Já virou uma espécie de tradição. Artistas plásticos de todo o país, com menos de 15 anos de carreira, acompanham anualmente a divulgação dos selecionados ao Prêmio Pipa. Na edição deste ano, não foi diferente. Com direito a uma reviravolta ocorrida ao final do anúncio, 15 mineiros estão entre os 73 artistas indicados ao prêmio.





Quando a organização do Pipa começou a divulgar os selecionados, no início deste mês – gradualmente, por meio de boletins publicados no site da premiação –, ficaram faltando três nomes. Entre eles estavam Juliana de Oliveira e Froiid, ambos de Minas Gerais.

Froiid, aliás, havia sido selecionado na edição do ano passado. “Quando não vi meu nome lá, achei que não rolaria a indicação neste ano”, comenta o artista. “Mas depois eles mandaram uma errata com artistas que ficaram faltando”, lembra.

Não é a primeira vez que algo do tipo ocorre com ele. No ano passado, quase ficou de fora do programa de residência artística Bolsa Pampulha por causa da idade. Froiid completaria 36 anos no meio da residência, que tinha como requisito aceitar artistas com, no máximo, 35 anos. Mas, no final, deu tudo certo.




 
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Graduanda em artes visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG e atualmente com a exposição individual “Estar íntimo” em cartaz na Casa Gal, Juliana de Oliveira diz que, ao receber a notícia de sua indicação ao Pipa, não acreditou. “Minha ficha demorou a cair. É um sinal de que o meu caminho está dando certo e de que o meu trabalho está chegando nas pessoas”, afirma.

Detalhe da tela de Juliana de Oliveira que integra a individual 'Estar íntimo', em cartaz na Casa Gal até maio

(foto: Juliana de Oliveira/Divulgação)

Bolhas a serem 'furadas'

Embora comemore o reconhecimento, Juliana diz que há ainda um caminho a ser percorrido no quesito visibilidade de jovens artistas mineiros. “Isso é muito importante para a gente começar a fazer nossa cena aqui, mas ainda existem diversas bolhas a serem furadas. É um processo muito difícil”, afirma.

 

A artista iniciou sua prática no grafite mas, depois de experiências em projetos sociais, migrou para a pintura como principal linguagem de sua produção. Iniciativas públicas como a Arena da Cultura e o Valores de Minas foram fundamentais para Juliana dar os primeiros passos no mundo das artes. 





“Nossa cidade (BH) tem muitos lugares gratuitos para pensar a arte e aprender com ela. Foram esses projetos que me salvaram e me deram uma profissão”, comenta. 

O interesse por cenas corriqueiras é um dos traços marcantes de seu trabalho. Um jogo de truco ou uma conversa no sofá de casa entre amigos são algumas das situações que ela transporta para as telas. 

“As pessoas são elas mesmas quando estão em momentos de conforto. Meu trabalho surge a partir disso, de encontros em ambientes seguros onde você pode ser quem você é, longe de olhares violentos ou de julgamento”, diz. 

Juliana conta que o processo de produção de suas telas sempre tem um ponto de partida em comum: a fotografia. As imagens produzidas por ela se assemelham às reais, mas sempre trazem um toque de composição da artista, através da inserção de novas cores, objetos, acessórios e estampas. 





Trabalhos em fotografia de Barbara Macedo também integraram a coletiva 'Babélica'

(foto: Marcos Vieira /EM/DA Press)

Parâmetros

De acordo com a organização do Pipa, para as indicações, são considerados parâmetros como a produção diferenciada e a relevância do prêmio para melhor desenvolvimento e crescimento do artista, ainda na fase inicial de carreira.

Os 73 artistas selecionados ganham uma página no site do Pipa, uma videoentrevista e presença no catálogo bilíngue da premiação. Os quatro vencedores são escolhidos por um júri formado por pesquisadores de arte e artistas experientes. 

Cada premiado recebe R$ 20 mil, além de participar de uma exposição coletiva no Paço Imperial do Rio de Janeiro e de uma ocupação nos sites e mídias sociais do prêmio, produzindo material desenvolvido exclusivamente para a ocasião.




 
Em paralelo, os 73 selecionados concorrem ao Prêmio Pipa Online 2023, que consiste em votação popular pelo site da premiação. Nessa categoria, os dois mais votados recebem R$ 5 mil cada um.

Uma característica da edição deste ano foi contemplar autores fora do eixo Rio-São Paulo. Entre os selecionados há mais de um artista representando os estados do Pará, Maranhão, Paraná, Distrito Federal, Goiás e Rio Grande do Sul. O segundo estado mais contemplado é Minas Gerais, atrás apenas de São Paulo, com 17 indicados.
 

Detalhe de obra do mineiro Desali

(foto: Rodrigo Ratton/divulgação)
 

Além de Juliana de Oliveira e Froiid, concorrem ao Pipa 2023 os mineiros Alexandre Bianchini, Barbara Macedo, Coletivo Retratistas do Morro (grupo coordenado pelo mineiro Guilherme Cunha), Desali, Edgar Kanayko Xakriabá e Massuelen Cristina, entre outros.

“Minas Gerais tem mostrado, nos últimos anos, um potencial absurdo, uma safra muito boa de artistas. A gente já teve isso no passado, mas acho que, desde os anos 2000, vivemos uma crescente”, avalia Froiid. “Isso envolve tudo. Se você for analisar, o cinema mineiro é muito bem visto, (o longa-metragem) ‘Marte Um’ foi selecionado para o Oscar (como representante brasileiro na disputa por uma vaga na categoria melhor filme internacional). Temos músicos incríveis aqui. A cena do rap mineiro também é bem forte. E a arte contemporânea também está nisso. A seleção (de artistas mineiros) do Pipa mostra bem isso”, conclui.





O resultado do prêmio será divulgado no próximo mês de junho.

MINEIROS SELECIONADOS


» Alexandre Bianchini
» Barbara Macedo
» Coletivo Retratistas do Morro (coordenado por Guilherme Cunha, de Belo Horizonte)
» Desali
» Edgar Kanayko Xakriabá
» Froiid
» Gustavo Nazareno
» Heberth Sobral
» Juliana de Oliveira
» Luana Vitra
» Maria Vaz
» Marília Lyra Bergamo
» Massuelen Cristina
» Mateus Moreira
» Matheus Mestiço 

*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes

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