Jardim de Tanka, obra de Adriana Versiani, tem garrafa verde de onde saem folhas feitas de papel e origamis de flores

'Jardim de Tanka', garrafa poética de Adriana Versiani

Adriana Versiani/reprodução

Os artistas visuais Adriana Versiani e Mário Alex Rosa se conheceram há 20 anos , o que chamam de “um acaso do destino”. Mário, que é historiador e doutor em literatura brasileira, havia acabado de se mudar de sua cidade natal, São João del-Rei, para Belo Horizonte. O professor estava conversando com o poeta Adriano Menezes (1965-2020) em um ônibus quando Adriana abordou os dois e entrou na conversa.

A partir deste encontro, eles se tornaram amigos. Formaram, então, o Coletivo DIDOIS. Adriana e Mário inauguram, nesta quinta-feira (20/4), a exposição “Bastidores e as histórias que nos contam as garrafas”, no Centro Cultural UFMG. A mostra reúne objetos que propõem diálogos entre produções de diferentes suportes, fazendo do uso da palavra como principal eixo de partida .

Os dois trabalham a escrita como uma forma de experimentação. Adriana coloca seus textos dentro de garrafas com materiais reciclados, enquanto Mário cria poemas visuais bordados, seguindo a antiga tradição das bordadeiras.
 
“Os nossos trabalhos são feitos com muito cuidado, eles possuem uma delicadeza tanto na montagem quanto na escolha das palavras. Somos dois artistas muito voltados para o fazer poético”, afirma Mário Alex Rosa.
 
Jogo das letras, objeto criado pelo artista Mario Alex Rosa, tem bordado em que dentro de um jogo da velhas apalavra poe está escrita tres vezes

'Jogo das letras', bordado-objeto de Mario Alex Rosa

Mario Alex Rosa/reprodução
 

Histórias nas garrafas

Adriana Versiani é escritora e artista plástica. Ela conta que sempre experimentou diversos formatos de produção de arte, e que os textos nas garrafas começaram como algo mais simples. Eles eram enviados apenas para amigos e pessoas próximas, até que, com a chegada da pandemia, ela decidiu se aprofundar neste trabalho.

Cada garrafa feita pela artista conta uma história, seja através de poemas ou de pequenos textos. A parte plástica também é construída com objetos que participam da narrativa e os títulos das obras dão pistas sobre o acontecimento que gerou aquele objeto. 

Assim, tudo o que compõe as obras conta um pedaço de história. Em um trabalho intimista, cada uma das garrafas guarda mistérios e cabe ao público reunir os vestígios do que aconteceu para desvendar os seus sentidos.

Através dos bordados, Mário Alex Rosa explora as palavras e elementos corriqueiros do dia a dia em busca de novos sentidos. A poesia e a escrita passaram a fazer parte da vida do artista após a perda de sua mãe. Ele relembra que, como forma de enfrentar o sofrimento, foi até uma biblioteca onde leu uma antologia de poemas de Manuel Bandeira.

“Depois disso, vieram muitas outras perdas, então a minha escrita tem muito a ver com o que eu perco”, diz Mário. 

O mestre e doutor em literatura brasileira destaca a influência de Drummond , João Cabral de Melo Neto e Armando de Freitas Filho em seu trabalho.

Adriana Versiani e Mário Alex Rosa são artistas que se conectam pela interseção entre as artes visuais e a literatura.

“Essa é a nossa primeira exposição coletiva, somos duas pessoas que se conhecem bem e temos gostos muito parecidos”, diz Mario Alex. “Embora o nosso trabalho seja bem diferenciado na fatura, nós temos algo muito comum, que é o apreço e a busca pela linguagem escrita. É nesse sentido que nossas obras se encontram bastante”, afirma o artista mineiro.
 

Fazer coletivo

A dupla de amigos vê o fazer artístico como algo que vai para além do artista. Por isso, ao manipular elementos cotidianos, Adriana e Mário colocam nas mãos do espectador a possibilidade de criação de novos sentidos para as obras.

“O meu conceito é menos importante do que o que as pessoas vão descobrir quando chegarem lá. Quem se depara com uma obra faz a sua história e vê sentido subjetivo naquilo. Por isso, tanto nas histórias que o Mário conta como nas histórias que eu conto, existe uma grande interação com o público”, afirma Adriana.

A artista completa: “São muitas pessoas envolvidas nesse processo e a gente acredita que o coletivo nos impulsiona muito, é o que nos dá força. Sempre estivemos com outras pessoas em tudo que já fizemos. Não fazemos nada sozinhos, e, inclusive nossa evolução como artistas depende dessa colaboração com diversas pessoas.

Experimentação

Para Adriana e Mário, a função da arte é tocar as pessoas em pontos sensíveis sem que elas saibam disso. Para isso, os artistas trazem para a exposição diversos exercícios de manipulação com as palavras.

Entre eles, estão uma vídeo-instalação no qual duas artistas recitam vários poemas, dando origem a uma nova história e uma caixa de correio com um poema iniciado em que o público poderá finalizá-lo através da operação do seu próprio jogo de palavras.

“BASTIDORES E AS HISTÓRIAS QUE NOS CONTAM AS GARRAFAS”

Exposição de de Adriana Versiani e Mário Alex Rosa. Abertura nesta quinta-feira (20/4), às 19h, no espaço Experimentação da Imagem, do Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174 – Centro). Visitação até 28 de maio, de terça a sexta, das 9h às 20h; e aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h. Entrada franca.

*Estagiária sob a supervisão  da subeditora Tetê Monteiro