Bailarinos erguem os braços no palco, com fundo vermelho

Grupo teatral de Barbacena, que realizou espetáculos em parceria com o compositor, traz a BH musical com 25 canções dele; ingressos estão esgotados

Ponto de Partida/Divulgação


Barbacena, 1990. O Grupo Ponto de Partida sofre, com milhões de brasileiros, com o confisco da poupança decorrente do malfadado Plano Collor. Mas não arrefece. Naquele ano, período em que celebrava sua primeira década, a companhia consegue estrear, com o apoio do público, “Beco – A ópera do lixo”.

A montagem, que se tornou uma das mais importantes da trupe de músicos e atores mineiros, marcou ainda a estreia da parceria com Fernando Brant (1946-2015), letrista, em “Beco”, das músicas compostas por Gilvan de Oliveira. Nos anos seguintes, compositor e grupo se encontrariam no palco e na vida em outros trabalhos, caso de “Nossa cidade” (1992), “Viva o povo brasileiro” (1996), “Roda que rola” (1999, com os Meninos de Araçuaí).

Com estreia nesta sexta (24/3) e temporada até domingo (26/3) no Teatro Feluma, “Fernando Brant e tudo que a gente sonhou” é um tributo do Ponto de Partida ao compositor e escritor, figura essencial do Clube da Esquina. Com ingressos esgotados, o espetáculo surgiu como um convite da direção da Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma), que fundou e administra o teatro de mesmo nome.

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“O Fernando tinha uma paixão absurda por musicais”, relembra Regina Bertola, diretora e fundadora do Ponto de Partida. Em “Tudo que a gente sonhou”, trecho tirado do primeiro verso da canção “O que foi feito devera” (parceria com Milton, célebre na versão gravada com Elis Regina), Brant está por inteiro.
 
“O espetáculo foi todo construído com as palavras do Fernando, em letras de música ou crônicas. Todas as palavras são dele, mas o texto é nosso, que investigamos como funciona a cabeça de um poeta”, conta Regina.
 
Uma das duas filhas de Brant, Isabel, que administra o legado do compositor, disponibilizou toda a obra para que o Ponto de Partida pudesse trabalhar. “A Bel também foi a Barbacena e tivemos uma longa conversa sobre o pai, sobre a trajetória e as relações dele”, conta Regina.

De acordo com ela, a montagem perpassa toda a temática presente na obra de Brant. “Ele podia (em uma letra) chegar no fundo do poço, mas também dizia que é preciso sonhar, ir atrás da utopia. E tinha uma coisa ligada à infância. O espírito do Fernando está em cena, mas o espetáculo não é naturalista. Expressionista, com certeza.”
 
 

Delicadeza e profundidade

Para Regina Bertola, uma obra como a de Brant, com “vastidão e profundidade”, traz diferentes possibilidades. “E, se estou lidando com a obra de um artista, tenho que ter a delicadeza de uma borboleta. Ao mesmo tempo, coloco todos os meus sentidos em alerta para descobrir o que está em determinado verso.”

O musical, com oito atores e cinco músicos em cena, reúne 25 músicas de Brant. Há desde clássicos obrigatórios, como “Travessia”, “Caxangá”, “Bola de meia, bola de gude” e “Encontros e despedidas” (todos em parceria com Milton Nascimento), até canções feitas para o Ponto de Partida, como “Amanhecer” e “O beco”, ambas com música de Gilvan de Oliveira. 

“FERNANDO BRANT E TUDO QUE A GENTE SONHOU”

• Espetáculo com o grupo Ponto de Partida
• Nesta  sexta (24/3) e sábado (25/3), às 20h, e domingo (26/3), às 19h, no Teatro Feluma, Alameda Ezequiel Dias, 275, Centro
• Ingressos esgotados