A exposição “Mariana em quadrões”, projeto do artista plástico Camaleão em parceria com o professor Cristiano Casimiro, reúne 15 obras que ilustram, de maneira lúdica e bem-humorada, momentos que marcaram a trajetória da primeira capital de Minas Gerais.
O ilustrador se inspirou nos estudos do professor, que pesquisa a história marianense e a memória oral da cidade. Idealizado em 2010, o projeto tem duas partes e 30 peças. Só a segunda está exposta na galeria da Assembleia Legislativa, em Belo Horizonte, dando cor e forma a causos contados de geração para geração.
Relatos de moradores
Para criar “Mariana em quadrões 1”, a dupla se baseou em estudos e lembranças para voltar ao século 18. “Contamos com relatos de pais e filhos que vivem na cidade. A estrutura histórica já estava pronta, o que nos ajudou na ambientação”, afirma Camaleão.“Há um viés que é muito importante”, destaca Cristiano Casimiro. “Temos arquivos da Casa de Câmara e Cadeia, que é de 1711; da Arquidiocese de Mariana, de 1760; e da Casa Setecentista, de 1810. Então, muitas ações da época estão preservadas”, diz ele.
A obra se inicia com o registro de 16 de julho de 1696, quando se descobriu ouro às margens do Ribeirão Nossa Senhora do Carmo. Surgiu assim o primeiro arraial do território da futura Minas Gerais. A primeira parte segue até 1914, com a inauguração da linha ferroviária em Mariana.
Por meio da linguagem dos quadrinhos, Camaleão busca prender a atenção do público. Ele trabalha o pertencimento e a educação patrimonial, destacando a cultura popular da cidade histórica mineira.
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Uma das principais ilustrações da primeira parte do projeto é “Áureo Trono Episcopal”, que representa o desembarque por lá do primeiro bispo de Mariana, dom Frei Manuel da Cruz, em 1748. “Como foi essa chegada? Sabemos que houve uma grande festa, havia relatos escritos, mas não havia imagens”, afirma Cristino Casimiro.
Frei Manuel da Cruz, que morava em São Luís do Maranhão, optou por viajar por terra. Demorou um ano e seis meses para chegar a Mariana. Foi recebido com uma das maiores celebrações católicas da Minas Colonial: o Áureo Trono Episcopal, que ocorreu em 1748 e comemorou a criação do bispado de Mariana pelo papa Bento XIV, em 1745.
Com toques de modernidade, a série “Mariana em quadrões 2” traz pinturas digitais impressas em telas. Os 15 quadros são apresentados ao público pela primeira vez na galeria da Assembleia Legislativa.
A mostra exibe personalidades que ajudaram a moldar a história de Mariana desde o século 18. O português José Pereira de Arouca, nascido por volta de 1731, por exemplo, foi o mestre de obras responsável pela construção de importantes prédios setecentistas da região.
Vice marianense não tomou posse
Marianense de destaque na história de Minas no século 20, Pedro Aleixo (1901-1975), advogado, político e jornalista, foi o vice-presidente civil impedido de tomar posse pela Junta Militar quando o titular, marechal Costa e Silva, adoeceu em 1969. Aleixo foi também um dos fundadores do Estado de Minas.Com detalhes minimamente pensados, Camaleão apresenta trabalhos cheios de informações e metáforas associadas aos personagens. “Em todos os quadros temos um animal. Arouca, o português que construiu 300 prédios em Mariana, Ouro Preto e outros lugares, tem em seu escritório um joão-de-barro escondido. Pedro Aleixo era chamado de raposa política, então no sofá dele tem uma raposa deitada”, conta o ilustrador.
Curiosidades descobertas durante as pesquisas chamam a atenção. A palavra “Geca”, no quadro dedicado a Arouca, é uma delas.
“Geca com g é o Gabinete de Engenharia Civil de Arouca. Este prédio continua de pé na cidade de Arouca, em Portugal. É divertido, porque jeca, para nós, mineiros, tem outro significado”, diz o professor Cristiano Casimiro.
Há momentos históricos – inusitados – retratados na exposição. A primeira foto de Mariana foi feita por Dom Pedro II, que protagonizou cenas pitorescas na cidade.
“Em seu diário, ele relata sua visita a Minas Gerais na Semana Santa. No dia 17 de abril de 1881, às cinco da manhã, decidiu tomar banho na Fonte da Samaritana, nos jardins do Palácio dos Bispos”, conta Casimiro.
Camaleão e Casimiro dizem que “Mariana em quadrões” pretende ativar a imaginação coletiva e divulgar momentos importantes relativos à formação de Minas Gerais e do Brasil.
Da revista MAD aos discos do Skank
Emerson “Camaleão” é de Volta Redonda, no Rio de Janeiro – o único da família que, até então, não havia nascido em Minas Gerais. Aos 18 anos, voltou para Mariana levando várias do cartoon. Encantou-se com a riqueza cultural daquela região interiorana e tomou contato com a arte acadêmica.Camaleão diz que sua Mariana é diferente daquela de quem sempre viveu lá. Isso foi um diferencial no momento de detalhar os ambientes nos quadros.
Na juventude, ele foi desenhista da revista MAD. Ilustrou capas de álbuns do Skank e livros didáticos, além de revistas da Editora Abril.
A exposição deste ano é marcante para ele. “Tenho um carinho especial por essas obras. Queria fazer um trabalho para que as pessoas, inclusive as crianças, daqui a 10 anos, consigam conhecer mais sobre a história tão importante desta cidade e do estado”, afirma.
“MARIANA EM QUADRÕES”
Exposição de Camaleão e Cristiano Casimiro. Galeria de Assembleia Legislativa de Minas Gerais (Rua Rodrigues Caldas, 30, Santo Agostinho). Aberta de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Até 5 de maio. Entrada franca.
*Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria
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