A dança foi literalmente um acidente na vida do coreógrafo norte-americano Moses Pendleton. Esquiador quando jovem, quebrou a perna durante uma competição. Como parte de sua recuperação para retornar à equipe, começou a fazer aulas de dança. A partir disso, sua própria história foi reescrita.





Pendleton, fundador e diretor artístico do Momix, completa 74 anos no próximo dia 28. Com meio século dedicado à dança, fala de seu passado remoto para comentar a predileção pelo pas de deux que criou há mais de quatro décadas. Chama-se “Skiva” e bailarinos dançam a bordo de esquis. “Gosto especialmente desta por causa da conexão pessoal que tenho com ela”, diz.
 

Bailarino do Momix desafia a gravidade explorando o contraste entre força e leveza

(foto: Charles Paul Azzopardi/divulgação)
 

Casa cheia em BH

Pois o público de Belo Horizonte verá este pas de deux e outros números impressionantes que fazem do Momix uma companhia singular. Na terça (21/3) e quarta-feira (22/3), o grupo retorna a BH para duas apresentações do espetáculo “Viva Momix”. As datas, remarcadas em decorrência da pandemia, serão de casa cheia. Os ingressos estão quase esgotados.

Em 1971, Pendleton ajudou a fundar o Pilobolus, que abandonou 10 anos depois para criar o Momix – ambas as companhias têm público cativo no Brasil. Não é à toa, portanto, que o trabalho dos dois grupos têm vários pontos comuns, como o uso criativo da luz.




 
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No Momix, a plasticidade da dança é levada ao máximo grau por meio de junção de vários elementos: atletismo, teatro de sombras e circo. Os corpos dos bailarinos, não raro entrelaçados de maneira inusitada, formam outros corpos, formas distintas da natureza, que sempre provocam o espectador.

Criado justamente para comemorar suas quatro décadas em atividade, “Viva Momix” reúne trechos de cinco espetáculos da companhia: “Opus cactus” (2001), “Lunar sea” (2005), “Botanica” (2009), “Remix” (2011) e “Alchemia” (2014). Algumas dessas montagens já foram apresentadas em turnês brasileiras.

“Opus cactus” exibe um passeio pelas estranhas, coloridas e sedutoras imagens do deserto. “Lunar”, mais radical, promove uma experiência sensorial em que os bailarinos brincam com a ausência da gravidade.





“Os trechos selecionados funcionam como um espetáculo próprio. São dançarinos incríveis fazendo coisas que nunca se viu fazer. Eles colocam mágica em nossos olhos. Nosso trabalho é basicamente feito com o corpo humano. E acho que o espetáculo é também um grande escape para a difícil realidade que temos vivido”, diz Moses Pendleton.
 

Em coreografia de 'Viva Momix', a delicadeza se dá na fluidez do tecido que 'dança' com as bailarinas

(foto: Max Pucciariello/divulgação)
 

Alice no país do Momix

O grupo estreou oito espetáculos. O mais recente deles, “Alice” (2019), lançado pouco antes do início da crise sanitária, só mais recentemente voltou aos palcos. Das montagens, a releitura para “Alice no país das maravilhas” é a que mais faz uso da tecnologia.

Pendleton espera que o Momix retorne ao Brasil em 2023 com esse espetáculo. O coreógrafo nasceu numa fazenda de gado em Vermont. Há muito está radicado no interior de Connecticut – a sede do Momix fica em Washington, cuja relação com a capital americana está somente no nome. Distante cerca de duas horas de Nova York, a cidade conta com não mais de 3,5 mil habitantes.




Pouco se distancia do mundo, sua maior fonte de inspiração.
 
“É muito bom voltar aos palcos, pois a COVID deixou tudo muito difícil para grupos como o nosso, que precisam do público. Pessoalmente, o período da pandemia, que me manteve fora do teatro, foi de muita pesquisa na natureza. Espero que isso afete meu novo trabalho”, acrescenta Pendleton, que no verão (do Hemisfério Norte, a partir de julho) começa a trabalhar em uma montagem inédita.

Moses tem atuação importante também como fotógrafo, em especial  fotos de natureza. Sua predileção são os girassóis que cultiva em casa, onde vive com a mulher, Cynthia Quinn, uma das primeiras estrelas do Momix e atual diretora associada da companhia.

“A natureza do Momix não é urbana. Como vivemos no campo, nossa inspiração vem da luz solar, da água, do ar fresco. A ideia é traduzir o mistério da conexão da forma humana com formas não humanas criando um teatro visual. Trabalhar a estética e o atlético: ainda estou fascinado por isso depois de 50 anos. Acho que minha visão continua a crescer, espero que ela continue se relacionando com as pessoas”, acrescenta.




 

Jogos de luz são a marca registrada do Momix

(foto: Eddy Fernandez)
 

Bailarinos atletas

As montagens exigem muito dos bailarinos, que têm de 20 a 30 anos. “É algo muito similar a um jogador de futebol ou esquiador. A vida no Momix não é muito diferente de outras companhias. Teve gente que ficou no grupo por muito tempo, mas eventualmente o deixam porque envelheceram ou porque tiveram algum problema nos joelhos”, comenta.

Pendleton abandonou as chuteiras há muitos e muitos anos. “Mas ainda danço. Só que em torno da mesa da cozinha enquanto lavo louça. Você teria de me ver dançando um samba”, brinca ele, logo emendando: “Mas pedalo 5 milhas (8km) toda manhã, nado uma hora durante o verão e frequento academia diariamente. Faço o melhor que posso, porque sempre achei que sem o corpo a gente não pode pensar mais nada, já que mente e corpo estão sempre conectados”, conclui.

“VIVA MOMIX”

Espetáculo da companhia norte-americana Momix. Terça (21/3) e quarta-feira (22/3), às 20h30, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Duração: 90 minutos, com intervalo. Ingressos disponíveis apenas para a plateia 2, na terça(R$ 225, inteira, e R$ 112,50, meia), e plateia 3, na terça e quarta (R$ 50 e R$ 25). À venda na bilheteria e no site sympla.com.br


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