O cantor Gabeu, um dos maiores nomes do gênero musical queernejo, entra em nova fase da carreira com o lançamento de “Lance aberto”. A música tem sonoridade mais próxima do pop, sem perder as raízes da marca registrada do sertanejo que exalta a comunidade LGBTQIAP+.




 
Este momento também mostra a evolução do artista com storytelling. O compositor, filho do cantor Solimões, da dupla com Rio Negro, se considera um contador de histórias e é isso que ele mostra em seu novo lançamento.
 
“Lance aberto” questiona a monogamia. Gabeu diz que queria escrever sobre relacionamento aberto "de alguma forma”. É um novo tipo de amor, que foge do estilo de “amor rural”, presente em outras composições.
 
“Queria uma coisa um pouco mais moderna e urbana. Também diferente das outras coisas que eu já tinha feito no meu álbum “Agropoc” (2021), que tem muito mais uma coisa rural”.
 
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Chão de taco e samambaias

Antes de compor, Gabeu, que se considera um artista imagético, usou essa ideia como base para encontrar referências estéticas do cenário da história, como apartamento de chão de taco e plantas samambaias. “A partir daí, consegui visualizar esse ambiente melhor. Eu falei: ‘acho que vai ser essa a situação’. E comecei a pensar na letra em si”.




 
O clipe mostra uma realidade diferente do que é cantado na canção. Enquanto a letra questiona a falta de diálogo e aborda a traição, o vídeo apresenta um “trisal”. “O que eu quis mostrar é exatamente aquilo que poderia ter sido aquela relação. Acho que a minha dualidade também. A música fala sobre algo que é, de certa forma, o fim de relacionamento por causa de uma traição. E o que a gente vê é a possibilidade do que poderia ter sido aquela relação”.
 
Nem tudo em “Lance aberto” foi inventado. Gabeu revela que já foi traído e morou em chão de taco, que é o cenário do clipe.
 
“Tenho um estilo de composição muito parecido com o trabalho de um roteirista ou de um ator. Venho do cinema. Gosto muito dessa coisa de contação de história, de criar histórias. Tanto o meu álbum 'Agropoc' quanto ‘Lance aberto’ são situações que não são 100% condizentes com os acontecimentos da minha vida”, afirma.
 
Gabeu comenta que o público se identifica com o conteúdo das músicas, o que parecia improvável para ele. “Quando lancei ‘Amor rural’, não achava que tantas pessoas iam se identificar com essa narrativa, mas muita gente se identificou. ‘Lance aberto’ é a mesma coisa”.




 
Os comentários sobre “Lance aberto”, segundo o artista, falavam sobre a vida pessoal de cada ouvinte, como ‘Nossa, um amigo meu passou por isso’ e ‘Você fez essa música para mim’.
 
“Até comento ‘sinto muito’ para as pessoas que falam isso, porque é uma situação horrível. Mas que bom que consegui transpor ali algo que já aconteceu com você, uma situação que você já viveu”, afirma Gabeu.

Vivência paulistana

“Meu primeiro projeto tem esse movimento de voltar para minha cidade, para as minhas raízes e revisitar coisas que eu escutava e consumia quando eu era criança. E esse de agora é o movimento contrário: eu saindo de lá e chegando em São Paulo, me deparando com coisas que eu não conhecia, músicas que eu não conhecia, artistas que não conhecia, possibilidade de relacionamento que não conhecia, como o ‘Lance aberto’”.




 
É algo diferente do “Agropoc”, álbum de 2021, em que ele “revisita o sertanejo em diferentes momentos da sua história”. “Eu vou para os anos 1990, vou para moda de viola lá dos primórdios sertanejo, flerto com várias coisas com Country”.
 
“Acho que esse projeto de agora é mais pop, mais urbano mesmo”.  Gabeu diz que São Paulo é uma “cidade pop” e quer  misturar esse som com as raízes do sertanejo. “Gosto muito dessas misturas. Mas o sertanejo vai ser sempre a base de tudo.”
 
A ideia, por agora, é lançar singles soltos. “Lance aberto” foi uma forma de testar as águas para saber qual som seguir. Apesar do susto inicial do público de ver Gabeu nos teasers sem o chapéu e a bota, a música agradou os fãs.
 
Para os próximos lançamentos, ele diz que vai “ousar um pouco mais na estética” “Sair um pouco dessa figura do cowboy e ir para outros lugares, explorar outras vertentes”, afirma.

* Estagiária sob a supervisão da subeditora Tetê Monteiro

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