“F1: Dirigir para viver”, a popular série documental da Netflix sobre a Fórmula 1, oferece às grandes tabacarias um meio eficaz para promover seus produtos, apesar das proibições em vigor, constata estudo publicado na semana passada.
A plataforma de streaming lançou no dia 23 de fevereiro a quinta temporada da série, o que aumentou ainda mais a popularidade da competição automobilística, especialmente nos Estados Unidos.
De acordo com observadores, a produção mostra imagens de carros patrocinados por marcas de cigarro, inclusive em países onde a publicidade do tabaco é proibida.
“No total, 1,1 bilhão de minutos de imagens difundidas no mundo inteiro mostraram conteúdo ligado ao tabaco” durante a quarta temporada da série, apontaram a Formula Money, que coleta dados ligados à Fórmula 1, e a ONG antitabaco Stop.
Metade dos episódios desta temporada contém marcas ligadas ao tabaco desde o primeiro minuto, segundo o relatório intitulado “Driving addiction: F1, Netflix and cigarette company advertising” (“Vício ao volante: F1, Netflix e a publicidade das companhias de cigarro”, em tradução livre).
Presença junto aos jovens
As marcas Philip Morris International (PMI), patrocinadora da Ferrari, e British American Tobacco (BAT), da McLaren, estiveram “muito presentes na série”, segundo o estudo.
A série contribuiu para aumentar a notoriedade da principal categoria do automobilismo no mundo todo.
“O aumento do número de telespectadores significa que mais pessoas veem a marca que os patrocinadores da Fórmula 1 colocam nos carros”, explica o relatório.
“A Netflix tem a responsabilidade de não oferecer conteúdo que, embora de maneira indireta, promove as marcas de cigarros”, afirma Jorge Aldaty, da Stop.
Contactada pela reportagem, a Netflix não quis comentar o relatório.
A Federação Internacional de Automobilismo (FIA), que administra a Fórmula 1, recomenda há décadas que companhias de tabaco não sejam permitidas de patrocinar a Fórmula 1.
Os fabricantes deixaram de promover suas marcas de cigarros tradicionais, mas, em alguns casos, continuam promovendo outros produtos, como cigarros eletrônicos.
“Eles vivem na zona cinzenta em torno do que é e o que não é marketing do tabaco”, diz Alday. A Federação afirma “manter posição firme quanto à publicidade do tabaco e continuar com as recomendações que fez em 2003”.
“Não estamos em posição de interferir nos acordos privados entre as equipes e seus patrocinadores, nem nos acordos de difusão”, explicou a federação.
Cigarros eletrônicos à vista
Segundo o informe, PMI e BAT gastaram US$ 40 milhões (cerca de R$ 205 milhões) em publicidade na Fórmula 1 em 2022.
Os cigarros eletrônicos e as gomas de nicotina da BAT “foram as marcas mais visíveis sobre as McLaren ao longo de toda a temporada”, afirma a mesma fonte.
Esses produtos aparecem em 13 de 22 corridas, inclusive no Grande Prêmio do México, apesar das fortes restrições em matéria de publicidade vigentes naquele país.
A PMI, uma das patrocinadoras mais antigas da F1, reduziu sua participação de maneira significativa, mas continua se beneficiando da publicidade. Segue como parceira da Ferrari, mas suas logomarcas não aparecem nos carros da escuderia, segundo o relatório.
O vice-presidente de comunicação da PMI, Tommaso Di Diovanni, afirma que o acordo entre a Netflix e a F1 “não tem nada a ver” com sua empresa, alegando que a marca não aparece nos carros e nos equipamentos dos pilotos desde 2007.
Porém, o estudo afirma que a gigante do tabaco, que gastou cerca de US$ 2,4 bilhões em publicidade desde sua entrada neste esporte, em 1971, se beneficiou das imagens históricas que aparecem na série.
Caroline Reid, coautora do relatório e membro da Formula Money, diz que “só um minuto de imagens históricas apresenta cinco marcas de cigarros diferentes, entre elas a Marlboro, da PMI”.
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