Ator está em primeiro plano, segurando latinha, e ao fundo vê-se a plateia, bem perto dele, durante apresentação da peça Fauna, do grupo Quatroloscinco

A peça "Fauna" convida o público a discutir as intensas transformações enfrentadas pelo mundo contemporâneo

Guto Muniz/divulgação

"Embora 'Get out!' seja a peça mais antiga das que vamos apresentar, conseguimos fazer um arco temporal, no qual o público consegue passar por várias fases de criação do Quatroloscinco"

Marcos Coletta, ator, diretor e dramaturgo

Era virada de século, anos 2000, quando o Grupo Galpão encenou a peça “Um Molière imaginário” em espaços públicos de Belo Horizonte. Numa daquelas apresentações, um adolescente de 13 anos ficou encantado com a performance. Embora já se aventurasse no teatro amador, ele não pensava seguir a carreira de ator.

'Estreia' nas aulas de dramaturgia

O primeiro contato com o Galpão foi fundamental para o nascimento da companhia Quatroloscinco, fundada por ele, Polyana Horta, Rejane Faria e Ítalo Laureano, em novembro de 2007, quando todos eram alunos do curso de teatro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A trupe surgiu nas aulas de dramaturgia latino-americana. Em todos os trabalhos da disciplina, os quatro se reuniam para realizar as tarefas. Eventualmente, um quinto elemento integrava o coletivo, motivo do nome do grupo (“Quatro, os Cinco”, em tradução livre).

“O fato de ser em espanhol é justamente porque estávamos muito inseridos naquela disciplina. Nosso primeiro espetáculo, inclusive, foi baseado em uma peça da Argentina”, revela Coletta, citando o espetáculo “Descaminho”, que estreou em 2007.

Da formação original, permaneceram Coletta, Rejane e Ítalo Laureano. A eles se juntaram Assis Benevenuto e Maria Mourão.
 

"Quando criamos o Quatroloscinco, tínhamos muito frescor. Queríamos descobrir coisas novas e não repetir o que já tinha sido feito, porque a universidade te impõe certo limite"

Rejane Faria, atriz

 

Ao longo de 15 anos, a trupe montou 11 espetáculos autorais e recebeu 14 prêmios em diferentes categorias. Para comemorar essa trajetória de sucesso, o grupo realiza, até maio, a mostra “Quatroloscinco 15 anos: Espetáculos, oficinas e encontros”. O programa deste mês foi definido. A agenda de abril e maio está em discussão. Haverá apresentações, oficinas de dramaturgia e bate-papos sobre bastidores da produção teatral.

Ator Assis Benevenuto põe as mãos duas na cabeça durante a peça 'Get out!'

Assis Benevenuto morre de medo de avião na peça "Get out!", que entra em cartaz em 16 de março

Quatroloscinco/divulgação
 

'Fauna' quebrou a 'quarta parede'

A abertura da mostra será nesta quinta-feira (2/3), no Galpão Cine Horto, com “Fauna”, montagem que estreou em 2016,

Com texto e atuação de Assis Benevenuto e Marcos Coletta, a peça se inspira no livro “O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e fim do indivíduo”, do filósofo Vladimir Safatle. Traz à tona debates sobre as transformações – políticas, culturais e ambientais – que vêm ocorrendo no mundo em decorrência da ação humana.

Além da forte crítica social, “Fauna” chamou a atenção por inserir o espectador na trama, tornando-o, de certa forma, parte do elenco.

“Quando criamos o Quatroloscinco, tínhamos muito frescor. Queríamos descobrir coisas novas e não repetir o que já tinha sido feito, porque a universidade te impõe certo limite”, conta Rejane Faria. “Por exemplo: se estamos estudando o método de atuação de Stanislavski, devemos trabalhar em cima das ideias dele. Porém, tínhamos nossas ideias e métodos, que não estavam contemplados ali. Por isso resolvemos criar o grupo”, emenda.
 

A criação da companhia enquanto integrantes cursavam a graduação se revelou acertada. Afinal de contas, já formados, todos tiveram de lidar com questões que não se limitam ao conteúdo ensinado em sala de aula, como captação de recursos para montar um espetáculo e a divulgação dele.

Essa espécie de antecipação acelerou o amadurecimento do Quatroloscinco, o que rendeu prêmios ao grupo. “Ignorância” (2015), em cartaz nesta programação de aniversário, ganhou o Prêmio Copasa na categoria de melhor atriz (Rejane Faria) e foi nomeada em outras cinco.

Escrita e dirigida por Marcos Coletta e Assis Benevenuto, a peça apresenta dois personagens (interpretados por Rejane Faria e Ítalo Laureano) em diferentes situações, que transitam entre comédia e drama, com o intuito de debater intolerância, preconceito e violência.
 
Ator ergue a mão e brande uma cadeira na peça Ignorância. Em cena há várias cadeiras com as pernas para o ar

"Ignorância" discute os jogos de poder e a intolerância que vem dominando o planeta

Guto Muniz/divulgação

Medo de voar

Outro espetáculo que volta ao cartaz é “Get out!” (2013). Com texto, direção e atuação de Assis Benevenuto, o monólogo é protagonizado por um convicto acrofóbico (pessoa com medo de avião), que lista tragédias aéreas como justificativa de sua fobia.

Entre elas estão o desastre do voo 402 da Tam, em 1996, e os acidentes em Tenerife, em 1977, na Espanha, e Linate, em 2001, na Itália.
 
“Tragédia”, o espetáculo mais recente da companhia, que estreou em 2019, é uma espécie de abordagem contemporânea da tragédia grega, tendo como referência “Antígona”, de Sófocles.

No palco, enquanto jogam sinuca, personagens conversam sobre jogos de poder, parcialidade da Justiça, naturalização da violência e apagamento da memória.

“Embora ‘Get out!’ seja a peça mais antiga das que vamos apresentar, conseguimos fazer um arco temporal, no qual o público consegue passar por várias fases de criação do Quatroloscinco”, destaca Marcos Coletta.

A programação conta ainda com as oficinas “O trabalho de atuação nas peças do Quatroloscinco”, com Ítalo Laureano e Rejane Faria, e “A dramaturgia nas peças do Quatroloscinco”, com Assis Benevenuto e Marcos Coletta.
 
Ator põe a mão na cabeça de atriz na peça Tragédia. O casal é observado por um ator, recostado na parede, e outro artista, que segura câmera e filma a cena

Peça 'Tragédia1 é releitura contemporânea da tragédia grega inspirada em 'Antígona', clássico de Sófocles

Luiza Palhares/divulgação
 
 
Bate-papos virtuais reunirão profissionais encarregados da iluminação, cenografia, trilha sonora, voz e texto, para contar um pouco sobre os bastidores dos espetáculos. “Todos esses elementos são construídos junto com o espetáculo”, explica Rejane Faria. “Estes profissionais estão com a gente nos momentos de improvisações cênicas e nas discussões de texto”, afirma.

“Acompanhando os ensaios, eles podem entender que caminho nós vamos tomar para a cena. É assim com a luz, com o cenário, a trilha sonora e com a voz, porque texto escrito é uma coisa e o falado é outra”, finaliza Rejane.

EM MARÇO

• PEÇAS

>> “Fauna”
De hoje (2/3) a domingo (5/3)

>> “Ignorância”
De 9/3 a 12/3

>> “Get out!”
De 16/3 a 19/3

>> “Tragédia”
De 23/3 a 26/3

Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto). Sessões de quinta a sábado, às 20h; domingo, às 19h. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada), na bilheteria do teatro ou pelo site Sympla (https://www.sympla.com.br/
quatroloscinco)

• OFICINAS

>> “O trabalho de atuação nas peças do Quatroloscinco”
Com Ítalo Laureano e Rejane Faria. Em 11/3 e 12/3, das 13h às 17h, no Galpão Cine Horto. Participação gratuita mediante inscrição em www.quatroloscinco.com

>> “A dramaturgia nas peças do Quatroloscinco”
Com Assis Benevenuto e Marcos Coletta. Em 25/3 e 26/3, das 13h às 17h, no Galpão Cine Horto. Participação gratuita mediante inscrição em www.quatroloscinco.com

•BATE-PAPOS

>> Iluminação
Com Marina Arthuzzi. 7/3, às 20h

>> Voz e texto
Com Ana Haddad. 14/3, às 20h

>> Cenografia
>> Com Ed Andrade. 21/3, às 20h

Trilha sonora
>> Com Barulhista. 28/3, às 20h

•No canal do Quatroloscinco no YouTube

MOSTRA QUATROLOSCINCO 15 ANOS

• Até maio.
• Atividades virtuais no canal do Quatroloscinco no YouTube.
• Atividades presenciais no Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto).
• Ingressos disponíveis no site Sympla