Instrumentista, arranjador e compositor prolífico, com discografia que soma mais de 40 títulos, Hamilton de Holanda lança, nesta sexta-feira (14/4), seu novo álbum. Batizado “Flying chicken”, o trabalho foi, em boa medida, moldado pela pandemia, a começar pela formação que deu vida às músicas, com teclado e bateria acompanhando o bandolim do artista.
O músico conta que, num dos momentos de relativa abertura durante o período de isolamento social, foi convidado a fazer um show temático em um drive-in. Ele diz que pensou em focar no repertório de Tom Jobim, adaptado para um trio, com o pianista Salomão Soares e o baterista Thiago “Big” Rabello, que também é produtor e já havia exercido essa função na feitura de seu 38º disco de estúdio, “Harmonize”, lançado em 2019.
“Na maioria das coisas que eu faço, seja produzindo disco, concebendo shows ou compondo, estou sempre pensando em alguém, pensando numa formação. Sou muito afetivo, preciso me conectar com as pessoas. Eu já vinha sacando o trabalho do Big como baterista e do Salomão há mais tempo. Fizemos umas lives e deu muito certo. Esse encontro acabou gerando o show do Tom Jobim, com o qual chegamos a viajar para a Europa”, diz.
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Ela explica que, com o trio estabelecido, começou a compor pensando nessa formação e, para completar o repertório de oito músicas de “Flying chicken”, resgatou alguns temas que havia criado durante a pandemia – em 2020, ele compôs 366 músicas, uma para cada dia do ano, como forma de preservar a saúde mental e espiritual naquele contexto epidemiológico.
Faixas endereçadas
A faixa “Paz no mundo”, por exemplo, é dessa safra. No ano passado, com a guerra da Ucrânia, Holanda se lembrou do tema e o rebatizou, como forma de se manifestar diante do conflito. Sobre a faixa-título, ele explica que foi inspirada em seu técnico de som, Ricardo “Frango”, que o acompanha desde a década de 1990.
“A gente sabe que galinhas e frangos não voam, mas o Ricardo, sim. É uma música rapidinha, uma ilustração, quase que de desenho animado, dele correndo atrás, resolvendo as paradas sempre de maneira muito dinâmica”, diz o músico. Ele observa que, muito em razão dessa formação, “Flying chicken” traz elementos novos em sua produção.
Um deles é o fato de as composições recentes terem surgido sob inspiração das fortes emoções desses últimos tempos. Outro elemento diz respeito à sonoridade, com a bateria vigorosa de Thiago “Big” Rabello e o uso de um teclado com muitos timbres – algo raro em sua discografia, só experimentado no primeiro álbum, lançado na segunda metade da década de 1990.
Sonoridade singular
“Conseguimos uma mistura boa com o som acústico do bandolim e o som dos teclados, que são vários, inclusive de piano acústico. Salomão ainda faz uma coisa muito interessante, que é emular o som do baixo com a mão esquerda em um minimoog, um tipo de sintetizador antigo que cumpre muito bem essa função. Acho que a principal singularidade desse disco é essa sonoridade”, aponta.
Apesar de o cenário pandêmico ter pesado direta e indiretamente na conformação de “Flying chicken”, Holanda o entende como um álbum matizado, que evoca diferentes estados de espírito. “Cada música traz uma emoção, um sentimento diferente. Tento o máximo possível transmitir aquilo que estou sentindo no momento da criação ou quando estou gravando”, diz.
Ele ressalta que, quase sempre, esse sentimento é de gratidão e de alegria. “Penso muito na minha família”, diz, destacando, a propósito, que uma das músicas do novo álbum, “Because of our strong love”, foi escrita em homenagem à sua esposa, Cinara de Holanda. “Mas a tristeza de ver as coisas que se passam no mundo também me inspira”, pontua.
Olhar esperançoso
O que prevalece, no entanto, é um olhar esperançoso, “alegre, mas com o pé no chão”, segundo o músico. Ele exemplifica com uma das faixas, “Sol e luz”, feita numa virada de ano. “Ela surgiu naquele momento em que a gente projeta coisas, faz um balanço do ano que passou e imagina como será o próximo. Isso é um pouco a síntese do disco; ele tem algo de recomeço, de reconstrução, de uma forma positiva”, diz.
Antes de dar o pontapé inicial na série de shows de lançamento de “Flying chicken” que pretende fazer Brasil afora, Holanda tem na agenda um giro pela Europa e Oriente Médio, já a partir desta sexta-feira (14/4), ao lado do pianista sul-africano Nduduzo Makhathini, que conheceu durante a pandemia e com quem acaba de voltar de uma série de apresentações pelos Estados Unidos.
“Durante o período de isolamento, a gente fez uns três ou quatro vídeos on-line, cada um de sua casa, e ficou a promessa de que, quando acabasse a pandemia, a gente ia tocar ao mesmo tempo, no mesmo lugar. Ma, a partir de maio, começo a circular com o trio para mostrar esse novo trabalho pelo Brasil e pelo exterior”, diz.
Festival de bandolins
E por falar em compromissos internacionais, no próximo mês de julho Holanda irá participar de um projeto inusitado em Marselha, na França, onde se apresentará acompanhado por 100 bandolinistas de todo o mundo. Ele diz tratar-se de um festival de bandolins, já em sua terceira edição, organizado por um amigo seu, que o convidou.
“No Brasil, o bandolim se tornou popular por sua presença no choro, com Jacob do Bandolim, Luperce Miranda, Joel Nascimento, enfim, uma penca de grandes músicos, mas é um instrumento muito popular também em outras culturas. Foi pensando nisso que esse meu amigo, que organiza um festival dedicado ao bandolim em Marselha, me chamou para essa loucura. Entendo como um reconhecimento do bandolim mundial ao bandolim brasileiro”, diz.
“FLYING CHICKEN”
• Hamilton de Holanda Trio
• Brasilianos/ Sony Music
• Oito faixas
• Disponível a partir desta sexta-feira (14/4) nas principais plataformas de streaming