Passadas as comemorações em torno de seu cinquentenário, a Cia. de Dança do Palácio das Artes, um dos corpos artísticos da Fundação Clóvis Salgado (FCS), vive momento de mudanças. Em janeiro deste ano, Cristiano Reis – que entrou no grupo como bailarino em 2000 e assumiu o cargo de diretor artístico em 2015 – e outros funcionários comissionados foram exonerados.





A FCS divulgou nota em que diz: “As exonerações dos servidores de recrutamento amplo, ocorridas em todas as pastas, em janeiro, levam em consideração a necessidade de reorganização e reestruturação administrativa, com vista à racionalização do uso dos recursos públicos e promoção do aumento da produtividade dos servidores que integram o Grupo de Direção e Assessoramento da Administração direta e indireta do Poder Executivo”.

Queixas de profissionais ligados à Cia. de Dança do Palácio das Artes ensejaram a divulgação da nota. Eles reclamam da falta de transparência e de justificativas para os desligamentos.
 
Cristiano Reis acredita tratar-se de algo que se relaciona diretamente com o mais recente espetáculo da companhia, “m.a.n.i.f.e.s.t.a.”, que encerrou as celebrações do cinquentenário com apresentações em 5 e 6 de novembro do ano passado.
 
O ex-diretor artístico o caracteriza como “muito forte” e ressalta que o espetáculo condensa proposições que vêm orientando o trabalho da companhia ao longo dos últimos 23 anos. Ele alude a uma construção coletiva e colaborativa, que explora a diversidade, a pluralidade e a interdisciplinaridade, criando pontes com outras áreas – como a performance, o vídeo e o teatro – e em permanente diálogo com temáticas atuais e pautas de interesse social.





“No dia 16 de janeiro, fui chamado pela direção da Fundação Clóvis Salgado e tive a notícia de que o espetáculo, que tinha reestreia programada para o dia 15 de março, seria engavetado. ‘Vamos ter que dar um passo atrás’ foi a frase que ouvi. No dia 23 de janeiro, fui demitido por chamada de vídeo, com a alegação de que o governo não tinha aprovado meu currículo”, relata.

'M.a.n.i.f.e.s.t.a' cancelado em 2023

Sobre “m.a.n.i.f.e.s.t.a.”, a nota da FCS diz: “O espetáculo ‘m.a.n.i.f.e.s.t.a.’ foi viabilizado via contrato entre a Fundação Clóvis Salgado e Ministério Público, dentro das homenagens do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, cuja celebração ocorreu no ano passado. Por essa razão, não será novamente montado em 2023. A produção cumpriu a meta com duas apresentações, em 5 e 6 de novembro de 2022”.

Uma das diretoras do espetáculo, Marise Dinis, que atua como colaboradora da Cia. de Dança do Palácio das Artes desde 2004, ocupando cargos temporários, diz que já tinha assinado contrato para retomar os trabalhos com vistas à reestreia de “m.a.n.i.f.e.s.t.a.”. Ela ressalva, no entanto, que chamou a sua atenção o fato de que, durante esse processo de assinatura de contrato, Cristiano Reis não estava copiado nos e-mails.





“Eu já tinha me organizado para retomar o trabalho quando a Associação Pró-Cultura e Promoção das Artes (Appa), que cuida dessas contratações, entrou em contato comigo dizendo que o contrato seria rescindido”, diz.

Bailarina da Cia. de Dança do Palácio das Artes há 35 anos, Mariângela Caramati, afirma: “Estamos sem diretor artístico, numa situação de vulnerabilidade. Sucateamento e desmonte são as palavras que encontro para descrever o momento”.

A nota oficial da FCS emitida a respeito de tais mudanças diz ainda que “em 2023, a Cia. de Dança Palácio das Artes está completa, e todos os bailarinos estão trabalhando em prol da nova programação da Fundação Clóvis Salgado”. 

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