Os quatro minutos finais do último capítulo da primeira fase de “Todas as flores”, exibidos no fim do ano passado, deixaram ansiosos os fãs da novela exibida pelo Globoplay. O rosto de Maíra (Sophie Charlotte), a filha com deficiência visual, roubada do pai, que foi assassinado pela mãe, a megera Zoé (Regina Casé), aparece à contraluz.





Pouco antes de entrar na sala de cirurgia, o médico disse a ela que a decisão pela operação poderia mudar totalmente sua vida dela, já que havia chance de ela voltar a enxergar. Música dramática encerra a cena e, na sequência, caem os créditos, para desespero dos fãs, que sofreram em busca de pistas para saber os destinos de Maíra.

A ansiedade do público vai diminuir a partir das 20h desta quarta-feira (5/4), quando o Globoplay libera os cinco primeiros capítulos da nova temporada. No evento de lançamento da novela, uma cena exibida mostrou Maíra com os olhos tapados com curativos e o médico avaliando que as chances de ela recuperar a visão são boas, mas terá que ter ajuda, até conseguir a percepção visual total.

Três meses depois do fim da primeira temporada, parte do elenco do folhetim, o primeiro escrito para o streaming, se reencontrou durante coletiva virtual para jornalistas de todo o país, no mês passado. Atores e atrizes estavam animados.





Se em cena os personagens se engalfinham o tempo todo, o reencontro na tela do computador foi marcado por declarações de admiração.  “Regina (Casé) é a pessoa mais carismática que eu conheço. Ela é incrível com as pessoas”, derreteu-se Fábio Assunção. 

“Eu já sou apaixonada por você”, declarou-se a atriz, que com a Zoé faz sua primeira vilã, na telinha. As vilanias são dignas das maiores personagens más da teledramaturgia. Na primeira temporada, Zoé  não pensa duas vezes antes de internar a filha, que estava grávida, em fazenda de tráfico humano.
 
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Regina Casé: do riso à maldade

Fazer uma vilã sempre foi o desejo de Regina Casé, que, apesar de ter talento suficiente para transitar em todos os gêneros, afirmou que, em alguns momentos, ficou insegura com a personagem. Mas o melhor termômetro para mostrar que estava no caminho certo eram os elogios dos fãs, no Twitter. Acostumada a viver personagens cômicos, Regina reconheceu que, pelas cargas pesadas da personagem, é difícil ser má.  

Sophie Charlotte, a atriz que interpreta a heroína da história escrita por João Emanuel Carneiro, foi o alvo preferido das perguntas. Afinal, todos queriam saber se era verdade que na nova fase a mocinha se vingará de todo mal provocado não apenas por Zoé, mas também por sua irmã e arqui-inimiga Vanessa (Letícia Colin).  E elas não têm a menor noção que Maíra fez uma cirurgia, a que marcou o fim da primeira temporada, muito menos de que foi bem-sucedida, e a nossa heroína volta a enxergar.





A atriz não deu nenhuma pista do que virá pela frente. “É claro que vai ter uma reviravolta, mas só assistindo para saber”, disse ela, sem apontar se Maíra buscará o caminho da justiça ou o da  vingança.
 
Apesar de a novela, dividida em duas temporadas, ter sido gravada no final do ano passado, Sophie não escondeu sua ansiedade com a exibição dos 40 capítulos que encerram a trama. “É interessante guardar esse segredo, lidar com isso”.     

Para ela, de alguma forma, o encaminhamento da trama levou essa sede de vingança ao público. “Toda vez que as pessoas interagem comigo, elas dizem que ela (a Maíra) vai se vingar”, comentou.
 
“Levantamos essas circunstâncias e agora temos que lidar com elas, avançar e resolver essa questão. Foi a construção que determinou isso, não sei se é uma necessidade humana. Até que ponto uma vingança faz sentido e onde a pessoa se perde nessa sede? A justiça e a vingança são coisas diferentes. A nossa segunda temporada vai lidar com os limites entre uma coisa e outra”, diz.




 
 
O trabalho em “Todas as flores” foi, na avaliação de Sophie Charlotte, uma aventura intensa. “A primeira e a segunda temporadas vieram em uma tacada”, comentou. “Só agora começo a entender e dar contornos aos porquês das coisas. Os sofrimentos humanos são tantos e tão intensos que não dá para julgar. Os nossos personagens são complexos nas suas razões, nas suas lógicas.”

“São contraditórios, surpreendentes”, acrescentou Fábio Assunção, que interpreta Humberto, diretor de marketing da Rhodes, loja de luxo masculina, um dos núcleos importantes da história.

Em sua carreira de pouco mais de 30 anos, o ator diz não ter interpretado antes um personagem como o da novela de João Emanuel Carneiro.
 
“O Humberto vai rolando no barranco. As relações dele são comprometidas com uma vida da qual ele não consegue se libertar. Ele não é um vilão clássico, racional. Ele é uma mistura de sentimentos confusos. Ele não faz parte da elite, ele não faz parte de lugar nenhum. Ele vive meio asfixiado dentro desse sistema e mal preparado para administrar todas essas forças.”.  O ator não dá a menor pista sobre o futuro de Humberto.






Mocinha

Mariana Nunes, que interpreta a costureira Judite, a mulher que está sempre ao lado de Maíra, usou o bom humor para escapar da pressão dos jornalistas. Garantiu ter o dom de esquecer as coisas gravadas por ela, por isso, afirma, o  desfecho de sua personagem e da história continuará sendo uma surpresa.

“Eu achava que a Judite era mais mocinha do que é, na verdade, quando eu assisto. Ela traz uma trava interna em relação à paternidade do filho (Pablo, interpretado por Caio Castro), que ela quer proteger do pai, que ela não conta quem é. A gente imagina que a Judite já passou por maus bocados nessa relação. A Judite é extremamente capacitista, mesmo sem intenção. Ela tenta interferir demais. Por maior que seja o afeto, é um comportamento capacitista”, afirma.   

Mariana conta mais. Acredita que Judite tem um comportamento extremamente codependente. “Ela está precisando do problema do outro para estar, de alguma forma, no comando”, observa. “Quando eu assistir o que fizemos será revelador”, assegurou, definindo-se como noveleira. “E todo mundo está perguntando o que vai acontecer, se tudo é mesmo culpa da Zoé.”
 

 

Culpa no cartório, a personagem de Regina Casé tem de sobra. No primeiro capítulo da novela, ela não pensou duas vezes antes de matar seu ex-marido Rivaldo (Chico Diaz), perto da filha cega, que acabara de reencontrar.





A mãe não foi atrás da filha de graça. Maíra era possível doadora de medula compatível para Vanessa (Letícia Colin), que conquistou o panteão das vilãs que o público adora odiar.  

Letícia disse estar adorando fazer a personagem que conquistou o público, que, volta e meia, reclama das vilanias de Vanessa, mas em seguida pede uma foto com a atriz.
 
Letícia também esquivou-se das perguntas sobre a trama. “Estou bem confusa do que foi a primeira temporada e o que foi (gravado) na segunda. Não posso nem falar muito para não dar spoiler”.  

A filha da cascavel

Vanessa também é a primeira personagem malvada que a atriz interpreta em pouco mais de 20 anos de carreira. “Ela é a gênese do mal. Filha de cobra cascavel, cascavelzinha é.” Por isso, torce para que a personagem sofra, por uma questão de  justiça. “Ela precisa ser barrada, alguém precisa segurá-la.  É como em nossa sociedade: a gente quer que as pessoas (como a Vanessa) sejam punidas, recuperadas e reintegradas à sociedade.”

Veterana na TV aberta, Regina Casé confessou estar completamente surpresa com a resposta que veio das ruas com a novela no streaming. Acredita, inclusive, que o assédio dos fãs, hoje, via redes sociais, é muito maior do que no tempo em que os pedidos de autógrafos faziam parte da rotina das celebridades. “Até porque hoje todo mundo tem um celular. Papel e caneta eram mais difíceis.”

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