Na ficção, o escândalo de Watergate foi abordado por meio de diferentes vozes. Da imprensa ("Todos os homens do presidente", 1976, e "The Post: A guerra secreta", 2017); de seu grande vilão, o ex-presidente Richard Nixon ("Nixon", 1995, e "Frost/Nixon", 2008); do "Garganta profunda", o responsável por entregar tudo ("Mark Felt: O homem que derrubou a Casa Branca", 2017); de políticos menores ("Gaslit", 2022).
"Os encanadores da Casa Branca", minissérie em cinco episódios que a HBO lança na próxima segunda (1º/5), conta a história ocorrida 51 anos atrás pela perspectiva do baixo clero.
Encanadores foi o nome dado a uma unidade secreta da Casa Branca formada em junho de 1971 para tentar conter o vazamento de informações sigilosas, como os "Pentagon Papers", estudo secreto sobre a Guerra do Vietnã que ajudou a mudar o curso da ação americana ao chegar à imprensa.
Campanha
Um ano mais tarde, já durante a campanha de reeleição de Nixon, parte deste grupo participou da invasão do edifício Watergate para colocar escutas na sede do Comitê Democrata. O grupo, nesta época, era comandado por E. Howard Hunt, ex-agente da CIA, e G. Gordon Liddy, ex-agente do FBI.Os dois são interpretados, respectivamente, por Woody Harrelson e Justin Theroux. O tom da série, assinada por David Mandel (de "Veep"), é irônico. Mas nem por isso deixa de mostrar o que aconteceu – e isso é o mais surpreendente, dada a insensatez e a inabilidade do grupo.
Hunt (Harrelson) é um entediado homem de meia-idade, escritor de romances de quinta (devidamente datilografados pela mulher, interpretada por Lena Headey) que finalmente sai dos porões e volta à ativa. Ele se acha um grande espião e logo se reúne com Liddy (Theroux). Não demora a descobrir que o colega é um fanático maluco, que passa suas horas ouvindo, na maior altura, antigos discursos de Hitler.
O pequeno poder sobe à cabeça dos dois, que logo contratam um grupo de exilados cubanos para se juntar aos "Encanadores". Estes homens participaram da malfadada Invasão da Baía dos Porcos (1961), tentativa da CIA de derrubar Fidel Castro. Olhando agora, passado meio século, não havia como dar certo, dada a inépcia dos envolvidos – só para se ter uma ideia, foram quatro tentativas de invadir Watergate.
Cubanos no elenco
Quatro atores cubanos radicados nos EUA foram convocados para interpretar seus conterrâneos. O mais conhecido deles é Tony Plana, que vive Rolando Martínez, conhecido pelo apelido de Musculito. "Geralmente, como atores cubanos, somos lobos solitários em outras produções. Foi divertido podermos trabalhar os quatro juntos nesta mistura de sátira com elementos históricos. Fomos inclusive encorajados a fazer quase que comédia física", diz ele.
Para Yul Vazquez, que interpreta Bernard "Macho" Barker, Watergate ainda suscita interesse por algumas razões. "Foi um divisor de águas na política americana, já que, pela primeira vez, um presidente renunciou. Contudo, se olharmos para os EUA agora, Watergate parece uma quinceañera (nome da tradicional festa de debutante para meninas latinas). Agora, em vários aspectos, a invasão é uma história de espiões, e as pessoas adoram. Hunt foi um espião, Liddy queria ser um, e os cubanos eram ativos da CIA."
Há boa documentação sobre o grupo de cubanos. Mas, para Vazquez, mais do que ler sobre Macho, interpretar o personagem foi uma maneira de prestar contas ao passado de sua família. "Tive um tio que participou da Baía dos Porcos. Para os cubanos daquela época, não era necessário muito para participar: 'anticastro, anticomunista? Onde eu assino?'."
Tony Plana acredita que as trapalhadas do grupo não podiam ser evitadas. "Não podia dar certo com líderes como Liddy e Hunt. Os cubanos aprenderam a ser soldados, não questionavam autoridade. Os caras nunca treinaram como os agentes que entram para a CIA. Era tudo na base do improviso, da falsa de disciplina e do entusiasmo fanático."
“OS ENCANADORES DA CASA BRANCA”
• A minissérie com cinco episódios estreia na próxima segunda-feira (1º/5), às 22h, na HBO e na HBO Max. Novos episódios às segundas.