Mãe de dois filhos, Angélica Franca Padovani, ao comentar sobre o tema de seu primeiro livro, ouviu do terapeuta das crianças: “Engraçado, você, uma supermãe, escrevendo sobre isso”. Ela retrucou: “Não estou escrevendo como mãe, mas como filha.”





 

Com lançamento nesta quinta (16/3), no Cozinha Santo Antônio, a novela “Olha-me outra vez” (Patuá Livros) trata da dificuldade da maternidade na figura de mãe e de sua filha.

 

Na primeira parte da narrativa, em terceira pessoa, acompanhamos a trajetória de Rosa. Na década de 1960, ela, grávida aos 16 anos, não tem alternativa a não ser se casar. 

 

No dia em que sua filha faz 7 anos, foge de casa para tentar a vida que não conseguiu ter.

 

A segunda parte, esta narrada em primeira pessoa, é a narrativa que cabe a Ana, filha de Rosa. De certa forma repetindo o caminho da mãe, a personagem, ao concluir o ensino médio, decide sair de casa para tentar fugir do passado.





 

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Com formação em artes plásticas, Angélica Padovani, nascida em Brasília e radicada em Barcelona, há anos vinha ensaiando sua estreia na literatura. “Mas sempre em textos curtos, não tinha me arriscado a chegar tão longe. E olha que o livro é uma novela curta”, conta. “Olha-me outra vez”, inclusive, veio de um conto escrito algum tempo atrás.

 

“Era a história da mulher que reencontrava uma amiga do tempo de faculdade e, ao notar como ela estava diferente, ficou sabendo de uma terapia ditada. Convenceu a amiga a procurar o terapeuta. Esta, ao chegar lá, descobriu que tinha que trabalhar com a história escrita”, conta Angélica.

 

Dessa maneira, a paciente escrevia e o terapeuta lia, editava, cortava. Ficou pensando no que ele estava fazendo com a vida dela. “Quando ele devolveu, a mulher percebeu que o que estava escrito não era o texto dela, mas toda a história de sua vida estava ali”, explica Angélica .





 

A partir desta história curta, ela chegou à narrativa de Rosa e Ana. “Para ser dona da própria vida, a mãe abandonou a filha. Então, comecei a perguntar: por que uma mãe vai embora? Pode ser porque foi obrigada a ter filhos, pode ser por não querê-los. As coisas, a partir desse ponto, foram acontecendo naturalmente”, acrescenta.

Fotografia e memória

Angélica sempre trabalhou muito com imagens, tanto que as fotografias têm uma importância grande na narrativa. “Quando se escreve, normalmente você parte do que conhece. Fiz (para o livro) muita pesquisa de época.”

 

 

“Minha memória de infância vem muito através da fotografia. Não se sabe até que ponto a gente se lembra e até que ponto a memória é inventada pela imagem. Nossa memória é um recorte da imagem?”, questiona ela.

 

Ao tratar da memória, voltou-se para sua própria história. “Minha mãe foi estudar jornalismo quando se separou do meu pai. Há essta referência (pois Rosa e Ana são também jornalistas), mas o livro não é a história da minha mãe”, finaliza Angélica.





(foto: Patuá/reprodução)
"OLHA-ME OUTRA VEZ"

• De Angélica Franca Padovani

• Editora Patuá

• 116 páginas

• R$ 45 

• Lançamento nesta quinta (16/3), às 19h, no Cozinha Santo Antônio (Rua São Domingos do Prata, 453 – Santo Antônio) 

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