'Esta foi a parte mais chocante para mim: essas mulheres foram essenciais para resolver o caso e forçar a polícia a compartilhar informações. Seus nomes nunca foram mencionados'
Carrie Coon, atriz
Um filme sobre serial killer em que mal se vê o assassino. O foco tampouco está nas vítimas ou nos policiais. O ponto de vista é essencialmente feminino, duas jornalistas em questão. Com estreia nesta sexta (17/3), no Star+, “O estrangulador de Boston”, de Matt Ruskin, com Keira Knightley e Carrie Coon, lança luzes sobre mulheres que a história apagou.
Entre 1962 e 1964, 13 mulheres, entre 19 e 85 anos, foram assassinadas em Boston, nos Estados Unidos. A maior parte delas foi estuprada e estrangulada em seus apartamentos. A polícia estava perdida.
Coube à imprensa, na figura das repórteres Loretta McLaughlin (Keira Knightley) e Jean Cole (Carrie Coon), do Record American, fazer a ligação entre os crimes, antecipando-se aos próprios investigadores.
Ninguém falava em serial killer
O drama policial narra esta história, numa época em que o termo serial killer nem sequer existia, por meio tanto da investigação quanto da vida pessoal das jornalistas. Ambas casadas e com filhos pequenos, sofreram com o sexismo em casa e no local de trabalho.É a mais jovem delas, Loretta, até então relegada às seções femininas do jornal, quem força a barra com o editor Jack MacLaine (Chris Cooper) para que lhe dê uma chance. Inexperiente na área policial, ela vai contar com a ajuda de Jean, mais tarimbada. Não demora para que as duas se tornem uma dupla de jornalistas investigativas.
Em entrevista coletiva virtual, o diretor Matt Ruskin, também roteirista do longa, falou de sua conexão pessoal com a história. “Cresci em Boston e sempre ouvi falar do ‘Estrangulador’, mas não sabia nada sobre o caso. Quando comecei a pesquisar, vi que a história era cheia de reviravoltas. E, de muitas maneiras, o caso era também sobre a cidade naquela época.”
Durante a pesquisa, Ruskin percebeu que Loretta e Jean foram as primeiras repórteres a conectar os assassinatos. “Elas deram o nome de ‘Estrangulador de Boston’ em suas matérias. Então, senti que essa era uma maneira realmente convincente de revisitar o caso.”
Lendo o obituário de Jean Cole, o cineasta descobriu que ela teve duas filhas. Encontrou uma delas no Facebook. “No perfil, vi a fotografia dela com um amigo meu. Perguntei como a conhecia e ele me explicou que aquela era sua mãe e Cole era sua avó.” Dessa maneira, Ruskin se aproximou das famílias das antigas jornalistas.
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'O homem que odiava as mulheres': versão masculina em 1968
Aqui vale um parêntese. O mesmo caso teve a primeira versão no cinema, 55 anos atrás, com “O homem que odiava as mulheres”, de Richard Fleischer, com Tony Curtis e Henry Fonda interpretando o criminoso e o detetive, respectivamente. Realizado ainda sob o calor dos crimes, o filme é basicamente sobre a caça ao assassino, com elenco majoritariamente masculino.
Na entrevista, Keira Knightley, conhecida por interpretar personagens de época, diz que o que a interessou no projeto foi o ponto de vista fora do comum. “Apenas pensei que era uma maneira muito interessante de contar a história de um assassino em série. Além disso, as duas foram praticamente apagadas do caso.”
Carrie Coon concordou: “Esta foi a parte mais chocante para mim, já que essas mulheres foram essenciais para resolver o caso e forçar a polícia a compartilhar informações. Seus nomes nunca foram mencionados.”
“Para mim, o filme é uma carta de amor para as jornalistas investigativas, pois foram as duas mulheres que disseram: esta é uma história importante, as informações precisam chegar ao público para tentar manter as mulheres de Boston seguras”, finalizou Keira.
“O ESTRANGULADOR DE BOSTON”
Direção: Matt Ruskin. Com Keira Knightley, Carrie Coon e Chris Cooper. O filme estreia nesta sexta-feira (17/3), na plataforma Star+.
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