Na fé cristã, a Sexta-feira da Paixão marca a morte de Cristo no Calvário. “Naquele momento, o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. A terra tremeu, e as rochas se partiram. Os sepulcros se abriram, e os corpos de muitos santos que tinham morrido foram ressuscitados”, escreveu o evangelista Mateus.





 

A cruz, erguida naquela remota sexta-feira, segue de pé como sinal de salvação e esperança para os cristãos, que, por mais de dois mil anos, procuram renovar a fé ao celebrar a semana santa ao redor do mundo.

 

Diante de data tão importante, o que as pessoas gostariam de ver – ou rever – no cinema durante este período? Essa foi a pergunta que Vitor Miranda, gerente do Cine Humberto Mauro, se fez ao montar a programação da mostra “Épicos de fé”, que entra em cartaz amanhã, Sexta-feira Santa (7/4), e segue até dia 16 deste mês.

 

“Pensamos em filmes que, de certa forma, têm um papel na história do cinema ou discutem artisticamente a religiosidade. Trouxemos títulos icônicos que são incontornáveis, como ‘Os dez mandamentos’, de Cecil B. DeMille, e 'Ben-Hur', de William Wyler”, explica.





 

H.B Warner como Jesus em "O rei dos reis", dirigido por Cecil B. DeMille, que estreou em 1927

(foto: Getty/IMDB)
 

Desenho animado sobre libertação dos judeus

“Épicos de fé” será aberta com a animação “O príncipe do Egito” (1998), de Brenda Chapman, Steve Hickner e Simon Wells. O desenho conta a história do profeta Moisés, de sua conversão ao judaísmo à liderança na libertação do povo judeu e consequente fuga do Egito.

 

'O príncipe do Egito': saga bíblica vira animação

(foto: Dreamworks/reprodução)
 

 

“É um clássico que marcou muitas pessoas”, observa o gerente do Cine Humberto Mauro. “Vamos fazer duas sessões para que mais gente possa ter a oportunidade de vê-lo no cinema.”

 

Em seguida, vai passar “A paixão segundo Ouro Preto” (2001), de Cininha de Paula e Rogério Gomes. Adaptação da peça “A rua da amargura – 14 passos lacrimosos sobre a vida de Jesus”, do Grupo Galpão, o filme fez parte de projeto especial da Rede Globo que buscava integrar o teatro brasileiro à televisão.





 

Por meio de folguedos e tradições do interior mineiro para celebrar o Natal, a trama narra nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus.

Duas versões para o mesmo clássico

Por fim, a Sexta-feira da Paixão termina no Cine Humberto Mauro com a sessão dupla de “O rei dos reis”, filme sobre a vida de Cristo. Serão exibidas as versões do cineasta Cecil B. DeMille, lançada em 1927, e Nicholas Ray, que estreou em 1961.

 

Vitor Miranda afirma que o objetivo da exibição de diferentes versões da mesma história é mostrar ao público as mudanças do fazer cinematográfico ao longo dos anos. Também ficará evidente como a visão do diretor influencia o resultado final da produção.

 

No sábado (8/4), haverá a exibição de “Francisco, arauto de Deus” (1950), de Roberto Rossellini, e sessão dupla de “Os dez mandamentos”, de DeMille (versões de 1923 e 1956).





 

Para o domingo de Páscoa, o Cine Humberto Mauro programou “A paixão de Joana d'Arc” (1928), de Carl Theodor Dreyer, e o clássico “Ben-Hur” (1959), de William Wyler.

 

“Épicos de fé” segue em cartaz ao longo da próxima semana com filmes que tratam a religiosidade, mas sem se limitarem à perspectiva cristã da fé.

 

Integram a programação “Tradição no Serro do Frio” (1978), de Schubert Magalhães, sobre a cultura mineira; “O porteiro da noite” (1974), de Liliana Cavani, a respeito da vida de nazistas e judeus após o Holocausto; “Fé e fúria” (2019), de Marcos Pimentel, que aborda a intolerância religiosa; e “A rainha Nzinga chegou” (2019), de Júnia Torres e Isabel Casimira, sobre rito de passagem em que a nova soberana, herdeira da angolana Nzinga, assume o reinado.

 

Charlton Heston como Moisés em "Os dez mandamentos" (1956), atração de sábado (8/4)

(foto: MGM/Divulgação)

 

Em 1923, Theodore Roberts fez o papel de Moisés no filme mudo "Os dez mandamentos", que será exibido no sábado (8/4)

(foto: Paramount/Divulgação)
 

Religiosidade pauta o diálogo

Também fazem parte da programação títulos que dialogam com a religiosidade, como “A madona de cedro” (1968), de Carlos Coimbra (disponível apenas no streaming da Fundação Clóvis Salgado); “O sétimo selo” (1957), de Ingmar Bergman; e “A carruagem fantasma” (1921), de Victor Sjöström.





 

“A gente escolheu filmes de diretores reconhecidos pela cenografia. Estamos fazendo uma coisa interessante: exibir não apenas os clássicos religiosos, mas também filmes que inspiraram esses clássicos”, afirma Miranda.

 

• Leia também: Documentário 'Fé e fúria' investiga a relação entre tráfico e perseguição por motivos religiosos

 

“O sétimo selo”, por exemplo, traz diversos questionamentos e reflexões a respeito dos mistérios da vida. Será exibido junto de “A carruagem fantasma”, que acompanha a discussão entre três homens alcoolizados. O trio sustenta o argumento de que se a última pessoa que morrer no ano estiver em estado de pecado, ela será designada a guiar a carruagem que conduz as almas para o mundo dos mortos.

 

“Falar sobre religião no cinema é muito difícil, pois existem muitos filmes. Foi difícil abrir mão de vários títulos que gostaríamos de exibir. Mas se fossemos colocar todos, a mostra teria que durar o ano inteiro”, brinca Vitor Miranda.





 

Leonardo Villar e Leila Diniz em "A madona de cedro", filmado em Minas e disponível no site da mostra

(foto: Cinedistri/reprodução)

FIQUE DE OLHO

•  Na primeira versão de “Os dez mandamentos” (1923), Moisés (Theodore Roberts) conduz os judeus à Terra Prometida. Neste filme mudo em preto e branco, há também dois irmãos, nos EUA, cuja vida é influenciada pelas Escrituras. A versão de 1956, em cinemascope, ressalta avanços tecnológicos da sétima arte. O galã Charlton Heston é Moisés, 

 herói do Êxodo.

 

 

 

•  O documentário “Fé e fúria”, do mineiro Marcos Pimentel, registra o avanço das igrejas evangélicas e conflitos motivados pela religião em favelas e periferias de BH e do Rio de Janeiro. A intolerância influencia a guerra por territórios, discriminando adeptos de religiões afro-brasileiras. Os chamados “traficantes evangélicos” impõem sua lei, processo que modifica até os cultos.

 

•  Disponível on-line, “A madona de cedro”, de Carlos Coimbra, dialoga com a religiosidade de Minas. Como ocorre no romance homônimo de Antônio Callado, um pacato mineiro rouba a imagem de Nossa Senhora esculpida por Aleijadinho. Leonardo Villar, Leila Diniz e Sérgio Cardoso fazem parte do elenco.





 

PROGRAMAÇÃO

»  SEXTA-FEIRA (7/4)


• 14h30 – “O príncipe do Egito” (1998), de Brenda Chapman, Steve Hickner e Simon Wells. Dublado em português

• 16h30 – “A paixão segundo Ouro Preto” (2001), de Cininha de Paula e Rogério Gomes

• 17h15 – “O rei dos reis” (1927), de Cecil B. DeMille

• 20h15 – “O rei dos reis” (1961), de Nicholas Ray

 

»  SÁBADO (8/4)


• 14h – “Francisco, arauto de Deus” (1950), de Roberto Rossellini

• 16h – “Os dez mandamentos” (1923), de Cecil B. DeMille

• 19h – “Os dez mandamentos” (1956), de Cecil B. DeMille

 

»  DOMINGO (9/4)


• 17h30 – “A paixão de Joana d'Arc” (1928), de Carl Theodor Dreyer

• 19h30 – “Ben-Hur” (1959), de William Wyler

 

»  11 DE ABRIL


• 14h – “A paixão segundo Ouro Preto” (2001), de Cininha de Paula e Rogério Gomes

• 15h – “Os dez mandamentos” (1956), de Cecil B. DeMille





• 19h –“Barrabás” (1961), de Richard Fleischer

 

»  12 DE ABRIL


• 14h30 – “Sansão e Dalila” (1949), de Cecil B. DeMille

• 17h – “O sinal da cruz” (1932), de Cecil B. DeMille

• 19h30 – “Fé e fúria” (2019), de Marcos Pimentel. Sessão com presença da equipe do filme e do crítico Gabriel Araújo

 

»  13 DE ABRIL


• 15h – “A carruagem fantasma” (1921), de Victor Sjöström

• 17h – “O sétimo selo” (1957), de Ingmar Bergman

• 19h30 – “Francisco, arauto de Deus” (1950), de Roberto Rossellini

 

»  14 DE ABRIL


• 14h – Curtas “Tradição no Serro do Frio” (1978), de Schubert Magalhães, e “Sinais de pedra” (1980), de Paulo Augusto Gomes

• 15h – “A paixão de Joana d'Arc” (1928), de Carl Theodor Dreyer

• 17h – “Barrabás” (1961), 

    de Richard Fleischer

• 19h30 – “O porteiro da noite” (1974), 

    de Liliana Cavani

 

»  15 DE ABRIL


• 14h – “Ben-Hur” (1959), de William Wyler

• 18h30 – “O príncipe do Egito” (1998), de Brenda Chapman, Steve Hickner e Simon Wells. Dublado em português

• 20h30 – “Sansão e Dalila” (1949), de Cecil B. DeMille

 

»  16 DE ABRIL


• 18h – “A rainha Nzinga chegou” (2019), de Júnia Torres e Isabel Casimira

• 19h30 – “O rei dos reis” (1961), de Nicholas Ray


MOSTRA “ÉPICOS DE FÉ”

Desta sexta-feira (7/4) até 16/4, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca. Informações e programação completa no site fcs.mg.gov.br.

 

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