O desafio vem da mitologia grega: segurar uma pedra no ar pelo maior tempo possível. O novo reality sul-coreano “A batalha dos 100” durou cerca de duas horas para o vendedor de carros Jo Jin-hyeong, participante da primeira temporada da produção que se transformou em sucesso mundial.





Após o êxito do filme “Parasita” (2019) e da série “Round 6” (2021), a indústria audiovisual da Coreia do Sul aposta em programas de reality show como o próximo conteúdo do país que pode se popularizar no exterior.
 
Lançada este ano, a nova produção da Netflix acompanha 100 homens e mulheres com físicos esculturais, incluindo ex-atletas olímpicos e soldados de unidades de elite, que enfrentam provas e competições complexas.
 

Jang Eun-sil, de 32 anos, não vê problemas em competir com homens e diz que programa dá visibilidade à luta livre feminina

(foto: Anthony Wallace/AFP)
 

É a primeira produção não roteirizada a liderar o catálogo de exibição em língua não inglesa da plataforma, no qual já se destacou “Solteiros, ilhados e desesperados” (2021), reality de namoro sul-coreano que se tornou um sucesso no ano passado.




 
Leia: Veja por que 'Round 6' consagrou a indústria do entretenimento da Coreia do Sul

Vendedor de carros tem seus minutos de fama

Parte do fascínio de “A batalha dos 100” são os competidores. Jo Jin-hyeong, que começou a frequentar a academia ainda adolescente e nunca praticou esportes profissionalmente, descobriu que poderia competir com algumas das pessoas mais fortes de seu país.

Com 41 anos, ele venceu uma das provas mais difíceis, inspirada no castigo de Atlas da mitologia grega, em que os competidores têm de levantar e segurar uma enorme pedra no ar.

“Quando a levantei, pensei que terminaria em uns 30 minutos”, contou ele. Mas Jo continuou repetindo “Aguente só mais 10 minutos”, como um mantra.

Resultado: ele permaneceu firme por duas horas e 14 minutos, terminando em quarto lugar na classificação geral.

Nos últimos anos, produções sul-coreanas têm conquistado o mundo. De acordo com a Netflix, 60% dos usuários da plataforma consumiram algum conteúdo do país asiático em 2022.




 

 

Os investimentos foram à altura do sucesso, cerca de US$ 759 milhões (em torno de R$ 3,9 bilhões) em conteúdos sul-coreanos entre 2015 e 2021, além do anúncio da expansão da produção de reality shows este ano.

“Os programas de não ficção coreanos não viajavam antes de a Netflix começar a se tornar global”, afirma Don Kang, vice-presidente de conteúdo sul-coreano da empresa.

“Há algumas coisas que fizemos para tornar os shows mais compreensíveis para o público global”, acrescenta.

O vendedor de carros Jo diz que uma das razões do sucesso do programa é companheirismo entre os participantes. “Nós nos motivamos em cada prova, nos consolávamos quando alguém perdia”, revela.




 

As extenuantes provas de 'A batalha dos 100' são disputadas por soldados e ex-atletas olímpicos, entre outros participantes

(foto: Netflix/reprodução)
 

"Ar fresco" para a audiência entediada dos EUA

A “relativa honestidade” destes programas faz parte de seu encanto para o público estrangeiro, acredita Regina Kim, escritora de entretenimento e especialista em produções sul-coreanas que mora em Nova York.

“É um sopro de ar fresco para a audiência americana, que pode estar cansada de estrelas de reality lutando o tempo todo”, diz ela, destacando que os consumidores entediados podem se voltar para as produções sul-coreanas.

Apesar do sucesso, “A Batalha dos 100” gera polêmica ao colocar competidores de diferentes gêneros uns contra os outros, levantando questões sobre a justiça do formato. No final, os cinco primeiros colocados foram homens.





No entanto, Jang Eun-sil, uma das 23 mulheres da competição, diz que o formato é “original e revigorante”, o que a ajudou a se motivar ao longo dos desafios.

“Apenas fiz o meu melhor em cada momento, não me arrependo e nunca pensei que fosse injusto”, garante a lutadora, de 32 anos, elogiada por sua liderança durante a atração.
 
Embora não tenha vencido, Jang ganhou muitos seguidores em suas redes sociais. De acordo com ela, competir no reality trouxe mais visibilidade a seu esporte.

“Para ser honesta, luta livre não é muito popular na Coreia do Sul”, admite, esperançosa de que mais compatriotas percebam a existência de mulheres disputando a modalidade.  

“A BATALHA DOS 100”

• Reality show
• Primeira temporada
• Disponível na Netflix

compartilhe