Quando estreou a “Sinfonia em mi menor op. 95” - conhecida também como “Do novo mundo” -, no Carnegie Hall, em Nova York, Antonín Dvorák (1841-1904) teve certeza de que havia composto uma obra-prima. Afinal, no término de cada movimento, o público aplaudia freneticamente, obrigando o compositor a se levantar e se curvar no camarote onde estava.
Parte dessa obra - especificamente o quarto movimento - será apresentada por uma orquestra de violoncelos neste sábado (8/4), às 11h, no MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal. O concerto fecha a programação da 9ª edição do Festival de Violoncelos de Ouro Branco, realizado ao longo da semana na cidade.
O programa é amplo e eclético. Integram o repertório o segundo movimento da sétima sinfonia de Beethoven; “Valsa das flores”, de Tchaikovsky; a canção popular “Ao pé da fogueira”, de Flausino Vale; a moderna "Segunda neo-valsa", de Andersen Viana; e a trilha sonora do filme “Titanic” (1998), composta por James Horner.
“A gente contempla o máximo de estéticas, épocas e estilos diferentes para não restringir o repertório”, afirma o violoncelista e diretor musical do festival, Matias de Oliveira Pinto. “Inclusive, nós temos (no repertório) músicas contemporâneas, porque pensamos que a música deve seguir e que devemos apoiar os novos compositores”, emenda.
Sob a batuta de Kayami Satomi, a orquestra é composta por violoncelistas da Casa de Música de Ouro Branco, projeto que fomenta o aprendizado de música entre crianças e adolescentes, e músicos que participaram do festival. Ao todo, são aproximadamente 35 violoncelistas.
Folclore
As composições que integram o repertório do concerto deste sábado, decerto, não foram feitas para serem executadas exclusivamente por violoncelos. “Ao pé da fogueira”, por exemplo, é um solo de violino com uma levada muito próxima às músicas folclóricas brasileiras.E a própria sinfonia “Do novo mundo” tem em seu quarto movimento um naipe de metais, pratos e fagotes, que dão todo o tom bélico da obra.
Matias, no entanto, transpôs tudo isso para o violoncelo. “São todos arranjos para violoncelo. São sempre adaptações das mais variadas”, afirma.
A pluralidade estética sempre foi uma preocupação do diretor musical. No concerto de encerramento do festival do ano passado, os violoncelistas apresentaram desde “Fantasia concertante para orquestra de violoncelos W549”, de Heitor Villa-Lobos, a “El cant dels Ocels”, canção folclórica catalã.
Até “Wave”, de Tom Jobim, foi apresentada pelos violoncelistas na edição 2022 do evento.
"A gente contempla o máximo de estéticas, épocas e estilos diferentes para não restringir o repertório. Inclusive, nós temos (no repertório) músicas contemporâneas, porque pensamos que a música deve seguir e que devemos apoiar os novos compositores"
Matias de Oliveira Pinto, diretor musical do Festival de Violoncelos de Ouro Branco
América Latina
Criado em 2014, o festival, aos poucos, foi tomando corpo, até se tornar um dos mais importantes eventos de violoncelo da América Latina. Somente nesta edição, participaram músicos de Portugal, Itália, Uruguai, Colômbia, Estônia e Alemanha. Sem contar os brasileiros que atuam fora do país, como o solista da Orquestra de Jerusalém, Isaac Andrade.“A edição deste ano reuniu alguns dos mais importantes nomes do cenário de violoncelo, começando pelo Antonio Meneses, que esteve aqui (no festival) pela primeira vez, e outros grandes celistas, como Hugo Pilger, Kayami Satomi, Fábio Presgrave, Eduardo Swerts e Henry-David Varema”, ressalta Matias.
Antonio Meneses, inclusive, realizou uma masterclass para os músicos participantes do festival e ainda se apresentou junto com Cristian Budu, pianista clássico premiado internacionalmente por interpretações de obras de Frédéric Chopin (1810-1849) e Robert Schumann (1810-1856).
Também foram realizados concertos ao longo da semana com obras de compositores barrocos, clássicos, românticos e contemporâneos, como Vivaldi, Haydn, Fauré, José Bragato, entre outros.
Esperança
“Essa edição foi maravilhosa, principalmente depois da pandemia. Voltamos com essa força toda e veio gente do mundo todo”, afirma Matias.“Fazer uma das melhores edições do festival nos dá uma injeção de ânimo e muita esperança para o futuro, porque o mundo sofreu muito com a pandemia, e voltar com essa energia de fazer coisas lindas, coisas boas e coisas pelos jovens, eu acho que é importantíssimo. E, sem dúvida, essa edição, que foi uma das maiores de todas, deu uma ênfase e uma esperança muito grande com relação ao futuro”, ressalta, lembrando que o festival ficou dois anos suspenso por causa da crise sanitária.
Para registrar o clima de festa, Matias gravou a “Suíte nº 3”, de Bach, na Casa de Ópera de Ouro Preto. “A obra central do violoncelo são as seis suítes de Bach. A ideia era gravar as seis. Só que eu achei que a terceira seria mais festiva, monumental e virtuosa”, comenta.
Confira o vídeo:
Confira o vídeo:
“Bach ilustra muito o que é o violoncelo em Minas Gerais. Essa mistura de música europeia com o Brasil, que é o que a gente faz, né? Minas tem uma tradição de cultura muito grande e casa muito bem (com a música barroca). Esse vídeo, portanto, é para simbolizar isso”, diz.
"Fazer uma das melhores edições do festival nos dá uma injeção de ânimo e muita esperança para o futuro, porque o mundo sofreu muito com a pandemia, e voltar com essa energia de fazer coisas lindas, coisas boas e coisas pelos jovens, eu acho que é importantíssimo"
Matias de Oliveira Pinto, diretor musical do Festival de Violoncelos de Ouro Branco
CONCERTO FINAL DO FESTIVAL DE VIOLONCELOS
Com violoncelistas da Casa de Música de Ouro Branco e músicos que participaram do festival. Neste sábado (8/4), às 11h, no MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal. Praça da Liberdade, 680, Funcionários. Entrada franca. Mais informações pelo Instagram (@casademusicaob) ou pelo telefone (31) 3516-7200.
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