O cantor e compositor Celso Adolfo faz três shows em BH para lançar “Pratiano”, seu 11º álbum, com 18 canções inéditas. O repertório chega às plataformas digitais neste domingo (5/3). Hoje à noite, ele se apresenta no espaço Quintal da Dona Inês, no Bairro Esplanada, e volta ao palco nos dias 11 e 31.
O título “Pratiano” remete a São Domingos do Prata, no Vale do Aço, cidade natal de Celso. “O disco não é aquela declaração explícita e objetiva à minha terra. É maior do que isso, porque, a partir da minha terra, é que fui entender o mundo. E o estou entendendo agora com as músicas deste disco”, afirma.
Conselho de Xangai
O repertório traz samba, valsa e bolero, entre outros ritmos. Celso até criou um gênero musical, ao qual deu o nome de coco calangado. “Ele surgiu depois que ouvi o coco nordestino, alagoano, sempre sob sugestão do cantor, compositor e violeiro baiano Xangai”, diz.
De tanto escutar “Gírias do Norte”, composição de Onildo Almeira e Jacinto Silva, o mineiro decidiu dar uma espécie de “resposta” a ela. “É homenagem, partindo da estrutura musical dessa canção. Descobri que estava criando algo que vem deles (nordestinos), mas não é deles, é um passo diferente. O coco é deles, mas o calango é nosso, de Minas”, explica Celso Adolfo.
A canção “Coco calangado” cita também o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999). “Tem fraseados que beiram o absurdo, porque nordestino é cheio de non sense em muitas composições. Eles são assim, gostam mesmo de fazer trucagens, não só de ritmos, mas de linguagem. 'Gírias do Norte' é cheia de trucagem o tempo todo, cheia de absurdos internos que são desafiadores para quem ouve”, conta Celso.
Outro homenageado é Paulinho da Viola, que inspirou a faixa “Eu bebo do samba”. “É uma resposta ao disco 'Bebadosamba'”, explica o mineiro, referindo-se ao LP lançado pelo compositor carioca em 1996. “Começo o meu samba respondendo a Paulinho da Viola e também homenageando o Chico (Buarque)”.
Em “Eu bebo do samba”, Celso Adolfo também faz referência ao poeta belo-horizontino Pedro Muriel, que morreu em junho do ano passado.
“Gênio da poesia, ele se foi aos 30 e poucos anos. Passou a maior parte da vida em uma cadeira de rodas, com respirador, por causa de um problema pulmonar. Tinha um lirismo assustador, nunca foi vencido pelo infortúnio de passar quase a vida toda daquele jeito. Pedro soube se superar isso com a poesia.”
Aliás, tem mais gente nesta canção: os amigos com quem Celso toma café e bate papo na Savassi e no Bairro do Trevo. “A gente se encontra todas as semanas para falar de futebol, da vida, de tudo. Então, juntei todos eles e vou citando as nossas coisas. Criamos um nome para a turma: Café, Linguiça, Forévis.”
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Na faixa “Divina luz de janeiro”, ele diz praticar “o absurdo linguístico” para fazer o ouvinte “ficar fora do eixo”. E explica: “É para ativar a atenção da pessoa com sentidos inusitados e contraditórios entre uma coisa e outra que está ali na letra.”
O repertório do novo disco tem duas baladas românticas, “Amor doendo” e “Não tem outro jeito”. Outra faixa é uma valsa – “bem vienense”, segundo ele –, feita para a avó de 100 anos de um amigo.
Lembranças de menino
A faixa-título “Pratiano” é especial para seu autor. A ideia surgiu quando Celso se deparou com o retrato dele aos 8 anos, em São Domingos do Prata.
“Estou de calças curtas, mãos no bolso, sapato envernizado, camisa branca e paletó. Me achava o cara mais elegante do mundo com aquela roupa. Olhei para a foto e me fiz uma pergunta: O que eu pensava com aquela idade? Aí, a melodia e a letra foram surgindo em minha cabeça.”
Com sete minutos, a canção autobiográfica homenageia as bandas de música interioranas e é quase um bolero, segundo ele. “Quando menino, eu queria tocar em banda. Não tocava nada, mas sonhava com o baixo tuba”, revela.
Aliás, o “momento banda” de “Pratiano” remete também à alegria das andorinhas dentro da igreja e ao circo. “A música tem várias tiradas de um menino que tinha 8 anos, com o cara de 70 descrevendo aquilo.”
A carreira fonográfica de Celso Adolfo se iniciou nos anos 1980, quando ele chamou a atenção do país com o LP “Coração brasileiro”, produzido por Milton Nascimento.
“Pratiano” sai também no formato físico, com tiragem de 2 mil CDs. “É a última vez que vou prensar um disco. Não está valendo mais a pena, pois as pessoas estão migrando para as plataformas. O CD estará à venda nos meus shows”, informa o músico.
“PRATIANO”
• Disco de Celso Adolfo
• 18 faixas
• Disponível nas plataformas digitais
• Shows neste domingo (5/3), às 16h, no Quintal da Dona Inês (Rua Hortênsia, 523, Esplanada); no próximo sábado (11/3), às 20h, na Casa Palma (Rua Monte Alegre, 225, Serra); e em 31/3, às 20h, no Teatro Estúdio Art & Sound (Rua Ascânio Burlamarque, 405, Mangabeiras).