A família Roy, de "Succession", desperta comparações com algumas das principais dinastias midiáticas do planeta já há algum tempo. Mas o episódio da série, exibido em 2 de abril na HBO, voltou a deixar evidente o parentesco dos personagens com a família de Rupert Murdoch, acionista majoritário e CEO da News Corp, um dos principais grupos midiáticos.
Boa parte da trama do segundo episódio da quarta e última temporada, afinal, é dedicada à ATN, braço de notícias da Waystar Royco, que mantém algumas semelhanças com a Fox News, que tem Murdoch como atual presidente executivo.
No capítulo, batizado de "Rehearsal", ou ensaio, o todo-poderoso Logan, vivido por Brian Cox, busca recuperar a força da Waystar após ver a compra da rival PGM ser frustrada pelos filhos, enquanto luta para manter a venda do próprio negócio em movimento. O episódio começa com o magnata visitando a emissora, dando um discurso efusivo para animar os funcionários.
AMANTE
O momento mais inusitado, porém, é quando Logan pede aos líderes da divisão que coloquem sua assistente, Kerry, para apresentar um dos noticiários do canal.
No entendimento do CEO, a personagem interpretada por Zoë Winters seria mais chamativa ao público do jornal, mesmo que ela não tenha qualquer experiência no ramo. Ela também é insinuada como atual amante do bilionário desde meados da terceira temporada, embora a série não confirme.
Os líderes, submissos às vontades de Logan, acatam a ordem, e a situação logo escalona para o desastre. O vídeo de Kerry apresentando o jornal, no qual apresenta as tragédias com um sorriso no rosto, vira motivo de piada entre diversos núcleos de personagens, de diretores da Waystar aos filhos de Logan. A certa altura, sobra a Greg, papel de Nicholas Braun, a difícil tarefa de dispensar a assistente da emissora.
ASSÉDIO
Embora a história não tenha paralelo direto com a realidade, o episódio pega emprestado alguns elementos que ficaram conhecidos na Fox News nos últimos anos. A imposição de apresentadoras por ordem da liderança em especial, ainda que Murdoch nunca tenha sido apontado oficialmente como padrinho de qualquer âncora do jornal.
Essa prática, no caso, era mais ligada a Roger Ailes, presidente do canal entre 1996 e 2016. O executivo, primeiro a assumir o cargo, renunciou depois de uma série de mulheres do canal o denunciarem por assédio sexual, incluindo apresentadoras importantes do canal como Megyn Kelly e Gretchen Carlson.
Ailes favorecia vítimas depois dos episódios de abuso e, se as vítimas denunciassem os crimes, como no caso da apresentadora Andrea Tantaros, ele as derrubava do cargo.
Enquanto a história de Kerry, pela relação íntima com Logan, traz ecos desse comportamento no episódio, "Succession" também brinca com a imagem da Fox News no maior envolvimento do CEO com o braço de notícias.
FAKE NEWS
O histórico do envolvimento profundo de Rupert Murdoch com os pormenores do canal é famoso. O caso mais recente é de janeiro deste ano, quando, durante depoimento para um processo de difamação, o magnata admitiu ter conhecimento, mas não ter agido para barrar os apresentadores da Fox News que apoiavam a campanha de reeleição de Donald Trump.
Os jornalistas são acusados de terem espalhado desinformação no período eleitoral e durante os telejornais que apresentavam, sempre favorecendo o então presidente dos Estados Unidos.
Não é apenas na quarta temporada que "Succession" brincou com o imaginário em torno dos Murdoch a partir da família Roy. Os dois líderes têm filhos de dois casamentos, com o filho do primeiro matrimônio – Prudence nos Murdoch, Connor Roy na série – demonstrando pouco interesse pelos negócios familiares.
HERDEIROS E PODER
Já o herdeiro mais velho do segundo casamento de ambos, Lachlan Murdoch e Kendall Roy, é o que chegou mais perto de assumir os negócios na ausência do pai. As divisões de notícias, enquanto isso, são pilares de grandes escândalos políticos e trabalhistas.
Além disso, a própria premissa da série iguala os pormenores da News Corp. Tanto Logan quanto Rupert Murdoch começaram do zero seus respectivos impérios de mídia, mirando passar o bastão para os filhos quando se aposentassem. Até o momento, porém, ambos seguem agarrados ao poder, sem definir um sucessor. (Folhapress)
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