as temporadas iniciais apenas rascunharam. Mais empolgante do que o mistério em questão é a vida dos dois protagonistas.
Strike é um veterano de guerra que perdeu metade da perna direita após um ataque no Afeganistão. Ele é carrancudo, bebe e fuma demais, está à frente de um escritório de detetives decadente. Mas sua inteligência acima da média o leva a resolver grandes casos, o que lhe garante relativa fama.
A vida desregrada sofre um baque assim que Robin se apresenta como sua estagiária. Ela é solar, brilhante e está disposta a qualquer coisa. O noivo idiota que não demora a se tornar seu marido saca o que todo mundo (incluindo os espectadores, claro) já tinha percebido: os dois estão apaixonados, só demoram a perceber isso. Isso acontece nas temporadas iniciais.
Na atual, Robin está solteira, assim como Strike. Os não ditos entre este “não casal” acabam se tornando um fermento para a trama. O espectador gosta de ser enganado: será desta vez?. Pelo bem da série (afinal, no fim das contas, é uma narrativa policial) é provável que eles nunca cheguem às vias de fato. A conferir: Strike ganhou em 2022 um sexto volume, ainda inédito no Brasil.
“C. B. STRIKE: SANGUE REVOLTO”
• Terceira temporada da série, disponível na HBO Max. São quatro episódios – o terceiro estreia na próxima segunda (20/2).
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