Vestindo terno preto e sentado em banco, João Cabral de Melo Neto encara a câmera

O encontro do fotógrafo com o poeta João Cabral de Melo Neto (1920-1999) foi tenso; segundo Wolfenson, um estava com medo do outro

Bob Wolfenson/divulgação

Anitta, Lula, João Cabral de Melo, Fernanda Torres, Fernando Henrique Cardoso, Pelé, Caetano Veloso, Gisele Bündchen. O panorama da cultura brasileira que Bob Wolfenson faz há 53 anos com suas lentes é o objeto de "Bob Wolfenson: O livro falado", lançado neste mês pelo Instituto Olga Kos, dedicado à inclusão social de pessoas com deficiência.


A seleção inclui figuras de peso do Brasil, paisagens urbanas e ensaios de moda. Os textos que as acompanham parecem trazer a voz de Wolfenson com as anedotas e curiosidades que precedem o momento em que as imagens foram feitas.

A princípio, a proposta de lançar mais um livro não o encantou, mas a ideia dos Farkas – amigos de infância do artista – de resgatar memórias tornou-se um convite tentador demais para ser recusado.

"O passado tem cheiro de éter", diz Wolfenson, de 69 anos. "Você fica pensando 'o que fazer com o futuro e o presente?'. Vou vivendo ao sabor dos acontecimentos. Estou quite com isso."

Uma das memórias de maior expressão está vinculada à ideia de que o retratado deve estar plenamente descontraído. O preconceito é rechaçado pelo retrato de João Cabral de Melo Neto.

Wolfenson escreve que um estava com medo do outro. João Cabral não queria ser fotografado e estava desconfortável diante da câmera. A produtora teve de convencê-lo a fazer o ensaio. Nasceu assim o icônico retrato do poeta.
 

Inundação no estúdio

Mas nem todas as lembranças são tão felizes assim. O livro traz um registro dos estragos feitos por uma inundação no estúdio do fotógrafo há cerca de três anos.
 
Outro episódio não muito feliz foi quando Wolfenson foi incumbido de fotografar o músico Lenny Kravitz para a revista “GQ”. O cantor, que já havia chegado demonstrando desconfiança, disse que o fundo branco escolhido pelo fotógrafo era entediante.

Wolfenson, por sua vez, acreditava que entediante na verdade era o fundo grafitado que atraiu a atenção de Kravitz. 

Para completar, duas câmeras falharam, de modo que a foto teve de ser feita com uma terceira, mais amadora. O resultado ficou insosso. "Os erros e fracassos os artistas não comentam, mas são assuntos importantes, assim como a espontaneidade do retratado", diz João Farkas.  

Rosto de um rapaz na capa do livro 'BOB WOLFENSON: O LIVRO FALADO'

Rosto de um rapaz na capa do livro "BOB WOLFENSON: O LIVRO FALADO"

"BOB WOLFENSON: O LIVRO FALADO"

• De Bob Wolfenson
• Editora Instituto Olga Kos
• R$ 120
• À venda no link: https://shop.bobwolfenson.com.br/products/book-o-livro-falado