Cinquenta mil pessoas na Esplanada do Mineirão no primeiro grande festival de música (e até hoje o maior) na Belo Horizonte do pós-pandemia. O Breve de 2022, um ano atrás, foi uma grande festa, com uma mistura interessante. Atrações históricas e incontestes (Ney Matogrosso, Gal Costa, O Grande Encontro, Racionais) em meio a nomes quentes da produção contemporânea (Ludmilla, Gloria Groove, Duda Beat).
Grande demais, talvez. Filas enormes para entrar, desorganização, shows em horários conflitantes, um cartão para consumo de R$ 7 só para começar a ser usado… Choveram reclamações no final do evento, seguidas de um mea culpa da organização, via redes sociais: “Reconhecemos que houve falhas e queremos nos desculpar por isso”.
A quarta edição do Breve, prevista para o próximo sábado (22/4), no Mineirão, promete reparar os erros da anterior. Mas será também uma versão de acordo com a realidade não só brasileira, como belo-horizontina, passado um ano da euforia com o fim da crise sanitária.
O conceito é o mesmo: música relevante de ontem (Alcione, Alceu Valença, Planet Hemp) e de hoje (Liniker, Luedji Luna, João Gomes e Ludmilla, mais uma vez). De quebra, uma atração internacional, a cantora britânica Joss Stone.
Leia também: Público critica mudanças em formato e line-up do Festival Breve
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O formato, no entanto, é outro. No início deste mês, a três semanas do festival, a organização anunciou mudanças significativas. Em vez da Esplanada, o evento será realizado no gramado do Mineirão. Os dois palcos se tornaram apenas um, aumentando o tempo de realização do festival, que deve terminar no final da madrugada de domingo. Com isto, seis atrações foram canceladas. Algumas, vale dizer, por pedidos dos próprios artistas – caso de Gui Boratto e Matuê.
Custo e logística foram os responsáveis pela mudança, atesta Guilherme Rabelo, da Box Entretenimento, realizadora do festival. “Este ano, os custos superaram em 80% o do Breve do ano passado. Acredito que Belo Horizonte vai ter uma diminuição da quantidade de eventos neste ano, pois está ficando inviável”, afirma.
Segundo ele, “a pandemia trouxe o ‘efeito champagne’, com uma demanda maior do que o normal. Isto já se estabilizou no Brasil inteiro. E estamos vivendo uma crise pesada, as pessoas estão cada vez mais sem dinheiro. Para o produtor, está cada vez mais difícil”.
Eventos de grande porte necessitam de patrocinadores. As cotas estão divididas entre Jameson, Beefeater, Red Bull, Deezer e Ingresse. Mesmo assim, a conta não fecha.
“Patrocínio para BH é muito difícil. E isto não é só para mim, mas para todos. As empresas têm direcionado os patrocínios para São Paulo, que tem dezenas de eventos, muitos deles internacionais. Não vendemos todas as cotas. E BH nunca viveu uma fase de patrocínio que realmente faça a diferença, como no Rio e em São Paulo. A bilheteria, aqui, sempre foi o principal”, diz Rabelo.
Para tentar diminuir os custos, o evento terá um público menor do que no ano passado. Com a mudança para o gramado, o festival vai utilizar o mesmo palco da banda Kiss, que fará show no local nesta quinta-feira (20/4). Desta forma, os custos serão divididos com a produtora responsável pela vinda da banda americana.
“Quando fizemos as mudanças, pensamos em maneiras de trazer novidades para o público. Por isso criamos encontros, shows especiais (João Gomes com Don L e Gilsons, Black Alien e FBC, Ludmilla com Tasha e Tracie).” Com um evento mais extenso em tempo de duração, e um só palco (além do eletrônico, no G2 do estádio), não haverá mais conflito de horários de shows.
Rabelo confirma mudanças também de logística. Haverá duas entradas para a pista comum e o cartão de consumo foi abolido. A venda de bebidas e lanches será feita da forma convencional, com fichas. Todas as pessoas receberão um copo ao entrar no estádio.
Na edição de 2022, diz o organizador, 54% do público não era de BH. Tal porcentagem deve se manter neste ano. Há duas semanas o festival anunciou um “esquenta”, o Breve Rolê, nesta sexta (21/4), n’A Autêntica – o rapper Don La é a principal atração da festa-baile. “Como o Breve tem um público grande de fora, e estaremos no feriado, foi uma forma de criar uma atração a mais para quem vier para a cidade”, comenta.
BREVE FESTIVAL
Neste sábado (22/4), das 14h às 5h, no Mineirão, Avenida Antônio Abrahão Caram, 1.001, Pampulha. Pista: a partir de R$ 170 (mais taxas); Pista lounge: R$ 490 (mais taxas). À venda no ingresse.com/brevefestival. No dia do evento, haverá bilheteria no Mineirão.
“Palco para mim é vitamina e saúde”
Seu público sempre foi jovem, cada qual a seu tempo. Aos 76 anos, Alceu Valença está pronto para o que der e vier. Vai fazer no Breve o show “Alceu dispor”, que reúne grandes sucessos – “Anunciação”, “Tropicana”, “Coração bobo”, “Girassol”, “Belle de jour”, entre vários outros.
O trocadilho que virou título do show nasceu de um meme que viralizou nas redes sociais, virou figurinha de aplicativo de mensagens e ilustração em camiseta.
“Meu público se renova a todo tempo. Neste ano, já fiz oito festivais. A média de idade é 17 a 25 anos, mas tudo depende do local. Neste show, que é grande, aberto, só toco músicas mais fortes. Quando estou em teatro, posso até tocar sozinho com violão”, comenta ele.
Em 2022, Alceu completou 50 anos do lançamento de seu álbum de estreia, o psicodélico “Quadrafônico”, que dividiu com o também estreante em discos Geraldo Azevedo. Com tanto tempo de estrada, e lançamentos constantes, não pensa em se aposentar. “Quando aposentam, as pessoas ficam velhas logo, pois ficam sem nada para fazer. Palco para mim é vitamina e saúde.”
Três perguntas para Marcelo D2, vocalista do Planet Hemp
O novo álbum “Jardineiros”, saiu em outubro. Depois de mais de 20 anos, voltar a gravar um disco do Planet, já na maturidade, fez toda a diferença?
Talvez a nossa relutância em fazer um disco fosse por conta disto: a gente não queria abalar a estrutura da amizade. A nossa prioridade sempre foi continuar a amizade, não gravar um disco, pois você tem que pisar em ovos quando faz.
Demoramos tanto a juntar todo mundo porque você tem que ceder muito quando grava. Um tem uma ideia; o outro, outra. Isto, para pessoas que têm um perfil ativo e dominante como eu, o BNegão... Dividir é uma arte, mas a gente passou por isto muito bem, ao contrário do que imaginávamos.
Demoramos tanto a juntar todo mundo porque você tem que ceder muito quando grava. Um tem uma ideia; o outro, outra. Isto, para pessoas que têm um perfil ativo e dominante como eu, o BNegão... Dividir é uma arte, mas a gente passou por isto muito bem, ao contrário do que imaginávamos.
O Planet nasceu nos anos 1990 como uma banda monotemática. Trinta anos depois, o mundo é outro, a maconha continua sendo um tema, mas não o único. Como ser relevante passado tanto tempo?
São dois pontos aqui. A questão da maconha nunca foi aquele papo de “vamos fumar”. Sempre teve uma questão social grande. No começo, éramos jovens num Rio de Janeiro violento pra caralho. A violência, por conta disto, trazia um embate muito entre aspas.
Na verdade, era um combate ao povo. Outro ponto, que é triste também, é que as pessoas mudaram, mas os problemas que existiam em 1995, quando lançamos o primeiro disco, ainda estão muito evidentes.
A maconha teve um avanço tecnológico, científico no mundo inteiro, mas aqui ainda é usada ideologicamente para alimentar um conservadorismo radical. Amo samba, coxinha de frango, pastel de carne: sou um cara que gosta das tradições. Mas o que está ruim tem que mudar.
Na verdade, era um combate ao povo. Outro ponto, que é triste também, é que as pessoas mudaram, mas os problemas que existiam em 1995, quando lançamos o primeiro disco, ainda estão muito evidentes.
A maconha teve um avanço tecnológico, científico no mundo inteiro, mas aqui ainda é usada ideologicamente para alimentar um conservadorismo radical. Amo samba, coxinha de frango, pastel de carne: sou um cara que gosta das tradições. Mas o que está ruim tem que mudar.
São 30 anos de banda, vocês já passaram dos 50, mas continuam fazendo um show com muita intensidade. É mais difícil tocar hoje do que no passado?
No palco, parece que temos 20 e poucos anos, não muda nada. Talvez, quando eu saia dele, sinta as dores no joelho. É impressionante a energia no show quando estou cantando. A gente está tocando mais da metade do disco novo e algumas dos outros.
É um dilema fazer setlist para festival, em que você toca 1h, 1h20. Mas gosto muito de show curto, tanto de ir quanto de fazer. É mais interessante, menos cansativo. Geralmente, a gente escolhe o setlist no camarim. Como esse festival é mais pop, vamos fazer diferente. Devemos tocar músicas mais porrada, hardcore.
É um dilema fazer setlist para festival, em que você toca 1h, 1h20. Mas gosto muito de show curto, tanto de ir quanto de fazer. É mais interessante, menos cansativo. Geralmente, a gente escolhe o setlist no camarim. Como esse festival é mais pop, vamos fazer diferente. Devemos tocar músicas mais porrada, hardcore.
LINE-UP
Confira as atrações do festival*
» Palco Breve (gramado)
• 15h - Luedji Luna
• 16h20 - Péricles
• 17h40 - Alceu Valença
• 19h - Liniker
• 20h20 - Black Alien convida FBC
• 21h40 - Alcione
• 23h10 - Joss Stone
• 0h45 - João Gomes convida Don L
e Gilsons
• 2h15 - Ludmilla convida Tasha e Tracie
• 4h - Planet Hemp
» Palco Breve Club (G2)
• 17h - João Nogueira e Pedro Pedro
• 19h - Davis
• 20h30 - Anotr
• 22h - Dixon
• 0h - Gheist
• 1h30 - Tiga
• 3h30 - Giorgia Angiuli
*horários sujeitos a alterações
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