O repertório sinfônico é vastíssimo. Em seus primeiros 15 anos, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais já executou pouco mais de 1,2 mil obras. Há muito a explorar, como mostra a seleção das peças que serão executadas nesta quinta (9/3) e sexta (10/3), na Sala Minas Gerais.
O popularíssimo “Assim falou Zaratustra” (1896), poema sinfônico do compositor alemão Richard Strauss, permanecia inédito até agora no repertório da orquestra. Por uma razão prática, explica o maestro Fabio Mechetti, regente das duas noites.
Órgão digital
“A parte do órgão é bastante imponente e eu, com otimismo, achava que poderia ter um órgão na Sala Minas Gerais para poder executá-lo. Como parece que ele não virá tão cedo, vamos fazer versão mais econômica. O órgão digital não é o ideal, não é o que a peça pede, mas, para efeitos da nossa realidade, ele vai suprir, de alguma maneira, as expectativas.”Mechetti brinca dizendo que todo mundo conhece os dois minutos iniciais da peça – sua introdução é o tema do clássico “2001 – Uma odisseia no espaço” (1968), filme de Stanley Kubrick –, mas poucos conhecem a meia hora restante.
“É uma peça dificílima, todo mundo (os naipes) toca coisas tecnicamente difíceis, incluindo um solo de violino (que será defendido pela spalla convidada, a norte-americana Libby Fayette). Você percebe que realmente existe um esforço quase de super-homem.”
A fala do maestro vai ao encontro à origem da peça. Richard Strauss tinha 31 anos quando compôs o poema sinfônico, inspirado pelas ideias lançadas pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche em “Assim falou Zaratustra, um livro para todos e para ninguém” (1883-1885).
“Nietzsche teve influência muito grande sobre a geração de compositores românticos. Ele acredita que a grande aspiração humana se dá pelas artes, então os artistas o tinham em alto conceito. Strauss tenta não traduzir, mas expor um pouco das questões de Nietzsche na música. É um gênio trabalhando em cima de outro. Strauss consegue, brilhantemente, falar de questões da humanidade, da natureza, do niilismo, deixar tudo para trás, para construir a ideia desse super-homem (o que Nietzsche chama de), o Übermensch”, acrescenta Mechetti.
Homenagem a Rachmaninov
“Assim falou Zaratustra” encerra as duas noites. Antes, a Filarmônica vai executar a “Abertura festiva” (1971), de Camargo Guarnieri, e o “Concerto para piano nº 2 em dó menor, op. 18” (1900/1901), de Rachmaninov. Ao longo deste ano, a orquestra vai tocar várias peças do compositor, pianista e maestro russo, cujos 150 anos de nascimento são comemorados em 2023.
A pianista alemã Lilya Zilberstein é a solista convidada para o concerto de Rachmaninov. É um novo encontro com a orquestra mineira. “Os pianos que temos na Sala Minas Gerais foram escolhidos por ela em Hamburgo”, diz Mechetti. Lilya lecionou na Universidade de Música e Teatro daquela cidade alemã.
Composta na virada do século 20, a obra veio depois de muita frustração – a “Primeira sinfonia” e o “Concerto para piano nº 1”, do final do século 19, não foram peças bem recebidas.
“Na época, ele estava um pouco deprimido e, para o ‘Concerto nº 2’, mudou seu sentimento em relação ao futuro. É hoje um de seus concertos mais celebrados, e será uma grande oportunidade ouvi-lo com uma grande pianista”, conclui o maestro Fabio Mechetti.
ORQUESTRA FILARMÔNICA DE MINAS GERAIS
Concertos hoje (9/3) e sexta-feira (10/3), às 20h30, na Sala Minas Gerais (Rua Tenente Brito Melo, 1.090, Barro Preto). Ingressos de R$ 50 a R$ 175 (valores de inteira). À venda na bilheteria e no site filarmonica.art.br