“Este carnaval está carregado de emoção, pois representa a mudança das coisas loucas que vivemos nos últimos anos. Marca tanto o final da pandemia quanto a volta de um olhar de esperança para a cultura. São muitos símbolos para a gente, ainda mais depois de dois anos sem carnaval.”




A fala é do guitarrista Roberto Barreto, fundador do BaianaSystem – banda relevante do cenário atual, que chega a Belo Horizonte nesta segunda-feira (20/2) para tocar no Carnaval do Mirante, uma das várias festas que marcam a temporada.

Se para o Baiana a festa é de renascimento, para o Bala Desejo, atração do mesmo evento, ela representa a finalização de um ciclo, explica o cantor e compositor Zé Ibarra. “Na pandemia, quando criamos o disco (‘Sim sim sim’, de 2022, que marcou a estreia da banda), pensamos justamente no que poderia acontecer no pós-pandemia. Era um alento para tudo de ruim (da época). Agora, estamos podendo viver isso de fato, no palco.”
 

Nos shows durante a folia, grupo carioca Bala Desejo reforça o espírito carnavalesco que já estava presente no disco 'Sim sim sim'

(foto: Leco Moura/divulgação)
 
 
As duas bandas, a exemplo de centenas de outras, estão com agenda cheia neste mês. O Baiana tocou sexta-feira (17/2) em Vitória; ontem, levou seu trio, o Navio Pirata, para o carnaval de Salvador. Depois de BH, vai se apresentar nesta quarta (22/2), no Rio de Janeiro.




 
Na sexta de carnaval (17/2), o grupo lançou dois singles, “Duas cidades” e “Várias queixas”, do projeto Olodumbaiana, que marcou o primeiro encontro dos dois grupos de Salvador. As faixas foram gravadas ao vivo em janeiro, no show que fizeram juntos no Festival de Verão da capital soteropolitana – ainda este ano, deve ser lançado o álbum do encontro.
 

Público do Navio Pirata baiana aproveita a folia com liberdade, sem a obrigação de pagar por abadás

(foto: Filipe Cartaxo/divulgação)
 
 
Belo Horizonte tem sua carga de responsabilidade no projeto. Em julho de 2022, o festival Sensacional escalou o Olodum, que convidou Russo Passapusso, vocalista do Baiana, para uma participação. “A gente tem o Olodum como referência. A partir disso, começamos a pensar em fazer um show inteiro”, conta Barreto.
 
Show no carnaval é outra coisa, comenta o guitarrista. “Mesmo quando a gente não está no trio, a sensação não é de um show comum. Mudamos muitas coisas, há músicas que não estavam tocando tanto. Tem muita coisa que vem da própria reação do público”, acrescenta.




 

 

Folia social

O BaianaSystem nasceu em 2009, a partir de músicos experientes do cenário local. A intenção inicial era encontrar novas possibilidades para a guitarra baiana – o encontro com o reggae e o dub (sua versão eletrônica) foi inevitável. Assim como mostrar uma nova forma de se fazer carnaval.
 
“Para a gente, que é de Salvador, o carnaval é um acontecimento social que envolve muita coisa. Não é só festa”, comenta Barreto, que tocou por anos na Timbalada e se apresenta na folia baiana desde meados dos anos 1990. O grupo estreou com seu trio no carnaval de 2010. O Navio Pirata nasceu como alternativa à lógica mercantilista da festa de Salvador.
 
“O Navio Pirata é um trio menor, mais próximo das pessoas e dos próprios trios do passado. Tem um som mais grave, que vem da cultura do soundsystem”, explica. A vinda deste modelo de trio também foi de encontro ao desgaste da versão então vigente, de superproduções que elitizavam a festa, cujo auge ocorreu entre os anos 1990 e o início deste século.





“Muito disso mudou, mas não acredito que as cordas baixaram por u
ma conscientização. Isso aconteceu por uma lógica do mercado, e este funciona com base no lucro. Quando os abadás pararam de vender, naturalmente os trios tiraram as cordas”, afirma.
 
De acordo com Barreto, o Navio Pirata já nasceu “para piratear o sistema”. De uma década pra cá, os trios pipoca (sem venda de abadás) voltaram a ter espaço. “No primeiro dia do carnaval de Salvador, no Circuito Dodô (Barra/Ondina), só dois blocos tinham abadá; todos os outros foram abertos.”

Das lives para o palco

O carnaval do Bala Desejo teve início no sábado (18/2), quando o quarteto formado por Zé Ibarra, Dora Morelenbaum, Julia Mestre e Lucas Nunes fez, no Rio, o Bala Baile Show, festa que contou com Ney Matogrosso e Criolo como convidados. Depois de BH, a banda ruma para o Recife, onde será a atração de amanhã no festival Rec-Beat.





Criada pelos quatro amigos de colégio em meio à crise sanitária, a banda estreou no universo virtual, nas lives da cantora Teresa Cristina, no Instagram. Lançado em abril de 2022, “Sim sim sim” recebeu, seis meses mais tarde, o Grammy Latino de Melhor álbum pop em português.
 
“O show do Bala já é meio carnavalesco, não pelo gênero da música (música brasileira em essência, com muita influência dos tropicalistas), mas pela energia, com muita dança e gritaria”, comenta Ibarra.
 

 
 
Uma das melhores canções de “Sim sim sim” é “Baile de máscaras” (“Noutro carnaval/ Multidões pela cidade/ Num desbunde geral/ Ah, ah/ Eu, você, nós três/ No calor dessa vontade/ Quero mais uma vez”), que trata da nostalgia de outros tempos.




 
“O show está cada vez mais, pois estamos aprimorando tanto a parte de cenografia quanto de instrumentação. Vivemos o processo de debulhar o disco”, diz Ibarra. “Sim sim sim” vai continuar rodando o Brasil até o fim deste ano.
 
No meio disso tudo, Ibarra e os demais integrantes da banda seguem com seus próprios projetos. O cantor foi muito celebrado durante “A última turnê de música”, que marcou a despedida de Milton Nascimento dos palcos. Além de dividir os vocais com Milton, Ibarra fez o show de abertura de todas as datas.
 
“Saí da turnê com muito aprendizado. Minha parcela de felicidade aumentou muito depois de vivenciar cantar ao lado de 70 mil pessoas, no Mineirão, ao lado do cara que mais amo no mundo”, diz ele.

Sem parar um minuto, Zé Ibarra pretende lançar seu primeiro álbum solo e o segundo com o Dônica, grupo que criou em 2015 ao lado de Lucas Nunes (parceiro de Bala), além de Tom Veloso, André Almeida e Rodrigo Parcias.




 
“Este ano, vai ser tudo, vai ser mais”, diz Ibarra, que continua compondo. “É um pouco complexo, pois meu tempo é muito consumido por tarefas, falta de sono, viagens de avião e ônibus. Sento porque tenho que compor. No final das contas, é a minha profissão, vivo disso.” porque tenho que compor. No final das contas, é a minha profissão, vivo disso.”

CARNAVAL NO MIRANTE

Nesta segunda-feira (20/2), a partir das 16h, no Mirante – Rua Henriqueto Cardinale, 460, Olhos D'Água. Com BaianaSystem, Duda Beat, Bala Desejo, Péricles e Poze do Rodo. Ingressos a partir de 
R$ 130, à venda no ingresse.com

MAIS FESTAS


» BAILE DO DISTRITAL
Nesta segunda (20/2), a partir das 15h, no Distrital do Cruzeiro – Rua Ouro Fino, 452, Cruzeiro (entrada pela Rua Opala). Ingressos a partir de R$ 70. À venda no ingresse.com.




Atrações: Me Beija que Eu Sou Pagodeiro, Então, Brilha!, Juventude Bronzeada e 
Breno Gontijo

» BLOCO XAINIRÔ
Nesta segunda (20/2), a partir das 21h, no Niágara Eventos – Rua Douglas, 142, Jardim Canadá. Ingressos a partir de R$ 100. À venda no sympla.com.br. Atrações: Wanessa Camargo, Anne Louise, Lucas Franco, Ady Saback, Diogo Goyas, Luceiro, Lipe Lourenço, Luan Poffo, Rafael Newbold, Chloe, Gustavo Bezzi, Vitor Zucarelli e Fabrinni

» FESTA ESBÓRNIA
Nesta segunda (20/2), a partir das 20h, no Star 415 – Rua Star, 415, Jardim Canadá. Festa com open bar e vários DJs. Ingressos a partir de R$ 400 (feminino) e R$ 520 (masculino). À venda no ingresse.com

» CARNAVAL DOS HORIZONTES
Nesta segunda e amanhã (21/2), a partir das 14h, no Clube Chalezinho – Avenida Mário Werneck, 530, Estoril. Ingressos a partir de R$ 90 (feminino) e R$ 110 (masculino). À venda no sympla.com.br.
Atrações: Mateus Fernandes e Du Monteiro (hoje); Felipe Araújo e Rick e Nogueira (amanhã)

» CARNAVAL DO PORCÃO
Nesta segunda e amanhã (21/2), a partir das 21h, no Espaço Meet – Avenida Raja Gabaglia, 2.671, São Bento. Ingressos a partir de R$ 25. À venda no sympla.com.br.
Atrações: Beiço do Wando e convidado surpresa (hoje); Chama o Síndico, Pacato Cidadão e Baile do Kin (amanhã)

» WE LOVE CARNAVAL
Nesta segunda e amanhã (21/2), a partir das 18h, no Expominas – Avenida Amazonas, 6.200, Gameleira. Ingressos de hoje, a partir de R$ 260; de amanhã, a partir de R$ 230. À venda no sympla.com.br.
Atrações: Jorge & Mateus, KVSH, Gustavo Mioto e Mané Galinha (hoje); Alok, Luisa Sonza, Zé Felipe e Juventude Bronzeada (amanhã) 

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