Há algumas semanas, Helen Mirren viralizou nas redes sociais ao dizer que a história do filme “Shazam! Fúria dos deuses” era uma coisa muito complicada de explicar.
A declaração, piada no talk show britânico “The Graham Norton show”, veio colada a outro desabafo da artista, que confessou não entender as referências dos mais jovens, fãs do filme que ela discutia.
Pode não ser a intenção da atriz britânica, que comentava, naquela hora, a distância entre gerações, mas as falas dela não estão longe da experiência com o longa. A continuação é um grande desafio de concentração, e mesmo o público mais atento tem dificuldade de entender o que acontece.
Mas em nenhum momento isso é mostrado. A produção já começa com elas tocando o terror em um museu na Grécia para recuperar o cajado visto e usado no filme original.
Lero-lero e diálogos 'tapa-buraco'
A produção é rápida em mostrar que continuidade não é o seu forte. A trama não economiza em diálogos, cheios de lero-lero mágico, para preencher buracos que a preguiça não justifica na tela.
Bom exemplo é o mago que morreu para dar poderes ao herói Billy Batson no original, vivido por Djimon Hounsou, que de repente reaparece vivo. Por quê? Ninguém sabe.
Do lado das antagonistas, a situação não melhora quando se tenta entender suas motivações. Como o título sugere, as irmãs estão furiosas pelo isolamento de milhares de anos e buscam vingança. Mas por que contra os humanos, que só testemunharam a briga?
Cada uma delas tem sua opinião sobre o assunto, desde a que nutre simpatia por nós, pobres mortais, à que só quer destruir a Terra, e a questão vira impasse a certa altura.
O filme também muda o objetivo das vilãs, que passam a procurar uma semente do jardim do Éden para criar o novo mundo de deuses. O local de plantio da semente afasta de vez os interesses das três, com direito a traição.
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A vingança é um prato que se come frio, dizia o velho provérbio que abre “Kill Bill”. No cinema, porém, é necessário pelo menos servir o prato para que se possa saboreá-lo, algo que o filme de Tarantino fazia bem até mesmo com a história de uma das vilãs, O-Ren Ishii (Lucy Liu).
“Shazam! Fúria dos deuses” não só tem duração parecida, como a ótima presença de Liu para fazer uma vilã tão impiedosa quanto a O-Ren de “Kill Bill”. Mas mal dá para entender as ambições da personagem, e resta à atriz viver de “carão” a cada cena, montada no dragão de madeira feito em CGI – outro acontecimento inexplicável.
Porém, nem tudo é groselha na sequência, que tem lá seus momentos na história do protagonista adolescente. Prestes a completar 18 anos, Billy passa por uma crise. Ao chegar à idade adulta, o órfão não é mais protegido pelo governo, responsável por levar o jovem à sua família adotiva.
Para piorar, os irmãos, também órfãos e agora superpoderosos, estão tomando outros rumos, a exemplo da mais velha, que trabalha para entrar na faculdade. Enquanto tenta salvar o mundo como Shazam, Billy luta para manter sua nova vida inalterada.
Herói perdido no meio de subtramas
O roteiro de Henry Gayden, que escreveu o filme original, e de Chris Morgan, famoso pela franquia “Velozes e furiosos”, está muito mais preocupado em encher a trama com o máximo possível de arcos de personagem.
A história de Billy termina perdida entre os vários dramas pessoais de cada irmão e mesmo das três vilãs, que em nada se relacionam com eles.
O procedimento não é novo no atual cenário dos filmes de super-herói. É tanta preocupação em preencher o tempo, de justificar cada momento épico em cena, que se perde de vista o essencial da história.
“Shazam! 2” ao menos é honesto, o que é vantagem sobre os outros. O clímax – atenção para o spoiler – termina com as criaturas virando pó, em confissão à altura da banalidade divina em curso.
“SHAZAM! FÚRIA DOS DEUSES”
EUA, 2023. Direção de David F. Sandberg. Com Zachary Levi, Helen Mirren e Lucy Liu. Em cartaz nas salas das redes Cinemark, Cineart, Cinesercla e Cinépolis.
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