Vestida de vermelho, a cantora Rihanna se apresenta no intervalo do Super Bow em Glendale, no Arizona

A presença de Rihanna interpretando a candidata a melhor canção original "Lift me up", de "Pantera Negra: Wakanda para sempre", deve ser um dos pontos altos da noite

Angela Weiss/AFP

Muita gente nem se lembra do grande vencedor do Oscar passado (“No ritmo do coração”, de Sian Heder), mas não dá para esquecer o tapa que Will Smith deu em Chris Rock, depois que o comediante fez uma piada com Jada Pinkett Smith, mulher do ator. 

A reação explosiva suscitou um debate mundial sobre machismo, violência e racismo. O público não esquece, mas a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood espera que a agressão não norteie a noite deste domingo (12/3).

“Não queremos fazer deste ano o ano passado. Certamente é algo que iremos abordar de forma cômica para depois seguir em frente”, afirmou em entrevista coletiva Molly McNearney, produtora executiva da cerimônia que será realizada a partir das 21h (horário de Brasília) no Dolby Theatre, em Los Angeles. 
 
Will Smith dá tapa no rosto de Chris Rock no palco do Oscar em 2022

Tapa de Will Smith no rosto de Chris Rock, na cerimônia de 2022, está entre os maiores escândalos do Oscar

Robyn Beck/AFP/4/3/2022
 

Pela primeira vez em sua quase centenária trajetória, a Academia montou uma equipe de crise para responder a qualquer contratempo. "Esperamos estar preparados para qualquer coisa", afirmou o presidente da Academia, Bill Kramer, à revista “Time”. "Por causa do ano passado, abrimos nossa mente para as muitas coisas que podem acontecer no Oscar."

A instituição foi muito criticada por permitir que Smith permanecesse na plateia e recebesse o prêmio de melhor ator por “King Richard”, após o ataque a Rock, então apresentador da cerimônia. Rock, que também não estará na festa, deu um tapa de luva recente em Smith.

No especial “Indignação seletiva”, transmitido ao vivo no último domingo (5/3), na Netflix, Rock disse: "As pessoas perguntam: 'Doeu?'. Ainda dói. Will Smith é significativamente maior do que eu. Will Smith interpretou Muhammad Ali em um filme. Vocês acham que fiz teste para esse papel?". 
 

Ausente da festa

Tradicionalmente, o vencedor de melhor ator do ano anterior retorna, no seguinte, para apresentar o prêmio de melhor atriz. Como Smith renunciou à Academia após o escândalo – e está proibido de comparecer à cerimônia nos próximos 10 anos –, resta saber a quem caberá a honra. 

Não faltarão candidatos, já que a lista de celebridades que anunciarão os prêmios é grande em número e prestígio: entre os atores, destacam-se John Travolta, Harrison Ford, Pedro Pascal (o queridinho da temporada), Antonio Banderas, Andrew Garfield, Hugh Grant, Riz Ahmed, Michael B. Jordan, Samuel L. Jackson, Troy Kotsur e Dwayne Johnson.

Entre as atrizes, o elenco de apresentadoras reúne Halle Berry, Nicole Kidman, Cara Delevingne, Eva Longoria, Julia Louis-Dreyfuss, Kate Hudson, Elizabeth Olsen, Jessica Chastain, Salma Hayek, Florence Pugh, Sigourney Weaver, Emily Blunt, Glenn Close, Jennifer Connelly, Ariana DeBose, Melissa McCarthy, Janelle Monáe e Zoe Saldaña. 

Esta turma vai ser capitaneada por Jimmy Kimmel. Pela terceira vez, o comediante será o apresentador da cerimônia. Ao “Hollywood Reporter” Kimmel afirmou que está pronto, caso haja outro tapa. “Bem, se for (dado por alguém) maior do que ele, dou uma surra na televisão. E se for o Rock, eu corro”, brincou.

Duração

O tempo de duração do Oscar é sempre excessivo. Serão mais de três horas, não há dúvidas, o que o próprio Jimmy  Kimmel considera uma duração “absurda”.  

“Acho que vai ser um show divertido, mas, sim, todo mundo sempre vai reclamar que é longo. Você não precisa assistir à coisa toda, ninguém está apontando uma arma para sua cabeça. Assista aos primeiros 15 minutos (durante os quais ele fará seu monólogo de abertura) e depois pode ir dormir, pelo menos no que me diz respeito”, afirmou.

Tom Cruise promete ser o maior astro da cerimônia. Com o sucesso de “Top Gun: Maverick”, o ator e produtor voltou ao circuito de premiações. E é quase uma certeza que haverá piadas em torno de seu nome nesta noite. O histórico recente é prova disso.

Em janeiro, no Globo de Ouro, houve brincadeiras sobre a cientologia. Em fevereiro, na premiação do Sindicato dos Atores, Judd Apatow foi mais incisivo. “Alguém precisa explicar para ele algo chamado CGI. Você não precisa fazer as acrobacias, elas parecem exatamente as mesmas quando você as faz na tela verde. Você tem 60 anos, acalme-se”, disse, em referência ao fato de  Cruise dispensar dublês e computação gráfica. 
 
Lady Gaga, segurando o Oscar, chora sentada no chão na cerimônia do prêmio realizada em 2019

Lady Gaga, que levou o Oscar de melhor canção original em 2019, por 'Shallow', não vai cantar na cerimônia deste domingo

Frederick J. Brown/AFP
 

Shows

A Academia está usando todo o seu arsenal para que a festa seja relevante para quem a assiste de casa. Uma orquestra estará no palco se apresentando durante todo o evento. Neste ano, o Oscar pretende “honrar o que é preciso para fazer um filme”, disse Bill Kramer, referindo-se a todos os profissionais que trabalham no cinema.

E há os shows propriamente ditos. Na ausência de Lady Gaga – que não irá defender “Hold my hand”, de “Top Gun: Maverick”, porque está em meio às filmagens de “Joker: Folie à deux”, de Todd Phillips, a sequência de “Coringa” (2019) – a noite será, certamente, de Rihanna. 

Depois de capitalizar a maior audiência da história do Superbowl, no mês passado, a cantora vai defender no Dolby Theatre “Lift me up”, de “Pantera Negra: Wakanda para sempre”, uma das cinco candidatas ao Oscar de canção original.

Concorrentes

Haverá ainda apresentação das outras três canções nomeadas: “Applause”, de “Tell it like a woman”, de Sofia Carson e Diane Warren; “This is a life”, de “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, com Stephanie Hsu, David Byrne e Son Lux; e “Naatu Naatu”, do indiano “RRR”, com Rahul Sipligunj e Kaala Bhairava.

O tradicionalíssimo momento “In memoriam”, quando a Academia homenageia os profissionais que morreram no último ano, será interpretado por Lenny Kravitz.

Mesmo com uma equipe de crise a postos, há saias justas que a Academia não tem como evitar. Na última terça-feira (7/3), nas horas finais da votação do Oscar, Michelle Yeoh, candidata a melhor atriz por “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, causou no Instagram ao compartilhar em sua conta trechos de uma matéria da revista “Vogue”. 

O texto diz: “Já se passaram mais de duas décadas desde que tivemos uma vencedora de melhor atriz não branca. Isso vai mudar em 2023?  Os detratores diriam que a atuação de Cate Blanchett é a mais forte –  a veterana atriz é, indiscutivelmente, incrível como a prolífica maestrina Lydia Tár –, mas vale ressaltar que ela já tem dois Oscars. Um terceiro talvez confirmasse seu status de titã da indústria, mas, considerando seu extenso e incomparável corpo de trabalho, ainda precisamos de mais confirmação?”
 
O texto continuou: “Enquanto isso, para Yeoh, um Oscar seria uma mudança de vida: seu nome seria para sempre precedido pela frase 'vencedora do Oscar', e isso deveria resultar em ela conseguir papéis mais carnudos, depois de uma década sendo subutilizada criminalmente em Hollywood.”

Posteriormente, Michelle Yeoh excluiu a postagem. Houve muita gente que alegou que o post violaria as regras da Academia. A regra de número 11 afirma que “qualquer tática que destaque ‘a competição’ por nome ou título é expressamente proibida”.

O Caso Andrea Riseborough

O episódio é semelhante à controvérsia com outra nomeada ao Oscar de melhor atriz, a britânica Andrea Riseborough, de “To Leslie”. Embora sua atuação tenha sido aplaudida pela crítica, o filme havia arrecadado pouco mais de US$ 27 mil de bilheteria no momento do anúncio dos indicados e não havia sido promovido amplamente, elementos considerados essenciais para indicações.

A campanha pela indicação da britânica foi feita essencialmente via redes sociais e com o apoio de  atrizes muito famosas, como Cate Blanchett, Jennifer Aniston,  Charlize Theron e Kate Winslet.
 

A polêmica aumentou com a hipótese de que a campanha de Andrea tenha agido para escantear a das atrizes negras Viola Davis e Danielle Deadwiller, que eram tidas pela crítica como presenças certas na disputa.

A Academia averigou possíveis irregularidades, concluiu que não era o caso de retirar a indicação da britânica, mas anunciou que as táticas de mídia social “causaram preocupação”.

Dá para imaginar como está alto o nível de competitividade nesta edição do Oscar, em especial na categoria de melhor atriz. A vencedora, é quase certo dizer, só sairá no início da madrugada desta segunda-feira (13/3).