Em suas quase seis décadas de carreira, Rita Lee construiu uma obra que revolucionou a música brasileira. Canções dela inspiram a geração do século 21. É o caso de Manu Gavassi, que gravou a releitura do álbum “Fruto proibido” (1975) para o “Acústico MTV”. Em entrevista ao Estado de Minas, a cantora e compositora paulista destaca a importância do LP lançado há 48 anos. Na próxima sexta-feira (17/3), ela traz a BH sua nova turnê.





“Tinha muita vontade de fazer alguma coisa em relação ao ‘Fruto proibido’, álbum muito importante para a história da música brasileira e também para o pop rock. Acho que foi a primeira vez que um disco de rock quebrou a barreira do mainstream, vendendo muito bem. Tocou muito no rádio, teve turnê grande e bem-sucedida. Quebrou a parede do alternativo e foi para o popular”, diz Manu. “Saber que um álbum feminino fez isso e uma mulher escreveu este álbum é icônico. Pensar que isso foi em 1975, mais ainda.”
 

 

Liberdade pós Mutantes

Manu Gavassi acredita que “Fruto proibido” simboliza a libertação de Rita. “Nem sei se ela encara dessa maneira. Mas parece ser o período de emancipação dela depois do que viveu com Os Mutantes. Era ela por ela mesma. Juntou a banda que queria, fez as letras que queria e fez um sucesso estrondoso com esse álbum sendo ela mesma”, aponta.

Rita Lee integrou Os Mutantes entre 1966 e 1972. Deixou a banda devido a desentendimentos com o ex-marido Arnaldo Baptista, de quem acabara de se separar, e também por divergências estéticas. Baptista disse a Rita que lhe faltava “calibre como instrumentista” para participar do projeto que o grupo passaria a adotar, na linha de rock progressivo.




 

Rita Lee gravou 'Fruto proibido' com a banda Tutti Frutti nos anos 1970

(foto: Jan e Gustavo Matula/divulgação)
 

A releitura de “Fruto proibido” passa por semelhanças que Manu diz ter com a homenageada. “Descobri que ela tinha a minha faixa etária quando lançou o álbum. É por isso que fez tanto sentido para mim”, diz a cantora, que completou 30 anos em janeiro.

“Quando chegou o convite para o 'Acústico MTV', a primeira coisa que a gente, intuitivamente, pensou foi: é esta a oportunidade para fazer ‘Fruto proibido’ do jeito certo. Fico muito feliz de ter essa audácia, porque ficou um projeto muito lindo. Tenho muito orgulho dele.”

A principal inspiração veio da autenticidade de Rita. “Só escolhi fazer isso porque estava muito orgânico para mim. As letras cabem muito neste momento da minha vida. Se não fosse assim, não teria por quê”, diz Manu, contando que não se preocupou em buscar novos arranjos.





“Queria passar a energia do álbum, tentei mudar o mínimo possível as faixas. Por mais que eja acústico, é super para cima”, comenta a cantora.
 

Tim Bernardes participou da homenagem de Manu Gavassi para Rita Lee

(foto: Cleiby Trevisan/divulgação)
 

Trocas "fofas" com Rita

A regravação de “Fruto proibido” contou com o OK da homenageada. “Nos três últimos anos, tenho tido pequenas, mas incríveis, trocas com a Rita. Tenho pavor de ser inconveniente, então jamais faria esse projeto sem a bênção dela”, conta Manu. “A gente teve trocas muito fofas.”

Rita Lee foi uma das primeiras pessoas que ouviram “Gracinha”, álbum de Manu, antes do lançamento em 2021. “Mandei um áudio de três minutos e ela me respondeu com outro de dois, o que achei demais e vou guardar para toda a eternidade. É muito papo dois minutos de conversa”, brinca.

“Levo no coração saber que consegui passar (a mensagem de Rita Lee). Ela entendeu como é genuína a admiração que sinto, como me abre portas para criar e ser quem sou. Rita sempre foi artista 360 graus. Então, essas pequenas trocas, ou bênçãos, me deram a coragem para fazer este projeto. Fico muito feliz porque ela se sentiu lisonjeada, isso é mais do que suficiente para mim.”

Para Manu, o título de “Rainha do Rock Nacional” é muito pouco para descrever a importância da cantora e compositora, de 75 anos. “Ela transcende esse título”, observa.

“Se você parar para pensar que nos anos 60 Rita compunha e tinha autonomia sobre a própria história na música, isso é raríssimo. Naquela época, compositores homens escreviam para intérpretes mulheres”, ressalta.





Mulheres “cantautoras” eram raridade naqueles tempos. Manu Gavassi elogia Rita Lee “pela coragem de falar ‘não, eu quero contar minha própria história e sei sobre o que vou cantar’”. A jovem compositora lembra que a roqueira  abordou temas tabus nos anos 1960/1970, como a sexualidade feminina. E não custa lembrar: Rita Lee foi tropicalista de primeira hora.
 
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A compositora destaca também o fato de Rita não se limitar à música. “Ela já foi atriz, apresentadora de televisão, VJ da MTV com o programa ‘TVLeezão’ – maravilhoso, ela fazia esquetes e chamava o Gilberto Gil. Então, Rita transcende esse título. Para mim, é criadora muito resiliente. Rita teve muita responsabilidade em relação à arte de criar, de se expressar, de levar emoção e sentimento para as pessoas.”
 

 

Referência para jovens artistas

Manu Gavassi diz que Rita Lee é exemplo para jovens artistas deste século 21. “Nossa geração precisa urgentemente de inspiração. Estamos completamente loucos (risos) com a internet, com tanto estímulo, tanta comparação, com essa sensação de que a gente precisa dar certo todas as semanas e precisa mostrar para os outros”, comenta. “Isso não existe! Carreiras bem-sucedidas são construídas ao longo de anos, são trajetórias, histórias.”





Gravado em São Paulo, “Acústico MTV: Manu Gavassi canta ‘Fruto proibido’” está disponível na plataforma Paramount+. A turnê começou no Festival Grls, na capital paulista, e sua a próxima parada é Belo Horizonte, na próxima sexta-feira (17/3), n'Autêntica.

O show é parecido com o que se vê na gravação. “Nossa intenção é ser bem fiel, é levar o show que poucas pessoas tiveram oportunidade de ver, porque era um teatro pequeno. Quero levar essa energia para mais pessoas”, explica.
 
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Manu conta que se trata de apresentação especial para ela. “Não falo isso de todos (os shows), porque sou muito nerd, muito perfeccionista. É difícil me divertir, me soltar, mas este realmente foi muito divertido. E olha que tinha a pressão, era uma gravação com pouco tempo de ensaio. Estou louca para celebrar o álbum com as pessoas e me divertir”, afirma.





“Não sou de longas turnês. Sempre faço shows mais contidos, mas este vem sendo uma surpresa. A gente escolheu capitais onde sei que tenho um público legal, que me recebe muito bem”, conta. “Vai ser uma delícia estar em BH de novo.”

A turnê passa também por Porto Alegre, no domingo (19/3), e Rio de Janeiro, no próximo dia 31. Em junho, ela se apresenta no Festival João Rock, em Ribeirão Preto (SP). “Há a possibilidade de expandir para mais cidades”, adianta.

Estilo “vida leva eu”

Ao comentar os planos para 2023, a cantora diz ter adotado a estratégia “deixa a vida me levar, vida leva eu” em relação à turnê “Fruto proibido”.





“Nos últimos anos, aproveitei muitas chances que me foram dadas, muitos convites. Deixei os meus projetos, as minhas ideias, um pouco de lado. Agora realmente quero focar. Demora muito: primeiro, você tem que criar, depois tem de transformar em uma apresentação, vender o projeto. Essa execução demora. As coisas levam tempo, mas já estou me dedicando ao primeiro passo, que é criar”, conclui.

LP lançado em 1975 é o porta-voz das mulheres no rock nacional

(foto: Som Livre/reprodução)

Coleção de hits

“Fruto proibido” (Som Livre) é o quarto álbum solo de estúdio de Rita Lee – o segundo gravado com a banda Tutti Frutti. Com nove faixas, traz os sucessos “Ovelha negra”, “Agora só falta você”, “Dançar pra não dançar” e “Esse tal de roque enrow”.

Todas eles fazem parte do álbum de Manu Gavassi, que também gravou canções de outros discos de Rita, como “Mutante”, de “Saúde” (1981), e o hit “Lança perfume”, de “Rita Lee” (1980).





O repertório do “Acústico MTV” conta também com “Gracinha” e “Bossa nossa”, compostas por Manu, que fazem referência à homenageada. Os cantores Liniker e Tim Bernardes foram convidados especiais do álbum da paulista.
 
 


“ACÚSTICO MTV: FRUTO PROIBIDO”

Show de Manu Gavassi. Na próxima sexta-feira (17/3), às 21h, n'Autêntica (Rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia). Inteira:
R$ 80, R$ 100, R$ 120 e R$ 140, dependendo do lote. Meia-entrada na forma da lei. Meia social mediante doação de 1kg de alimento não perecível na porta da casa. Informações: @autentica.bh

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