O ator, diretor e roteirista Antônio Pedro, de 82 anos, morreu neste domingo (12/3), em decorrência de insuficiências renal e cardíaca.


Dono de presença cênica gigante, que contrastava com sua altura diminuta, ele será lembrado pela consistência de sua obra, pela irreverência mesclada com seriedade e pela atuação política, sempre em prol da cultura e do teatro brasileiro.



Em 1985, Antônio Pedro estava em cartaz no Rio de Janeiro com a peça “Cabra marcado para correr”, que também dirigia. O título brincava com o premiado documentário “Cabra marcado para morrer”, de Eduardo Coutinho. Mas as semelhanças paravam por aí.

Era, na verdade, uma comédia escrachada, que se permitia algumas molecagens com o público, tais como ingressos gratuitos para quem provasse ser gay na bilheteria, numa época muito mais opressiva que a atual, ou o intervalo de cinco minutos depois de apenas um minuto de espetáculo.

O melhor estava no final – com as luzes já acesas e o público indo embora, as cortinas se abriam novamente, revelando o elenco pelado no palco, sem nenhuma conexão com o que viera antes. Era o nu gratuito.

“Cabra marcado para morrer” foi um dos marcos inaugurais do besteirol, o gênero cômico que floresceu no teatro carioca das décadas de 1980 e 1990. Mas Antônio Pedro foi muito mais do que comediante inovador. Ao longo de 60 anos de carreira, brilhou como ator, diretor, produtor, autor e locutor nos mais diversos estilos, no teatro, no cinema e na TV.





 

Veja Antônio Pedro como Celso Piquete na Escolinha do Professor Raimundo 

 

 

 

Também foi ativo politicamente. Filiado ao PDT, foi diretor de teatros da Funarj, órgão cultural fluminense, em 1983. Depois, chegou a ser secretário da Cultura do Rio de Janeiro, em 1986, e de Volta Redonda em 1989, além de coordenador de teatro da Universidade Estadual do Rio de Janeiro em 1993.


Nascido em 1940, o carioca Antônio Pedro Borges de Oliveira começou sua carreira em 1960, como ator, contrarregra e assistente de direção. Mas logo foi estudar na França, voltando de vez em 1964. Atuou em montagens que entraram para a história do teatro brasileiro, como “Arena canta Zumbi” (1970). Dirigiu a primeira versão do musical “Os saltimbancos”, de Chico Buarque, em 1977.


Sua filmografia vastíssima inclui de clássicos como “A lira do delírio” (1978), de Walter Lima Jr., e “Bar Esperança” (1983), de Hugo Carvana, a comédias recentes como “O candidato honesto” (2013), e “Meu passado me condena 2” (2015), passando por filmes da Xuxa e dos Detetives do Prédio Azul.





Como qualquer ator brasileiro, Antônio Pedro se tornou realmente conhecido do grande público graças à televisão. Sua estreia na telinha foi em 1969 na novela “Super plá”, da extinta TV Tupi. Mas foi na Globo, para onde se bandeou em 1972 para participar da novela “O bofe”, que se firmou.


Na emissora carioca, Antônio Pedro integrou o elenco de "Gabriela" (1972), “Chega mais” (1980), “Sassaricando” (1987), “Explode coração” (1996) – sempre em papéis coadjuvantes, jamais como protagonista. Também passou pelos infantojuvenis “Malhação” e “Sítio do Picapau Amarelo”.

Escolinha e Zorra total

Sua imagem se consolidou nos humorísticos da Globo. O personagem Bicalho, criado em 1989 para o “Chico Anysio show”, se transferiu para a “Escolinha do Professor Raimundo”. Ali, foi também Celso Piquete.





Antônio Pedro participou de várias temporadas do “Zorra total” e, mais recentemente, da nova versão do programa, “Zorra”.

 

Sua última aparição na TV foi na minissérie “Filhas de Eva”, lançada em 2021 na plataforma Globoplay e exibida pela TV aberta em 2022.

Seu ritmo de trabalho, intenso durante mais de cinco décadas, diminuiu nos últimos anos. Mesmo assim, ainda se aventurou por uma nova mídia, abrindo perfil no Instagram em 2017.


Antônio Pedro deixa três filhos: a atriz Alice Borges, de seu casamento com Yvette Truffal, a atriz Ana Baird, de seu casamento com Margot Baird, e Fabio Borges, de seu casamento com Andrea Bordadagua. Também foi casado com Silvia Sangirardi, com quem não teve filhos.

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