Autocaricatura do pintor Pedro Américo, que se retratou dentro de uma cartola

Detalhe de autocaricatura de Pedro Américo, feita em 1867: bom humor e traço apurado

Pedro Américo/reprodução

'Pedro Américo foi rico e pobre, esteve com reis e presidentes, mas também passou fome, dormiu na rua'

Thélio Queiroz Farias, escritor e pesquisador



É com certo exagero, ele próprio admite, que o advogado e escritor Thélio Queiroz Farias chama Pedro Américo (1843-1905) de “Leonardo da Vinci brasileiro”. Mas não há como lhe tirar a razão. Um dos mais conhecidos pintores acadêmicos do século 19, foi também poeta, filósofo, cientista, caricaturista, ecologista, arquiteto, músico, historiador e político. Falava nove línguas, publicou 19 livros em vida, quatro deles romances.

Em “Além do Ipiranga – A extraordinária vida de Pedro Américo e suas incríveis facetas” (Cepe/A União), Farias busca justamente dar conta da trajetória daquele que para muitos se resume ao autor de “Independência ou morte” (1888), o maior destaque do Museu do Ipiranga, em São Paulo.
 
“Esse quadro é tão notável que está em todos os livros escolares. Já esteve, por duas vezes, no dinheiro circulando (em réis e cruzeiros), foi até abertura de novela. Mas, ao mesmo tempo em que deu notoriedade, ofuscou os outros talentos de Pedro Américo”, comenta Farias.
 
Quadro mostra mulher segurando rabeca

Detalhe de "Rabequista árabe", quadro pintado em 1884 pelo artista paraibano

Pedro Américo/reprodução
 

Pintor criou impressora e tentou voar

Paraibano de Campina Grande, o autor conhecia alguns feitos de seu conterrâneo quando iniciou a pesquisa, que levou cinco anos e dois meses. Pedro Américo é de Areia, município histórico na Zona da Mata da Paraíba, que criou museu na casa onde ele nasceu, batizado com seu nome.

“Eu sabia do pintor, da infância com dificuldades e de alguns talentos. Quando criança, Pedro Américo chegou a criar uma espécie de impressora, onde fazia os cartazes da paróquia da cidade. Tentou voar, criando algo como um paraquedas e saltou de um sobrado de Areia. Mas não o conhecia a fundo. Na medida em que entrei na pesquisa, me apaixonei”, conta. Foram cinco anos e dois meses de trabalho para o livro.

Para conhecer mais a fundo seu personagem, Farias fez parte do percurso que o biografado empreendeu. Esteve em Florença, na Itália, onde Pedro Américo viveu seus últimos anos e morreu após longa enfermidade.
 

"Em dificuldades, ele começou as vender as medalhas que tinha recebido. Na época, elas eram feitas em ouro, prata e bronze, então valiam dinheiro. Mas Pedro Américo tinha tanto que foi preso, porque acharam que ele deveria ter roubado"

Thélio Queiroz Farias, escritor e pesquisador

 

Paraibano foi o segundo doutor brasileiro

Na Universidade Livre de Bruxelas, onde foi professor, o paraibano tornou-se o segundo brasileiro da história a obter o título acadêmico de doutor. Farias ainda esteve no Museu Imperial de Petrópolis, cujos arquivos guardam muitas informações sobre o personagem, que foi próximo de D. Pedro II.

“Pedro Américo deixou duas descendências. Uma no Rio e outra em Florença. Na Itália, estive com dois bisnetos dele, que me apresentaram cartas e documentos. Foi ali que descobri novidades”, conta Farias. Por meio das missivas, o escritor descobriu que o personagem naufragou na costa do Reino Unido e foi preso por engano em Paris.

“Em dificuldades, ele começou as vender as medalhas que tinha recebido. Na época, elas eram feitas em ouro, prata e bronze, então valiam dinheiro. Mas Pedro Américo tinha tanto que foi preso porque acharam que (pela quantidade) ele deveria ter roubado. Só foi solto por intervenção do embaixador brasileiro”, diz Farias.

“Li recentemente ‘A arte da biografia’, de Lira Neto, que diz que o melhor personagem é aquele que teve uma vida de altos e baixos. Pedro Américo foi rico e pobre, esteve com reis e presidentes, mas também passou fome, dormiu na rua.”
 
 
Editado com farto material iconográfico, “Além do Ipiranga” traz imagens de dezenas de telas pintadas por Pedro Américo.
 
Entre as mais conhecidas, além de “Independência ou morte”, estão “A Batalha do Avaí” (1872-1877, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro), “Tiradentes supliciado” (1893, no Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora) e “A Batalha do Campo Grande” (1871, no Museu Imperial, em Petrópolis).
 

Quadro 'Independência ou morte' mostra dom Pedro I ao alto empunhando a espada cercado de soldados. Todos estão a cavalo

"Independência ou morte" deu fama ao autor, mas ofuscou os outros talentos de Pedro Américo, diz Thélio Queiroz Farias

Pedro Américo/reprodução

 

O livro traz a linha do tempo que destaca os feitos do autor. A parte biográfica, cronológica, integra a primeira parte da publicação. Na metade final da obra, Farias elenca os vários talentos do biografado por meio de pequenos capítulos: “O orador”, “O escritor” e “O caricaturista”, entre outros tantos.

Farias ainda chama Pedro Américo de o “primeiro popstar brasileiro”.
 
“Quando ele lançou ‘Independência ou morte’ em Florença (a tela foi inteiramente pintada na cidade italiana), na abertura da exposição estavam presentes 18 autoridades, entre reis, príncipes e presidentes. Estava inclusive D. Pedro II, mas ali ele não era tão importante, pois a rainha Vitória também foi.” Nos 18 dias da exposição, ela foi visitada por 100 mil pessoas. O número correspondia à metade da população da cidade na época.

Homens estão com o chapéu para cima e espada para cima na ilustração da capa do livro A extraordinária vida de Pedro Américo

Cepe/reprodução

“ALÉM DO IPIRANGA”

A extraordinária vida de Pedro Américo e suas incríveis facetas


• De Thélio Queiroz Farias
• Editoras Cepe e A União
• 284 páginas
• R$ 90
• À venda no site cepe.com.br