As exposições “Tripa”, de Pedro Neves, e “Brasil hy-Brasil”, de Eduardo Hargreaves, artistas contemplados com o 3º Prêmio Décio Noviello de Artes Visuais, foram abertas na quarta-feira (15/3), na Galeria Genesco Murta e Galeria Arlinda Corrêa Lima, respectivamente.
“Tripa” é composta por 17 telas que fazem o uso de diversas cores, texturas e estampas. Pedro Neves reflete sobre tradições afro-brasileiras e traz para sua obra a temática da migração e do pertencimento.
“A história inteira da minha família é de pessoas migrantes. Quando represento isso, é tentando resgatar algo dentro de mim que talvez esteja ligado a um lar ideal. Acredito que as coisas que nossos antepassados viveram se refletem dentro da gente também”, afirma.
Festejo mineiro
Pedro Neves, de 26 anos, é natural do Maranhão e se mudou para Minas Gerais com a família aos 7. Sempre se interessou pela pintura e, durante a adolescência, participou de programas públicos de formação artística.
A exposição é também um retrato sensível das feridas da colonização no Brasil e da tentativa de reconexão com o ancestral. Ele conta que o exercício de se expressar por meio da arte vem da necessidade de sentir um espaço para chamar de casa.
“Tripa”, o nome da mostra, remete a um festejo tradicionalmente mineiro: o Boi da Manta. O dançarino (também chamado de tripa) se fantasia como animal e “carrega” a brincadeira inteira nas costas.
“É como se eu estivesse sendo usado pela minha própria arte como um canal para representar algo que é maior do que a minha pessoa”, afirma o artista plástico.
Pedro Neves é o artista que assinou a pintura da lateral do Edifício Copacabana, com a ilustração de uma casa de palafita, na Praça Raul Soares, no Centro de BH. O desenho está entre as 17 telas que fazem parte da exposição no Palácio das Artes. Ele já expôs em Londres e no Rio de Janeiro.
Extrativismo em Minas
Em “Brasil, hy-Brasil”, Eduardo Hargreaves apresenta 25 trabalhos. Por meio de várias linguagens, ele se debruça sobre a história de Minas, oferecendo reflexões sobre as ações exploratórias e extrativistas.
A exposição, norteada pelos conceitos de presença e ausência, relembra as perdas naturais, culturais e humanas geradas pelos desastres ambientais em Mariana e Brumadinho.
O desenho é o fio condutor da mostra, onde se veem paisagens completamente mineradas estendidas entre trilhos de estrada de ferro. O espaço da exposição é rodeado de barreiras visuais formadas por tapumes metálicos, objetos comuns nas divisas de áreas de mineração.
“A história mineral vem desde a formação do nosso território e isso também dialoga com a nossa história recente”, afirma o artista de Juiz de Fora, cidade da Zona da Mata mineira.
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Hargreaves vem desenvolvendo o projeto há quase oito anos. Com o objetivo de jogar luz sobre a história do território mineiro, Hargreaves utiliza uma variedade de técnicas e procedimentos que remetem à preservação da memória coletiva e individual sobre a terra.
Formado pela Escola de Belas Artes da UFMG, Eduardo Hargreaves participou de diversas individuais, mostras coletivas e residências artísticas, desde 2014.
O Prêmio Décio Noviello de Artes Visuais é realizado desde 2020 com o objetivo de dar visibilidade a novos artistas. A edição deste ano apresenta obras em diversos formatos, como desenho, pintura e videoinstalação.
3º PRÊMIO DÉCIO NOVIELLO DE ARTES VISUAIS
Exposições “Tripa”, de Pedro Neves, e “Brasil, hy-Brasil”, de Eduardo Hargreaves, em cartaz no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537 – Centro), até 25 de maio. Visitação de terça a sábado, das 9h30 às 21h, e aos domingos, das 17h às 21h. Entrada gratuita
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Tetê Monteiro