A websérie "Stupid wife" se tornou um fenômeno entre o público LGBTQIA+ no Brasil e no mundo. Bancada pela produtora independente carioca Ponto Ação, trata-se de importante realização de Priscilla Pugliese, de 30 anos, diretora e fundadora do canal, ao lado de Natalie Smith e Rodrigo Tardelli.
A primeira temporada foi lançada entre agosto e outubro de 2022. Até o momento, alcançou quase 34 milhões de visualizações em todos os oito episódios, exibidos gratuitamente no canal da produtora no YouTube. A produtora lançou, anteriormente, "The stripper" e "A melhor amiga da noiva".
Nesta entrevista ao 'Estado de Minas', Priscilla Pugliese comenta detalhes de bastidores, os desafios do mercado e a segunda temporada da atração. Revela as dificuldades de conseguir patrocínio, sobretudo para uma série sobre um casal lésbico.
A produtora criou formas de obter dinheiro, vendendo aos fãs episódios antes da estreia ou conteúdos diferenciados. A resposta do público foi positiva, diz Pugliese.
"Stupid wife" é baseada em uma fanfic (narrativa ficcional criada por fãs, tendo ídolos reais como personagens) escrita por Nathália Sodré, com foco na banda feminina Fifth Harmony.
O grupo, formado no show de talentos americano “The X Factor” em 2012, se desfez em 2017. Ali se destacaram as cantoras Camila Cabello e Lauren Jauregui, que hoje seguem carreira solo.
Na fanfic brasileira, Camila Cabello “virou” Luiza, interpretada por Priscila Reis. A moça, que sofre de amnésia dissociativa, perde a memória da vida adulta. Sua última lembrança é de quando, muito jovem, odiava Valentina (inspirada em Lauren Jauregui), papel de Priscila Buiar.
Luiza e Valentina se casaram, têm um filho, mas tudo isso se apagou na memória de Luiza. Os oito episódios da primeira temporada mostram a reviravolta na vida dela ao se redescobrir como mãe de Léo (Thomás Araújo, de 5 anos) e ao se reapaixonar pela esposa. Também fez sucesso o "Especial de Natal", que conta a história do casal antes da doença de Luiza.
Priscilla Pugliese diz que ao idealizar o projeto, já pressentia a aceitação por parte do público. “Eu sabia que ‘Stupid wife’ seria uma loucura, pelo texto. É uma fanfic muito amada, a segunda maior fanfic Camren (junção de Camila Cabello e Lauren Jauregui) do Brasil, realmente idolatrada. Ou as pessoas iriam detestar, porque estragaram a história, ou iriam amar porque era isso que elas queriam ver”, afirma.
Confira a entrevista com Priscilla Pugliese:
Como surgiu a Ponto Ação?
Fiz um curso profissionalizante e nele aprendemos que a gente não deve ficar refém do mercado, você tem de se autoproduzir. Deram aula de roteiro, filmagem, um pouco de cada coisa, focado para atuação. Lá mesmo, junto com alguns amigos, resolvemos fazer uma websérie. Na época, era uma coisa pequena, quem assistia eram nossas famílias. Mas eu queria falar sobre coisas importantes e, de alguma forma, tocar o coração das pessoas.
Conheci o Rodrigo Tardelli através de covers de dança, mostrei o projeto e ele gostou. Aí topou fazer o Ponto Ação comigo. A gente pegou uma fanfic que já existia, com o texto que gostamos, e fizemos. Lançamos no carnaval e falei: ‘Ninguém vai assistir a isso’. Não sei o que aconteceu, se papai do céu olhou para a gente e pensou que tínhamos um tema muito legal de abordar, a gente falava sobre anorexia. Quando chegou quarta-feira de cinzas, tinha 10 mil visualizações, o que para a gente era muita coisa.
Foi a trilogia “Entre duas linhas”. De repente, eram 50 mil, 100 mil, a galera pedindo continuação. Identificamos que fizemos série para um público que tem carência em relação a conteúdos que, ao meu ver, apresentam temas bonitos de serem falados. Porque a gente sempre fala de preconceito, homofobia. Não é que não vamos mais falar, a gente já entendeu que isso existe, mas também mostrar o outro lado. Duas mulheres podem se casar, ter filhos, os problemas delas são cotidianos como de qualquer outro casal que tem de pagar conta, pegar o filho na creche. A gente foi para esse lado e caiu no gosto do povo.
Quando a Natalie Smith entrou para a série, ela somou muito, porque a gente se tornou muito amiga, sempre convivemos muito. A galera queria acompanhar a gente, saber. E ter esse contato com o público é muito importante, mas não tínhamos noção de onde a gente chegaria.
Minha pretensão era falar sobre assuntos que não são falados. Na minha família é comum, tenho uma prima que é casada há 11 anos e os problemas dela eram cotidianos e não de preconceito. Falei: tem o lado bonito também, vamos falar disso. O começo era esse lugar de querer representar essas pessoas.
Porém, eu não tinha tanta noção do quanto eu precisava deste tipo de conteúdo, porque sempre vi o lado bom, mas as pessoas não conheciam esse lado. Hoje, a gente já encontrou o Brasil (com a websérie), quero encontrar o mundo agora. Quero entrar nos países que falam que isso é crime, mostrar que gostar de alguém do mesmo sexo que você nao é crime. O meu objetivo é quebrar essa barreira, encontrar essas pessoas e tentar reeducar a população.
Como produtora independente, quais são os principais desafios para você?
A gente entendeu em “A melhor amiga da noiva” que precisávamos comercializar nosso produto, porque era muito difícil, e ainda é, conseguir patrocínio ou até apoio.
Na época, foi o casamento de “A melhor amiga da noiva” que vendeu. Deu certo! Os fãs queriam apoiar a gente, queriam que a gente fizesse vaquinha, mas preciso merecer para estar recebendo o que você está me dando. Então, não achava justo você me dar o dinheiro, queria que você tivesse alguma coisa. A gente buscou trazer exclusividade para as pessoas que estão comprando, não doando dinheiro. A partir disso, a gente começou a comercializar nosso produto e conseguir nos manter.
Mas não é fácil, cada projeto, cada temporada é uma luta. A gente recebe desse projeto aqui para investir no próximo, não é a bilheteria.
Ainda é difícil encontrar patrocinador, mesmo com todo sucesso de 'Stupid wife'?
Sim, não sei se a questão é por ser um produto lésbico e as pessoas têm o preconceito de colocarem suas marcas ali. Mas ainda assim é muito difícil. Teve uma marca que gostou do projeto, mas queria dar dois produtos dele, o que não vai pagar o salário do elenco, não vai ajudar na alimentação. Então, acho que as pessoas ainda não confiam no poder que nossas webséries têm para colocarem suas marcas.
Como foi o processo de passar da frente das câmeras,como atriz, para a direção? Faltam mulheres diretoras?
A gente tem muitas mulheres nesse papel, mas falta oportunidade para que mostrem o trabalho delas. Mas não foi essa questão que me fez ir para trás das câmeras, a gente sempre está dando oportunidade para jovens que querem estar com a gente. Nosso objetivo é a galera crescer para que possa voar em lugares maiores que a gente.
O que me fez querer ir para atrás das câmeras foi ‘Stupid wife’, porque eu vim de “A melhor amiga da noiva”, com várias temporadas, onde eu atuava e dirigia. Era tudo que a gente fazia na Ponto Ação, que é aprovar um figurino, a arte, ver as locações. Era uma série tranquila para mim, porque já tinha essa personagem por volta de quatro, cinco anos comigo, era algo que já estava dentro de mim. Eu conseguia atuar, dirigir e não afetar nenhum dos dois lados.
Quando a gente decidiu fazer “Stupid wife”, eu sabia que era uma série, uma fanfic muito importante para mim. Não seria capaz de fazer as duas coisas ao mesmo tempo sem pecar em uma delas, sabendo que seria uma série muito grande. Naquele momento, queria produzir, cuidar de cada detalhe e entregar para a Natália, autora da fanfic, o mais próximo do que ela imaginou.
Foi de uma conversa minha e Natalie que a gente entendeu que precisávamos dar uma respirada na nossa imagem juntas para que pudéssemos dar oportunidade para outras pessoas terem o lugar de frente.
Como você e Natalie dividem as tarefas?
Cuido mais dos atores, a parte mais de coach, preparação. Quando eles têm algumas dúvidas da linha do tempo, principalmente a Priscila Reis. Tem algumas mudanças. Às vezes a gente está gravando uma cena do capítulo 8, depois do 1, 7, ou 2. Aí são dúvidas como: ‘Estou bem com a Valentina ou não?' 'Lembro disso ou não?’. Então, cuido desse lugar deles, antes de entrar em cena, sento e explico o que aconteceu antes, o que eles sabem que vai acontecer, mas ainda não aconteceu, como é o estado deles naquela cena.
Sempre que dá para estar no set, assisto e falo: ‘Aqui você poderia ter passado a mão no rosto dela’ ou ‘poderia ter chorado aqui', ou 'aqui não precisa chorar’. É um trabalho voltado para eles. É o cuidado que tenho com eles na atuação, mas também o cuidado com a imagem deles como atores.
Já o trabalho da Natalie é controlar o set, ver se a arte está boa, se o figurino está batendo com o que a gente quer de fotografia, como está a câmera, esse trabalho mais técnico de passar para os atores a marcação.A gente tem uma equipe gigantesca que cuida de tudo isso com a gente, então não somos só nós.
Qual é sua relação com as fanfics? Como é o processo de tirar do papel?
No caso de ‘Stupid wife’, foi uma das primeiras fanfics que li e me emocionou muito. Eu não sabia que isso existia de fato, mas acreditei na história. Falei: ‘Esses personagens existem, estão em algum lugar que eu não sei’. Na época, queria viver isso, sentir como é isso. Hoje em dia, não sei se quero viver isso. Acho que trabalhar com a Priscila Reis é muita loucura, muita intensidade.
Mas a fanfic de “Stupid wife” me prendeu dessa forma, eu li e queria falar sobre esse assunto. Nunca tinha conhecido ninguém que tivesse passado por aquilo (amnésia dissociativa). Tem também a questão da depressão pós-parto, que uma amiga passou e senti que precisava ser falado de alguma forma.
A gente não conseguiu se aprofundar tanto, mas espero um dia ter essa oportunidade. Mas a gente conseguiu, com a segunda temporada, passar mais essa informação para a galera. Eram assuntos que me fizeram me apaixonar pela fanfic, ela tinha um tema, não era só um casal se relacionando. Casal margarina, família feliz, tinha uma coisa que precisava ser falada.
Em relação às outras fanfics, muitas eu acabo lendo. Sou a que fica mais nessa coisa de ler as fanfics, gosto e sempre me envolvo. Algumas acabo lendo porque encontrei e achei interessante, já li muitas. Estudei o que era fanfic para entender esse universo, então passei um ano lendo fanfic e estudando.
“A melhor amiga da noiva” foi na época em que a gente conseguiu “Stupid wife”, mas falei: ‘Cara, não é o momento de fazer 'Stupid wife' agora, então vamos aproveitar a Natalia e ver qual outra fanfic ela tem e dá para a gente fazer’. Na época, a gente achou “A melhor amiga da noiva” interessante. “Até você me esquecer” o Rodrigo escolheu, mas tem muitas fanfics que a gente acaba entrando em acordo com as autoras. A galera fala muito e a gente começa a procurar e saber o que é. Poucas são as que ainda não li.
O processo com as autoras, vamos ter um documentário em que vamos falar sobre isso. Mas existe toda a coisa de marketing, conversa com elas, não posso contar isso ainda. A gente quer fazer e está se programando para um documentário, vamos contar como conseguimos as fanfics, de onde vieram os contatos. Isso é um segredo que a gente quer contar no documentário. Mas a gente não tem ideia de quando lançar, estamos filmando ainda.
Como foi encontrar as Priscilas Reis e Buiar para a série?
Nós fomos atrás do perfil. Sabe quando você acha pessoas maravilhosas, mas ainda não é o que queria? Tinha que ser a pessoa certa.
A produtora que trabalhava com a gente na época mandou um site com várias atrizes em fotos. Fui olhando e vi a foto em que a Pri (Reis) estava com uma regata branca sorrindo de lado. Quando olhei para ela, não estou comparando com a Camila Cabello, mas o brilho que tem a personagem, a cantora, foi o brilho que vi na Reis.
Falei: ‘Essa menina tem um lugar latino, uma boca, um nariz, um olho puxado que me lembra um pouco a Cabello’. A gente não estava buscando pessoas parecidas, mas sabe quando você olha e pensa: ‘Essa menina tem alguma coisa, tem um brilho’? Eu falei que queria vê-la.
Entraram várias meninas, mas não eram o que a gente queria. Juntei todo mundo e falei: ‘O que a gente precisa é de uma pessoa que quando está falando sobre a Valentina, que ela seja moleca e tenha um corpo mais largado e mostre a raiva que tem da faculdade, rebeldia. Não é caricata, mas que dentro dela tenha essa coisa meio revoltada. Quando ela fala do Léo, eu preciso ver a mãe, esse sentimento, um lugar maduro, preciso que ela amadureça. Nenhuma está chegando dos dois lados’.
Quando a Reis entrou e fez o teste, eu não conseguia falar. Não tinha uma pessoa que falasse que não seria ela, todo mundo concordou. A única coisa que perguntei foi: ‘Você tem disponibilidade?’. E também se ela dançava, mas ela me enganou (risos).
A Natalie tinha comentado da Buiar para o papel de Valentina, mas tenho um projeto viria logo depois de “Stupid wife” e a queria nele. A gente até jogou esse projeto na gaveta por um tempo para pensar depois como vai ser.
E nós combinamos que não queremos repetir as pessoas, queremos dar oportunidade para mais gente. Então, falei: ‘A Buiar não vai fazer o teste, ela vai ficar para o meu próximo personagem. Sei que ela é uma atriz boa, dedicada, já trabalhei com ela outras vezes, mas não quero que ela faça o teste’. Porque eu sabia que se fizesse, a personagem era dela.
Aí começamos a fazer o teste com várias meninas que eram boas, mas não estavam na maturidade da Reis. Rolou uma parada do tipo: ‘Será que a Buiar consegue mesmo fazer a Valentina?’. Eu pensei: ‘Como é que é? Agora quero. F*da-se o meu outro projeto’.
A Buiar fez o teste de qualquer jeito. Foi muito bom, mas eu sabia que ela podia ir muito além. Eu não podia interferir, dirigir ela, e na hora de votar, eu votei sutilmente. Quem define sou eu, Natalie e Rodrigo, mas a gente estava conversando e começou um ‘será?’. Aí deixei para a Natalie, e a Buiar entrou.
Vocês já sentiam a conexão das duas desde o começo?
A gente ainda não tinha contratado a Reis, tinha falado só com a Buiar. A Reis voltaria para fazer mais um teste, a Buiar seria mais uma leitura. Falei: ‘Conhece essa atriz aqui?’. Ela: ‘Já fiz alguns cursos com ela. Não é tão próxima, mas conheço’. Perguntei: ‘O que você acha?’. E ela: ‘É boa, dedicada’. E eu falei: ‘Então é ela, galera, fechamos’.
A Reis não sabia que era a Buiar, quando ela chegou e viu, falou: ‘Não acredito’. Ali a gente viu uma conexão muito legal delas. Mas nas primeiras cenas estavam muito nervosas, não conseguiam se conectar ainda. Elas foram para o automático, mas têm uma escuta muito boa, porque você fala e elas entendem o que é para fazer. Foi uma química construída ao longo das gravações.
A gente nunca chega e fala: ‘É alma gêmea e a química está ali’. Não, é um trabalho, o processo de elas estarem juntas, se tornarem amigas, dividirem a hora do almoço, uma ajudando a outra. A gente foi convivendo com isso. Temos até costume de gravar cenas de beijo, que tem mais troca para o final, mesmo que seja uma cena do primeiro capítulo para que elas já venham no ritmo.
Mas existia essa insegurança normal da Reis, também por ser a primeira protagonista dela . Existe esse peso, ela chegava e falava: ‘Pri, é muita coisa’. Eu falei: ‘Protagonista é isso o tempo inteiro. Você em todas as cenas’. Até porque na primeira temporada quem conta a história é a Luiza, então ela está em todas as cenas praticamente.
Mas elas foram criando essa química juntas, dentro e fora do set. Uma construção com a gente e com elas também. Talvez, se elas não tivessem essa troca fora, a química não chegasse no set.
O fato de atrizes heteros interpretarem lésbicas poderia influenciar?
Para mim, não faz diferença. Em questão de atuação, a atriz tem de estar disponível. Claro que uma atriz lésbica talvez saiba como é o toque feminino, como é o sexo. Mas a gente tem pessoas dentro da nossa produção que são lésbicas ou bissexuais, e estavam o tempo inteiro ajudando as meninas, direcionando.
Elas procuraram, assistiram a filmes. Para mim, como produtora, não influencia em nada, são duas meninas superdisponíveis. Não converso com elas sobre isso, não cabe dentro da nossa ficha de trabalho. Não influencia em nada, desde que elas estejam disponíveis a aprender, a ter essa troca com a gente e que se sintam confortáveis, porque o mais importante é a gente nunca passar do limite do ator, (é preciso) que ele se sinta bem com o personagem que está fazendo.
Esperava essa resposta toda do público, o sucesso que a série está fazendo?
Eu sabia que “Stupid wife” seria uma loucura pelo texto. É uma fanfic muito amada, a segunda maior fanfic Camren do Brasil, então realmente era idolatrada. Então era 8 ou 80, ou as pessoas iriam detestar porque estragaram a fanfic, ou iriam amar porque era isso que elas queriam ver.
Meu maior medo era de quem seriam essas meninas, mas quando encontrei as duas e a gente começou a trabalhar na leitura e começou a ter uma troca, elas começaram a se emocionar com os personagens. Quando liam, os olhos brilhavam. Falei: ‘Elas querem fazer isso, não estão aqui pela fama ou pelo dinheiro, elas querem esses personagens’. Ali eu teria a certeza de que seria um sucesso.
Agora, um sucesso como esse a gente nunca espera. Sempre esperamos que dê certo e tenha êxito, que a gente consiga atingir o coração de quem a gente tem que atingir. Mas estourou de uma forma que ninguém imaginava, nem elas.
Como é organizar um dia de gravação em "Stupid wife"?
A gente começa sempre em pré-produção. Agora na segunda temporada, é um pouco mais tranquilo, porque a gente já tem as locações principais, mas ainda sim temos de negociar esses espaços. É tranquilo para não ir atrás, mas a questão financeira, por exemplo... Saiu muito mais cara do que a primeira.
Temos uma equipe de pré-produção; eu e a Natalie idealizamos como queremos as locações. A equipe vai atrás. Junto com nossa equipe de fotografia, áudio e arte, visitam a locação e aprovam.
No mundo ideal, a gente teria de montar a locação antes de levar os atores e gravar, testar áudio, foto, arte. Mas a gente não tem financeiro para fazer isso, então vamos na foto e torcemos para que a locação seja boa. A gente tem todo um processo de estudar a característica do personagem com o figurino para que a gente possa ver como imagina.
Vestimos as meninas, aprovamos o figurino, elas veem se estão se sentindo bem ou não, a figurinista vê se gosta. Depois tem o processo de microfonar para ver se não atrapalha o áudio.
Tem o processo da arte, que muda totalmente o lugar. Às vezes a gente grava no mesmo lugar e ninguém sabe. Pegamos uma casa agora que servia de quatro a cinco ambientes diferentes, a parte da piscina era uma locação, o quarto era outra, escritório outra.
Também tem todo o trabalho de produção da Larissa Honorato, que vê a hora em que a gente começa, quanto tempo vai levar a primeira cena. Ela faz toda ordem do dia.
Gravar é a parte mais gostosa, vamos para o set e vemos o que de fato funciona ou não. É muita coisa!
O que você pode contar da segunda temporada?
Adoro deixar enigmas, mas tem uma frase que é dos Feiticeiros de Waverly Place: ‘Nem tudo é o que parece ser’. A gente vai olhar muita coisa nessa temporada, achar que é uma coisa e é outra completamente diferente. Precisamos focar nos mínimos detalhes e segurar um pouco o julgamento em relação à Luiza. Ela veio para contar uma história e as pessoas vão falar: ‘Essa menina é guerreira, realmente está lutando muito para se reconhecer’. Imagina você acordar em uma vida que não é sua, porque para ela essa vida não é dela, alguém que construiu sozinha? Então essa temporada vem para a gente se emocionar muito com ela.
O Thomás cresceu muito, ele está muito esperto, e a gente está aproveitando muitas cenas dele com a Buiar também. A galera queria ver o lado moleca da Buiar, da Valentina, ela é quase uma criança do lado do Leo, filho dela, então tem muita cena divertidíssima em relação a isso. Mas, no fim, a gente vai se surpreender com a estrutura do que estamos fazendo. A gente está com um investimento melhor para figurino, arte. Há vários especiais dentro dos episódios, vocês vão gostar bastante deles.
Já gravaram todas as cenas?
Ainda não gravamos a cena final. Foi uma das locações onde a gente foi gravar, mas não gostamos da acústica do lugar, do tamanho. Aí preferimos não gravar o final enquanto não encontrarmos a locação. É uma das cenas mais esperadas. Teremos muitas lágrimas, não vou mentir.
Quando deve sair a segunda temporada?
A gente quer que saia assim que a gente terminar de editar. Estamos editando os quatro primeiros episódios, a gente edita por etapa. Primeiro quatro e depois mais quatro. A gente tinha uma data que infelizmente não vamos conseguir cumprir, porque desta vez a gente quis gravar tudo com muita calma.
Teve uma cena em que a gente começou a gravação e choveu no meio, aí decidimos cancelar e no dia seguinte iríamos gravar tudo de novo. Teve uma outra que a gente gravou e sentiu que não ficou tão legal, aí decidimos gravar de novo. Então, a gente realmente está tentando tomar o máximo de cuidado possível, dentro das nossas horas de trabalho, mas gravando menos cenas com mais atenção, mais planos. A gente tem uma equipe muito maior do que a da primeira temporada e a do "Especial de Natal".
Tínhamos uma data para agora, mas a gente quer ter certeza do que queremos para entregar o melhor produto possível. Então, não sei se daqui a dois ou três meses. Mas não vai demorar tanto, assim que a gente terminar de editar, já vamos lançar para a galera. Isso é bom porque geralmente tem séries que demoram um ano, seis meses. A gente tá indo rápido.
Conversamos com nossa equipe de edição e eles falaram: ‘Cara, a gente pode fazer para essa data, mas não vai ficar tão bom’. Então, confirmei qual era o tempo de que eles precisavam. Agora a gente precisa calcular para saber quando de fato vamos terminar. Estamos também gravando com três câmeras, então o tempo de edição é bem maior.
Quais foram as diferenças da primeira para a segunda temporada?
O lugar de conforto. Nós tínhamos duas lapelas na primeira temporada, agora a gente tem seis. Assim o ator pode falar mais próximo, quando não tem, ele precisa falar de outro jeito. Isso, de certa forma, se não o ator não for muito técnico acaba atrapalhando a atuação dele. Ter três câmeras facilitou para gravar mais rápido.
O fato de termos muitos fãs comprando a série, ajudando a gente a produzir, eles acabam investindo em material porque não é barato. Temos uma produtora independente com um público muito grande que investe na gente, compra o nosso material. Então, a gente também quer investir para que o produto seja melhor para eles.
O fato de gravar a segunda temporada com mais tempo, mais verba, fez com que a gente pudesse ter um conforto maior. Conseguimos aumentar o salário da equipe do jeito que podíamos.
Agora temos uma equipe de figuração, hoje a gente tem um chefe de cada setor com seu assistente, então não fica puxado para a pessoa trabalhando atrás das câmeras.
A grande diferença da primeira para a segunda temporada foi o fato de a gente ter verba para investir em conforto e gravar com mais calma, porque as cenas são muito mais intensas do queas da primeira temporada.
Por exemplo, das meninas com o Thomás têm cenas intensas, onde ele está mal em um determinado momento. Antigamente, a gente gravava as meninas primeiro e ele separado, agora ele grava com elas e tem essa troca com ele.
Tem cenas em que a gente investiu mesmo para ter um produto maneiro, como a cena de apresentação de bachata. Os fãs foram lá gravar e fizemos em um teatro, dando alimentação para os fãs que estavam lá.
Os atores passaram todas as cenas, diferentemente da primeira temporada. Eles chegaram já sabendo como deveriam fazer a cena e a gente só foi alinhando. A diferença foi vocês terem ajudado a gente para trazer um lugar mais confortável para nosso elenco e nossa equipe.
O ciclo se encerra na segunda temporada?
Não posso falar nada, vocês vão ter que assistir. Mas posso dizer que o final está impactante. Desta temporada que estamos gravando agora.
"Stupid wife" foi um grande salto para a Ponto Ação. Futuramente pretendem continuar com mais histórias, fanfics?
Se Deus quiser, a gente vai continuar produzindo ainda dentro dessa linguagem, pretendemos continuar com as fanfics. Nosso foco agora é “Stupid wife”, a gente chegou a cogitar pensar em alguma coisa, mas não temos tempo e nem energia para isso. “Stupid wife” ainda tem muita coisa para falar, a gente quer entregar isso da melhor forma possível.
Pretendem continuar "The stripper"?
“The stripper” foi um ciclo que não conseguimos fechar. A gente chegou a receber propostas de streamings, só que era para nos separarmos e eu nunca achei justo. Se fiz com a Natalie, vou continuar com ela e vice-versa. Também perdemos nossas locações para continuar a história. Está guardado, ainda temos o direito de “The stripper”, a Evelyn é uma pessoa maravilhosa e quero poder trabalhar com ela novamente. Mas a gente não tem essa pretensão.
Não sei se de repente, daquia uns 5, 10 anos, a gente gravaria do começo ou a gente conheceria os donos dessas locações e gravaria de novo.
Se receberem uma oferta, passariam a série para o streaming?
Sim, mas depende da proposta do streaming. Na época de “The stripper” a gente recebeu proposta para um dos maiores streamings do Brasil, mas a proposta era uma ou outra, porque a gente precisava colocar alguém daqui da casa e optamos por não fazer.
“Stupid wife” rolou um lugar assim, e a gente não quer vender o piloto ou o roteiro, queremos trilhar com o que está aqui, com nossa equipe e nosso elenco. Então, é difícil a conversa com os streamings, por isso a gente foca na gente, em nossa venda.
Se um streaming aparecer e falar: ‘Quero dar o dinheiro para vocês produzirem’. Ou então: ‘Vou contratar vocês com toda equipe, todo o elenco e a gente vai botar dentro do nosso canal’. Ou ‘vou botar a série pronta dentro do nosso canal’... Mas isso é difícil, porque o streaming quer fazer da forma dele. Então, é uma conversa em que a gente vem pensando há mais tempo. HBO, compra nossa série pronta! (risos).