Quarenta anos é uma enormidade de tempo para muita coisa, quanto mais para a comédia. Já são 42 desde que Mel Brooks lançou “A história do mundo – Parte 1”, filme que apresenta, por meio de esquetes cômicos, grandes acontecimentos da humanidade, de fatos do Antigo Testamento à Revolução Francesa.





Desde então, o veterano comediante e cineasta prometia a continuação. Que chegou esta semana, com a mesma premissa, mas em formato de série. “A história do mundo – Parte 2” traz oito episódios, disponíveis na plataforma Star+.
Do alto de seus 96 anos, Brooks – um dos poucos da indústria do entretenimento a possuir os EGOT (os prêmios Emmy, Grammy, Oscar e Tony) – retorna como produtor-executivo e roteirista. Sua presença, no entanto, é pequena na tela.

Ele aparece nos minutos iniciais, em versão muito jovem (e forte) de si mesmo, explicando que só concordou com o projeto depois de aceitas suas condições: não poderia haver piadas repetidas e sua aparência teria de ser a mesma da época da produção original. Depois, atua apenas como narrador.




 

 

Equipe de peso

Não se sabe até onde vai a mão de Brooks, pois a série tem uma equipe enorme, na frente e atrás das câmeras. Três atores-roteiristas-produtores capitaneiam a produção: Nick Kroll, Wanda Sykes e Ike Barinholtz.

Com fidelidade ao original, eles apresentam quadros curtos com William Shakespeare, Shirley Chisholm, Rasputin, Abraham Lincoln, Ulysses S. Grant, Joseph Stalin e Jesus Cristo, é claro.

O trio protagoniza vários esquetes, mas um elenco de estrelas faz participações aleatórias: Danny DeVito, David Duchovny, Kamil Nanjiani, Seth Rogen, Jason Alexander e Taika Waititi estão entre os mais conhecidos. É gente (boa) demais reunida, mas nem sempre as piadas funcionam.

Há algumas engraçadas, como as que colocam os Romanov no dia de seu fuzilamento enquanto a princesa Anastasia (Dove Cameron) surge como influenciadora mais preocupada com likes durante uma live. DeVito é um improvável Nicolau II, o último czar da Rússia.





O general Ulysses Grant (Barinholtz) surge na Guerra de Secessão como o beberrão que tem de tomar conta do filho de Lincoln (Timothy Simons). O presidente, por seu lado, sofre com sua altura.
 
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Para americano rir...

Há esquetes que funcionam melhor para o público americano, como a sitcom “Shirley!”, sobre Shirley Chisholm, a primeira congressista negra dos EUA e primeira mulher a concorrer a presidente pelo Partido Democrata.

Mesmo tentando uma atualização, a série sofre com quadros que cheiram a bolor. Escatologia perdeu sua graça há muitos anos, mas vemos Rasputin surgir em meio a uma explosão de flatulência, bem como um grupo de soldados americanos prestes a invadir a Normandia que não conseguem fazer nada depois que um acesso de vômito atinge a todos.
 
Na verdade, em quatro décadas, a comédia se tornou mais rápida e pronta. Do YouTube ao TikTok, ou você pega o espectador de primeira, ou vai perdê-lo para a próxima piada.

E nós aqui, que já assistimos até a Jesus gay com o Porta dos Fundos, não vamos conseguir achar graça da esquete em que Judas tem de limpar os pés do filho de Deus porque, acidentalmente, fez xixi nele.

Mesmo com um pé no anacronismo, “A história do mundo – Parte 2” vale como tributo à trajetória de Brooks. A série pode ser vista como porta de entrada para as novas gerações na obra deste cineasta que tanto influenciou a comédia.

“A HISTÓRIA DO MUNDO: PARTE 2”

A série, com oito episódios, está disponível no Star





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