Na fé cristã, a Sexta-feira da Paixão marca a morte de Cristo no Calvário. “Naquele momento, o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. A terra tremeu, e as rochas se partiram. Os sepulcros se abriram, e os corpos de muitos santos que tinham morrido foram ressuscitados”, escreveu o evangelista Mateus.
A cruz, erguida naquela remota sexta-feira, segue de pé como sinal de salvação e esperança para os cristãos, que, por mais de dois mil anos, procuram renovar a fé ao celebrar a semana santa ao redor do mundo.
Diante de data tão importante, o que as pessoas gostariam de ver – ou rever – no cinema durante este período? Essa foi a pergunta que Vitor Miranda, gerente do Cine Humberto Mauro, se fez ao montar a programação da mostra “Épicos de fé”, que entra em cartaz amanhã, Sexta-feira Santa (7/4), e segue até dia 16 deste mês.
“Pensamos em filmes que, de certa forma, têm um papel na história do cinema ou discutem artisticamente a religiosidade. Trouxemos títulos icônicos que são incontornáveis, como ‘Os dez mandamentos’, de Cecil B. DeMille, e 'Ben-Hur', de William Wyler”, explica.
Desenho animado sobre libertação dos judeus
“Épicos de fé” será aberta com a animação “O príncipe do Egito” (1998), de Brenda Chapman, Steve Hickner e Simon Wells. O desenho conta a história do profeta Moisés, de sua conversão ao judaísmo à liderança na libertação do povo judeu e consequente fuga do Egito.
“É um clássico que marcou muitas pessoas”, observa o gerente do Cine Humberto Mauro. “Vamos fazer duas sessões para que mais gente possa ter a oportunidade de vê-lo no cinema.”
Em seguida, vai passar “A paixão segundo Ouro Preto” (2001), de Cininha de Paula e Rogério Gomes. Adaptação da peça “A rua da amargura – 14 passos lacrimosos sobre a vida de Jesus”, do Grupo Galpão, o filme fez parte de projeto especial da Rede Globo que buscava integrar o teatro brasileiro à televisão.
Por meio de folguedos e tradições do interior mineiro para celebrar o Natal, a trama narra nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus.
Duas versões para o mesmo clássico
Por fim, a Sexta-feira da Paixão termina no Cine Humberto Mauro com a sessão dupla de “O rei dos reis”, filme sobre a vida de Cristo. Serão exibidas as versões do cineasta Cecil B. DeMille, lançada em 1927, e Nicholas Ray, que estreou em 1961.
Vitor Miranda afirma que o objetivo da exibição de diferentes versões da mesma história é mostrar ao público as mudanças do fazer cinematográfico ao longo dos anos. Também ficará evidente como a visão do diretor influencia o resultado final da produção.
No sábado (8/4), haverá a exibição de “Francisco, arauto de Deus” (1950), de Roberto Rossellini, e sessão dupla de “Os dez mandamentos”, de DeMille (versões de 1923 e 1956).
Para o domingo de Páscoa, o Cine Humberto Mauro programou “A paixão de Joana d'Arc” (1928), de Carl Theodor Dreyer, e o clássico “Ben-Hur” (1959), de William Wyler.
“Épicos de fé” segue em cartaz ao longo da próxima semana com filmes que tratam a religiosidade, mas sem se limitarem à perspectiva cristã da fé.
Integram a programação “Tradição no Serro do Frio” (1978), de Schubert Magalhães, sobre a cultura mineira; “O porteiro da noite” (1974), de Liliana Cavani, a respeito da vida de nazistas e judeus após o Holocausto; “Fé e fúria” (2019), de Marcos Pimentel, que aborda a intolerância religiosa; e “A rainha Nzinga chegou” (2019), de Júnia Torres e Isabel Casimira, sobre rito de passagem em que a nova soberana, herdeira da angolana Nzinga, assume o reinado.
Religiosidade pauta o diálogo
Também fazem parte da programação títulos que dialogam com a religiosidade, como “A madona de cedro” (1968), de Carlos Coimbra (disponível apenas no streaming da Fundação Clóvis Salgado); “O sétimo selo” (1957), de Ingmar Bergman; e “A carruagem fantasma” (1921), de Victor Sjöström.
“A gente escolheu filmes de diretores reconhecidos pela cenografia. Estamos fazendo uma coisa interessante: exibir não apenas os clássicos religiosos, mas também filmes que inspiraram esses clássicos”, afirma Miranda.
• Leia também: Documentário 'Fé e fúria' investiga a relação entre tráfico e perseguição por motivos religiosos
“O sétimo selo”, por exemplo, traz diversos questionamentos e reflexões a respeito dos mistérios da vida. Será exibido junto de “A carruagem fantasma”, que acompanha a discussão entre três homens alcoolizados. O trio sustenta o argumento de que se a última pessoa que morrer no ano estiver em estado de pecado, ela será designada a guiar a carruagem que conduz as almas para o mundo dos mortos.
“Falar sobre religião no cinema é muito difícil, pois existem muitos filmes. Foi difícil abrir mão de vários títulos que gostaríamos de exibir. Mas se fossemos colocar todos, a mostra teria que durar o ano inteiro”, brinca Vitor Miranda.
FIQUE DE OLHO
• Na primeira versão de “Os dez mandamentos” (1923), Moisés (Theodore Roberts) conduz os judeus à Terra Prometida. Neste filme mudo em preto e branco, há também dois irmãos, nos EUA, cuja vida é influenciada pelas Escrituras. A versão de 1956, em cinemascope, ressalta avanços tecnológicos da sétima arte. O galã Charlton Heston é Moisés,
herói do Êxodo.
• O documentário “Fé e fúria”, do mineiro Marcos Pimentel, registra o avanço das igrejas evangélicas e conflitos motivados pela religião em favelas e periferias de BH e do Rio de Janeiro. A intolerância influencia a guerra por territórios, discriminando adeptos de religiões afro-brasileiras. Os chamados “traficantes evangélicos” impõem sua lei, processo que modifica até os cultos.
• Disponível on-line, “A madona de cedro”, de Carlos Coimbra, dialoga com a religiosidade de Minas. Como ocorre no romance homônimo de Antônio Callado, um pacato mineiro rouba a imagem de Nossa Senhora esculpida por Aleijadinho. Leonardo Villar, Leila Diniz e Sérgio Cardoso fazem parte do elenco.
PROGRAMAÇÃO
» SEXTA-FEIRA (7/4)
• 14h30 – “O príncipe do Egito” (1998), de Brenda Chapman, Steve Hickner e Simon Wells. Dublado em português
• 16h30 – “A paixão segundo Ouro Preto” (2001), de Cininha de Paula e Rogério Gomes
• 17h15 – “O rei dos reis” (1927), de Cecil B. DeMille
• 20h15 – “O rei dos reis” (1961), de Nicholas Ray
» SÁBADO (8/4)
• 14h – “Francisco, arauto de Deus” (1950), de Roberto Rossellini
• 16h – “Os dez mandamentos” (1923), de Cecil B. DeMille
• 19h – “Os dez mandamentos” (1956), de Cecil B. DeMille
» DOMINGO (9/4)
• 17h30 – “A paixão de Joana d'Arc” (1928), de Carl Theodor Dreyer
• 19h30 – “Ben-Hur” (1959), de William Wyler
» 11 DE ABRIL
• 14h – “A paixão segundo Ouro Preto” (2001), de Cininha de Paula e Rogério Gomes
• 15h – “Os dez mandamentos” (1956), de Cecil B. DeMille
• 19h –“Barrabás” (1961), de Richard Fleischer
» 12 DE ABRIL
• 14h30 – “Sansão e Dalila” (1949), de Cecil B. DeMille
• 17h – “O sinal da cruz” (1932), de Cecil B. DeMille
• 19h30 – “Fé e fúria” (2019), de Marcos Pimentel. Sessão com presença da equipe do filme e do crítico Gabriel Araújo
» 13 DE ABRIL
• 15h – “A carruagem fantasma” (1921), de Victor Sjöström
• 17h – “O sétimo selo” (1957), de Ingmar Bergman
• 19h30 – “Francisco, arauto de Deus” (1950), de Roberto Rossellini
» 14 DE ABRIL
• 14h – Curtas “Tradição no Serro do Frio” (1978), de Schubert Magalhães, e “Sinais de pedra” (1980), de Paulo Augusto Gomes
• 15h – “A paixão de Joana d'Arc” (1928), de Carl Theodor Dreyer
• 17h – “Barrabás” (1961),
de Richard Fleischer
• 19h30 – “O porteiro da noite” (1974),
de Liliana Cavani
» 15 DE ABRIL
• 14h – “Ben-Hur” (1959), de William Wyler
• 18h30 – “O príncipe do Egito” (1998), de Brenda Chapman, Steve Hickner e Simon Wells. Dublado em português
• 20h30 – “Sansão e Dalila” (1949), de Cecil B. DeMille
» 16 DE ABRIL
• 18h – “A rainha Nzinga chegou” (2019), de Júnia Torres e Isabel Casimira
• 19h30 – “O rei dos reis” (1961), de Nicholas Ray
MOSTRA “ÉPICOS DE FÉ”
Desta sexta-feira (7/4) até 16/4, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca. Informações e programação completa no site fcs.mg.gov.br.