Com um carnaval que se anuncia como um dos maiores da história de Belo Horizonte – e que já mostra sua força nas ruas da capital praticamente desde o início deste mês –, sobra pouco espaço para quaisquer outros tipos de programação.
Alguns equipamentos culturais da cidade vão simplesmente suspender as atividades durante o período da folia. Outros, mesmo de portas fechadas, vão realizar ações externas integradas ao carnaval. E ainda há aqueles que seguem com seu cronograma de atividades normalmente, como se nada estivesse acontecendo.
Com exceção da segunda-feira (20/2), o Cine Una Belas Artes, por exemplo, estará aberto durante todos os dias de carnaval. Quem quiser se refugiar da festa na sala escura tem como opções os filmes “Perlimps”, “Triângulo da tristeza”, “Os Banshees de Inisherin”, “Os Fabelmans”, “A baleia”, “Casamento em família”, “Aftersun”, “Till – A busca por justiça” e “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, que dividem horários nas três salas do complexo.
Já o Cine Santa Tereza estará de portas fechadas a partir deste sábado (18/2) até a quarta-feira de cinzas (22/2). “Santa Tereza fica uma loucura com o carnaval, é impraticável abrir”, diz a coordenadora do espaço, Vanessa Santos, aludindo ao bairro que tem uma das maiores concentrações de blocos da cidade.
Ela destaca que o período de suspensão da programação não implica prejuízo ou tem qualquer impacto para o cinema de rua localizado na Praça Duque de Caxias. “Consideramos que as pessoas estão mais no clima da festa na rua do que dispostas a ir ao cinema. Para nós, que trabalhamos lá, é um momento de descanso”, diz.
Manutenção dos espaços
O CCBB-BH também estará fechado durante todo o período de carnaval. A gerente geral do centro cultural, Gislane Tanaka, diz que a pausa é uma oportunidade para conceder folga aos colaboradores e realizar a manutenção dos espaços que compõem o prédio histórico, localizado na Praça da Liberdade.
“Nosso funcionamento é bastante estendido, são 12 horas por dia durante seis dias da semana, com recessos apenas no Natal, no ano-novo e no carnaval, que é bastante aguardado pelas equipes, seja para cair na folia ou para descansar”, comenta. Ela avalia que o carnaval tem um impacto positivo para o CCBB-BH, ainda que ele fique fechado durante o período.
Muitos turistas chegam na cidade na semana que antecede o feriado, buscam atrações culturais, e o CCBB-BH acaba entrando nesse roteiro, segundo Gislane. “O mesmo vale para os foliões que permanecem após a quarta-feira de cinzas, quando reabrimos ao público. E, neste ano, a programação está ainda mais especial, com a inauguração da exposição ‘Osgemeos: nossos segredos’, em 22 de fevereiro, a partir das 12h”, ressalta.
Funcionamento parcial
O Centro Cultural Unimed-BH Minas vai funcionar parcialmente. Inauguradas no ano passado, as salas de cinema, que passaram a integrar o complexo, seguem com sua programação normal. Como é o primeiro ano em que estarão funcionando durante o carnaval, será um período de avaliação, para ver se haverá procura pelas sessões, segundo a assessoria de comunicação do centro cultural.
A biblioteca também estará aberta, mas somente no sábado, até as 13h, e na quarta-feira de cinzas, a partir das 13h. O teatro do Unimed-BH Minas fica fechado, porque não há demanda por parte dos produtores para este período. O Centro de Memória, que ficava aberto em carnavais passados, este ano estará fechado. A Galeria de Arte está sendo preparada para uma nova mostra e, portanto, também não estará acessível ao público.
Presença na folia
Principal equipamento cultural público do estado, o Palácio das Artes está fechado a partir desta sexta-feira (17/2) e assim permanece até a quarta-feira de cinzas. Mas isso não quer dizer que as atividades da Fundação Clóvis Salgados (FCS) estejam suspensas durante o período de carnaval. A instituição está participando do Carnaval da Liberdade, promovido pelo governo do estado por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo.
Uma grande ação, vinculada à folia de Momo, será desenvolvida ao longo dos próximos dias na Praça da Liberdade. “Fisicamente, nossa sede estará fechada, mas, operacionalmente, estamos todos trabalhando lá em algo muito maior do que o Palácio das Artes poderia comportar”, diz o presidente da FCS, Sérgio Rodrigo Reis.
Ele se refere à ação batizada como Atrium da Liberdade, que tem a proposta de transformar a praça num grande espaço de convivência, com uma programação diversa que engloba aulas, oficinas, dicas de customização, maquiagem, música e dança, além de concursos de fantasia e outras atividades ancoradas no carnaval.
Figurinos e adereços
A exposição “No balancê, balancê: figurinos e adereços”, aberta no início desta semana no Palácio da Liberdade, também integra as atividades do Atrium. A mostra reúne trabalhos do artista visual Décio Noviello e traz a público a relação que ele manteve com a produção de figurinos operísticos, em especial para as montagens da Fundação Clóvis Salgado.
Reis destaca que a Praça da Liberdade será uma grande área de descompressão, inclusiva e representativa, dentro da maior festa popular do país. Ele considera que a criação desse espaço é fundamental para que a população da cidade se sinta acolhida durante a folia.
“Transformar a Praça da Liberdade em um ambiente que abraça ainda mais a diversidade, o respeito e o carinho pela população mineira, especialmente durante o período de maior efervescência e celebração no país, é uma ação mais do que necessária. A ideia é proporcionar aos visitantes uma variedade de atrações inclusivas, com áreas e atividades para recarregar as energias”, aponta.
Capacidade operacional
Ele destaca que as atividades no Atrium da Liberdade vão ser realizadas em horários que não sejam conflitantes com os blocos que vão passar pela região. “Se tiver desfile à tarde, nossa programação acontece de manhã, e vice-versa. Como haverá blocos grandes, não combina com nossa capacidade operacional de atender. Mas carnaval é uma ocupação de rua, então a Fundação Clóvis Salgado está indo para a rua”, diz.
O local estará equipado com mesas e cadeiras, guarda-sóis, grama sintética e ventiladores. Esses espaços ocupados pelo Atrium da Liberdade também vão servir de ponto de informação para orientar sobre os blocos de rua, campanhas de conscientização e entregas de sacos de lixo.
Reis ressalta que o carnaval tem um impacto positivo para a Fundação Clóvis Salgado, porque além de possibilitar essa aproximação com outros públicos que habitualmente não frequentam o Palácio das Artes, enseja a programação da casa. A mostra de filmes que tem Carmen Miranda e a folia de Momo como mote, realizada desde o último dia 7 no Cine Humberto Mauro, é um exemplo.
Impacto positivo
Também para o Sesc Palladium o carnaval tem um impacto positivo, segundo a gerente geral do centro cultural, Priscilla D’Agostini. “A gente acredita que é um período em que as festividades vão estar muito voltadas para a rua, com muitos blocos passando pelo Centro, então optamos por fechar. Vamos aproveitar a oportunidade para uma manutenção interna, com a unidade vazia, porque ela praticamente nunca está fechada para o público”, diz.
Ela ressalva que, apesar de o centro cultural estar de portas fechadas, o Sesc marca presença no carnaval. A entidade participa com o Palco Sesc na Praça da Estação, onde diversos grupos e artistas vão se apresentar na segunda (20/2) e na terça (21/2). A justificativa para essa ação é que, como se trata de uma grande festa popular, o carnaval abre oportunidades para a cadeia do comércio, serviços e turismo na cidade, girando a economia da região.
“Como Sesc, estamos fortemente presentes no carnaval, com o palco na Praça da Estação e com diversas outras ações; e como Sesc Palladium, estamos aproveitando o momento para botar a casa em ordem. Fizemos opções para o bem-estar do público”, aponta Priscilla.
Patrocínio ao carnaval
O Sistema Fecomércio MG, Sesc, Senac e Sindicatos Empresariais destinaram mais de R$ 1 milhão à Prefeitura de Belo Horizonte, como forma de patrocínio ao carnaval. Em contrapartida, o Sesc poderá ativar sua marca em painéis expostos na Praça da Estação e no desfile das escolas de samba.
O palco montado na Praça da Estação vai receber um total de oito shows ao longo dos dois dias. Na segunda-feira, vão se apresentar Adriana Araújo, Swing Safado, Pagode das Minas e Grupo Axtral. Já na terça, as atrações são o Samba na Roda da Saia, o Baile do Maguá, Manu Dias e Geisa Carneiro. Com a programação tendo início às 16h, em ambos os dias DJs vão intercalar as apresentações.
O Sesc ainda será responsável por duas outras ações nos dias de carnaval. Uma delas no obelisco da Praça Sete, com foco na prevenção contra as infecções sexualmente transmissíveis. A outra será a instalação de um totem na Praça Rio Branco, com mensagem de boas-vindas para turistas que chegam pela rodoviária, e um QR Code que direciona para a programação do carnaval de BH.